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Igrejas brasileiras avançam sobre a França laica com maquininha de cartão e promessa de cura

Cultos “avivados” e teologia da prosperidade desafiam a separação entre Estado e Igreja na Europa. Governo monitora avanço conservador.


As igrejas evangélicas estão se multiplicando na França, país onde a laicidade tem um longo histórico.

A cada 10 dias, abre um templo, com conversão principalmente da geração Z — católicos, muçulmanos e ateus, de acordo com levantamento do CNEF (Conselho Nacional dos Evangélicos da França).

Entre os novos templos, destacam-se igrejas de origem brasileira, como Assembleia de Deus, Universal e Lagoinha.

A ênfase da pregação dos pastores é a cura e o pagamento do dízimo. Aplicam uma teologia conservadora, mas de estética moderna. Têm forte presença na rede social.


Fachada de
templo da Igreja
Universal
em Paris

Enquanto o pastor brasileiro promete a chave do céu no carnê, o governo francês vê outra coisa. Para a MIVILUDES, órgão que vigia seitas com a mesma desconfiança que um parisiense olha para um pão de forma, essas igrejas operam sob o que eles chamam tecnicamente de 'caráter exorbitante das exigências financeiras'. Ou seja, extorsão da fé.

O relatório oficial é cirúrgico ao afirmar que 'a doença tornou-se a porta de entrada dos sonhos' para esses grupos. Onde a medicina pública francesa vê um paciente, o bispo vê um cliente pronto para ser fidelizado."

O movimento contraria o estereótipo de templos vazios na Europa. Em outubro de 2025, o evento “Célébrations 2025” reuniu 70.000 fiéis. A demonstração de força com cultos simultâneos é nédito para uma minoria religiosa na França moderna.

O Brasil caminha para se tornar maioria protestante na próxima década e vira exportador de missionários. Denominações como a Igreja Universal do Reino de Deus investem pesado na abertura de locais de culto no continente europeu.

O foco inicial costuma ser a comunidade imigrante, incluindo brasileiros e angolanos. O culto rapidamente é adaptado para o idioma francês. O objetivo é atrair a população local e expandir a base de fiéis para além dos estrangeiros.

Mesmo templos fundados por franceses adotam o estilo “avivado”. Mãos levantadas, música emotiva e busca por prosperidade refletem uma importação do modelo americano. O formato é similar ao observado nas periferias brasileiras.

O crescimento ocorre enquanto a sociedade francesa se torna mais agnóstica. O catolicismo vê seus números caírem. A ascensão de igrejas vibrantes surpreende sociólogos que previam o desaparecimento gradual da religião no país.

A França rege-se pelo princípio da laicidade, consolidado na lei de 1905. A norma determina a separação estrita entre Igreja e Estado. A regra protege a liberdade de crença, mas exige neutralidade total no espaço público.

O estilo evangélico gera atrito com a cultura local. A busca por ocupar ruas e influenciar a política choca-se com a visão francesa de que a fé deve ser privada. O governo monitora o avanço de pautas ultraconservadoras e o isolamento de comunidades.

A Universal marca presença em áreas como Paris e Saint-Denis. A Assembleia de Deus atua há décadas no país. A Lagoinha realiza atividades em Palaiseau. 

Existem cerca de 2.700 igrejas evangélicas locais na França metropolitana.

O Conselho Nacional dos Evangélicos da França estima haver 745.000 praticantes regulares. A meta da entidade é estabelecer um local de culto para cada 10.000 habitantes. A média atual é de um para cada 25.000.

> Com informação do Conselho Nacional dos Evangélicos da França e de outras fontes.

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