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Brasileiros se engajam em campanhas organizadas em apps, mas evitam discutir política em grupos de família

Houve crescimento no  número de pessoas que admitem ter repassado notícias sem checar a fonte em 2024 (41%), quebrando a tendência de queda observada desde 2022


Agência Bori
serviço de apoio à imprensa na cobertura da ciência

Os brasileiros se policiam e evitam entrar em discussões políticas em aplicativos de mensagens. Por outro lado, mantêm-se em grupos criados por campanhas eleitorais e recorrem ao status como meio de manifestar suas preferências. 

O comportamento indica um amadurecimento no uso político do WhatsApp e do Telegram, conforme a quinta edição da pesquisa “Os vetores da comunicação política em aplicativos de mensagem: hábitos e percepções de brasileiros” realizada pelo InternetLab e pela Rede Conhecimento Social.

O estudo mostra que, enquanto 50% evitam falar de política no grupo da família para fugir de brigas e 52% se policiam cada vez mais sobre o que compartilham, cresceu a participação e permanência em grupos organizados em apoio a candidatos nos dois aplicativos. 

Esses são alguns dos dados levantados pelos pesquisadores, que entrevistaram 3.113 pessoas usuárias dos aplicativos de mensagem nas cinco regiões do Brasil. 

Os resultados foram analisados a partir de uma metodologia mista, qualitativa e quantitativa, e os respondentes foram segmentados por idade, gênero, cor/raça, classe social, escolaridade, região, tamanho do município em que vivem, religião e posicionamento político autodeclarado.


Metade das
pessoas dizem
que os grupos
seguiram ativos
após as eleições
e servem como
meio dos
candidatos
manterem
contato com os
eleitores, e estes
acompanharem
as ações dos
políticos

Segundo os autores, os grupos de apoio a candidatos ou partidos servem como canal de mobilização online e offline. “Existe um refinamento dessa estratégia de grupos por parte tanto de apoiadores quanto de campanhas”, diz Heloisa Massaro, Diretora do InternetLab. 

Além dos grupos, o status do WhatsApp se aprofunda como uma ferramenta incorporada no cotidiano dos usuários. A pesquisa identificou que 90% dos usuários consumiram e 76% publicaram conteúdos no status, sendo que mais da metade utilizou para acompanhar e/ou postar sobre política. A preferência pelo status se deve ao seu caráter menos invasivo.

“Tem uma auto-organização do cidadão votante. Eu não posso me posicionar politicamente devido ao meu trabalho, mas aí vou tirar uma foto com camiseta da cor do meu candidato e postar no status”, diz Marisa Villi, diretora da Rede Conhecimento Social.

Essa estratégia política de comunicação digital deve permanecer nas eleições de 2026, com o importante acréscimo da inteligência artificial como ferramenta para a produção de conteúdo. 

O estudo aponta que 50% dos respondentes já usavam a IA da Meta no WhatsApp, lançada dois meses antes das entrevistas, e os mais jovens foram os principais entusiastas, com uma taxa de 62% de utilização entre os que têm de 16 a 19 anos. 

 Destaca-se que cresceu o número de pessoas que admitem ter repassado notícias sem checar a fonte em 2024 (41%), quebrando a tendência de queda observada desde 2022. 

“Existe uma consciência generalizada de que fake news é má e existe e que o correto é fazer a checagem da informação antes de repassar, mas temos dois gargalos: um que é sobre como fazer com que as pessoas chequem o que recebem, mesmo que tenha sido enviado por uma pessoa de confiança; outro, ainda mais desafiador, que é como garantir que as fontes de confirmação sejam de fato confiáveis”, afirma Villi.

A escolha entre o WhatsApp e o Telegram é feita conforme o objetivo da comunicação, segundo a pesquisa. Enquanto o primeiro é visto como um aplicativo de comunicação com as pessoas conhecidas, como família, amigos, colegas de trabalho, grupos religiosos e moradores do bairro, o segundo é um espaço para interação por afinidades e assuntos de interesse. 

A diferença se reflete nos tipos de grupos que predominam em cada plataforma: no WhatsApp, os grupos de família (54%) e amigos (53%) lideram, enquanto no Telegram grupos de notícias (23%), promoções (23%) e jogos (20%) são tão relevantes como amigos (27%) e trabalho (23%). 

O autopoliciamento contrasta com o uso mais livre do Telegram, percebido como espaço de maior liberdade para acompanhar conteúdos.

A pesquisa traz tendências e introduz novas observações sobre a dinâmica social e política nas plataformas de mensagens. Edições anteriores mostraram haver saturação de interações virtuais e a consequente saída de grupos. 

Nesta edição, o estudo aponta que a diminuição resultou em uma curadoria mais cuidadosa e um foco na preservação da qualidade das interações, com depoimentos de pessoas que reataram laços familiares dos quais haviam se afastado. 

No recorte de gênero, observa-se que as mulheres são as que mais temem participar de debates políticos e demonstram maior preocupação sobre o que falam nos grupos. Já os homens são os que mais se sentem à vontade para expressar opiniões políticas.

Em contraste com o ano eleitoral de 2022 (eleições presidenciais), houve uma queda no recebimento e compartilhamento de conteúdos eleitorais em 2024 (eleições municipais). A comparação com 2020, também ano de eleições municipais, mostra haver uma queda independente do tipo de eleição. 

O movimento reforça a tese de que os usuários estão mais contidos e segmentando os espaços para discussão política, com participação mais “nichada” em grupos de interesse particular.

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