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"Sem 'abusar' da comida e sexo, não vale a pena viver muito"

Título original: 100%

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Atenção, pecadores e viciados em sexo, comida, bebida, dinheiro e poder: vocês estão ultrapassados. Há uma nova ganância no ar: a mania de qualidade de vida e saúde total. Esta ganância é o que o jornal "Le Monde Diplomatique" já chamava de "la grande santé" ("a grande saúde") nos anos 90. A mania de ter a saúde como fim último da vida.

Acho isso antes de tudo brega, mas há consequências mais sérias que um simples juízo estético para esta nova forma de ganância. Consequências morais, políticas e jurídicas: o controle científico da vida.

Agora esses fanáticos estão a ponto de demonizar o açúcar, a gordura e o sódio. Querem fotos de gente morrendo de diabetes no saco de açúcar ou de ataque cardíaco nas churrascarias. O clero fascista da saúde não para de botar para fora sua alma azeda.

Mas, como assim, ganância? Sim, esta ganância significa o seguinte: quero tirar do meu corpo o máximo que ele pode me dar. Inevitavelmente fico com cara de monstro narcisista quando dedico minha vida à saúde total. Sempre sinto um certo ar de ridículo nesses pais que obrigam seus filhos a comer apenas rúcula com pepinos e cenoura desde a infância.

Suspeito que os "purinhos", no fundo, se deliciam quando veem fumantes morrerem de câncer ou carnívoros morrerem do coração. Sentem-se protegidos da morte porque vivem como "pombinhos da saúde". São medrosos. A vida é desperdício, e ganancioso não gosta disso.

No caso da morte, probabilidade é como gravidade: 100% de certeza. Logo, a luta contra a morte é uma batalha perdida, nunca uma vitória definitiva.

Se você não morrer de acidentes (carro, avião, atropelamentos, assaltos, homicídios) ou de epidemias (tipo pestes) ou por endemias (tipo doença de chagas), ou de doença metabólica (tipo diabetes) ou de doenças cardiovasculares (tipo AVC ou acidente cardiovascular e ataque cardíaco), você sempre morrerá de câncer.

Claro, ainda temos contra (ou a favor) a tal herança genética. Você passa a vida comendo rúcula e morre de AVC porque suas "veias" não valem nada. Que pena, passou uma vida comendo comida sem graça e morreu na praia. E vai gastar dinheiro com hospital do mesmo jeito, ou, talvez, mais ainda. Sorry.

Logo, caro vegetariano, escapando de doenças cardiovasculares porque você evitou (religiosamente) gorduras supostamente desnecessárias, você pode simplesmente morrer de câncer porque deu azar com o pai que teve ou porque, no fim, tudo vira câncer, não sabia?

Um dia, esses maníacos da saúde total desejarão processar os pais por terem deixado que eles comessem coxinhas e brigadeiros quando eram crianças ou porque simplesmente tinham maus genes em seus gametas.
Sinceramente, não estou convencido de que viver anos demais seja muito vantajoso. Sem "abusar" da comida, da bebida, do tabaco, do sexo, das horas mal dormidas, não vale a pena viver muitos anos.

A menos que eu queira ser uma "freira feia sem Deus", o que nada tem a ver com freiras de verdade, uso aqui apenas a imagem estereotipada que temos das freiras como seres chatos, opressores e feios , ou seja, uma pessoa limpinha, azeda e repressora.

Como diz meu filho médico de 27 anos, "nunca houve uma geração tão sem graça como esta, obcecada por viver muito". Eu, pessoalmente, comparo esta geração de pessoas obcecadas pela saúde àqueles personagens de propaganda de pasta de dentes: com dentes branquinhos, cabelos bem penteados e com cara de bolha (ou "coxinha", como se diz por aí).

Dei muita risada quando soube que alguns cientistas estavam relacionando câncer de boca à prática frequente de sexo oral. Será que sexo oral dá cárie também? Terá a vida sentido sem sexo oral? Fazer ou não fazer, eis a questão!

