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Projeto de pastor quer transformar Estado em 'fiscal da Bíblia' para barrar mudanças 'ideológicas'

Ganhando mais R$ 50 mil por mês, o deputado Pastor Sargento quer blindar a íntegra do livro sagrado de “ideologias” que criticar trechos homofóbicos e da linguagem neutra   


Paulo Lopes
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Diário Popular, Editora Abril, onde foi premiado, e em outras publicações

Passou pela Câmara Federal e agora tramita no Senado um projeto de lei que, se aprovado, tornará o Estado brasileiro guardião da integridade da Bíblia, impedindo alterações em seu texto.

Ou seja, esse projeto transforma o Brasil em uma teocracia cristã, responsável pela integridade (qual delas?) do livro sagrado dos cristãos. Trata-se de um PL ridículo que não deve passar. A Constituição estabelece que o Estado é laico.

De autoria do deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), o PL 4.606/2019 tem apenas uma serventia: escancarar o oportunismo de setores evangélicos em usar a máquina pública para seus propósitos, por mais bizarros que sejam.

O que passou pela cabeça do Pastor Sargento quando decidiu apresentar o seu projeto à Câmara? Que tal disparate pudesse ser aprovado e sancionado?

Ele acredita que sim, tanto que o texto já passou pela Câmara. A preocupação do deputado é que “ideologias” modernas contaminem a Bíblia, impondo, por exemplo, a linguagem neutra ou a remoção de trechos homofóbicos.

Até que seria gozada a adoção da linguagem neutra. O Sermão da Montanha (Mateus 5:3-9) ficaria assim:

“Bem-aventurades es humildes de espírito, porque delus é o reino dos céus. Bem-aventurades es que choram, porque serão consolades. Bem-aventurades es manses, porque herdarão a terra. Bem-aventurades es que têm fome e sede de justiça, porque serão fartes. Bem-aventurades es misericordioses, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurades es limpes de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurades es pacificadores, porque serão chamades filhes de Deus.”

Essa alteração não acontecerá porque, pelo entendimento comum, a proposta do Pastor Sargento é tão bizarra quanto a dos defensores da linguagem neutra.

Ao menos o deputado, subsidiado pelos cofres públicos (ele ganha no mínimo 50 mil reais por mês), poderia se dedicar a uma causa útil, deixando a compulsão de instrumentalizar o governo para a sua religião, cuidando da população.

> Com ilustração gerada por IA.

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