Essa ciência horrorosa da saúde total deverá logo descobrir que sexo oral faz mal, e aí, meu caro "pombinho da saúde", como você vai fazer para viver sendo perseguido pela saúde pública? Talvez, ao final, não seja muito problema para você, porque quem é muito limpinho não deve gostar mesmo dessa sujeira que é trocar fluidos e gostos por aí.


Comentários

Christian Paz disse…
Concordo em vários aspectos.

Hoje em dia tudo faz mal.

Eu particularmente não me importo com nada disso. Fumo e bebo porque gosto. Sei que faz mal, mas gosto, isto basta para mim.
Ricardo disse…
Este artigo me fez lembrar de um sujeito que também escreve na Folha de S. Paulo, no caderno Equilíbrio. O cara é corredor e faz uma apologia absurda do ato de correr, como se quem não corre é um verme, que não merece continuar vivendo! Até parei de ler o que ele escreve, com medo de entrar em depressão profunda. Realmente ridículo este culto à saúde.
Anônimo disse…
Concordo em vários aspectos com o artigo, mas acrescento uma coisa: nem tanto ao mar nem tanto à terra. O que sou contra mesmo é a radicalismos, seja ele qual for. Por exemplo, bebo e corro quase todos os dias. Tem dias que bebo muito e não corro, tem dias que corro muito e não bebo nada, e tem dias que não faço nenhum dos dois. Tem dias que como um churrasco gordo e dias que janto uma salada. Por que tudo hoje em dia tem que ser rotulado?

O que torna a vida chata e sem graça mesmo é o radicalismo e a limitação, seja ela qual for.
Anônimo disse…
Minha avó sempre dizia que viver muito é um castigo de Deus, pois no final, chega sempre uma hora em que o corpo não acompanha a cabeça, ou vice-versa.
Anônimo disse…
Acredito que equilíbrio seja a palavra chave para uma vida saudável.Como professor de Educação Física,sou contra dietas radicais ou exercícios que procuram o limite do corpo.
Anônimo disse…
Tem o meu apoio na luta contra os extremos.

Mas, honestamente, quem é contra uma dieta
racional e a favor de uma vida sedentária?

Pessoalmente prefiro que a Sabrina Sato, Gisele Bundchen e tantas outras continuem malhando, comendo bem e esbanjando toda aquela saúde!

Aliás, assim elas evitam de cair nas mãos do filho médico desse cara, que acha sem graça prolongar a vida... tem base?!

Vai indo que eu n vou, como diria o Simão.
vitor disse…
Brother,
Eu adoro cerveja torresmo, feijoada, lámen, vinho...
Mas rúcula é bom demais também!
E atividades físicas como corrida e alongamento fazem muito bem. Dão um bom ânimo.
Chato ver gente radicalizando só pra ser polêmico.
Anônimo disse…
Quem faz sexo oral levanta a mão !! \o/
\o/
\o/ rsrsrsr !!
Esse mundo tá perdido !
Anônimo disse…
A noção de equilíbrio pra mim é tão utópica que muitos do que dizem isso se arrogam da " constante busca", ou possuem a medida certa pra avaliar que o outro está sendo radical.

Aprendi da pior forma que se a maldade nesse mundo não conhece limites, a minha busca pelo prazer também não.
Anônimo disse…
Aliás, aparentemente em contradição com o que disse antes, decidi virar vegetariana e nem por isso detesto comida, tudo isso está acompanhado de sexo e bebida na medida errada.
Anônimo disse…
Concordo com tudo que Pondé escreveu, apesar de não ter moral nenhuma pra isso. Afinal, tomo leite desnatado, refri diet e como pão integral todos os dias, metade do meu prato é composto por vegetais.
Porém, como coxinha e bacon e bebo cerveja como se não houvesse amanhã, então acho que estou bem.
Anônimo disse…
Salve para o Vitor. . .
Chato ver gente radicalizando só pra ser polêmico. . .
Anônimo disse…
Pondé é a reencarnação de Schopenhauer, nota -se perfeitamente a semelhança!
giuseppe ferrua disse…
não precisa ser tão radical, atitude esquisita

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