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Ao longo de séculos, crentes assassinaram pensadores, mas a ciência sempre provou estar correta

O médico Miguel Serveto (c. 1510–1553) — o primeiro a descobrir que o sangue flui do coração para os pulmões e vice-versa — foi queimado na Genebra puritana de João Calvino por duvidar da Trindade.


James A. Haught
escritor e jornalista

A guerra histórica entre ciência e religião começou na Grécia Antiga e ainda persiste mais de dois milênios depois. A ciência venceu todos os confrontos, mas os crentes no sobrenatural não se rendem.

A Grécia Clássica fervilhava de crenças mágicas. Multidões de animais eram sacrificadas a uma estranha gama de deuses invisíveis que supostamente habitavam o Monte Olimpo

Multidões entregavam dinheiro a oráculos que alegadamente transmitiam mensagens dos deuses. Até mesmo “guerras sagradas” eram travadas por riquezas acumuladas pelos santuários oraculares.

Em meio a toda essa baboseira, alguns pensadores sábios começaram a buscar explicações naturais, não sobrenaturais. Foi o nascimento da ciência — mas foi arriscado, porque os crentes matavam os descrentes.

Anaxágoras (500–428 a.C.) ensinava que o sol e a lua são objetos naturais, não divindades. Ele foi condenado à morte por impiedade, mas escapou para o exílio.

Protágoras (490–420 a.C.) disse que não sabia se os deuses existiam — por isso foi banido de Atenas. Seus escritos foram queimados e ele se afogou enquanto fugia pelo mar.

O mártir mais famoso foi Sócrates (470–99 a.C.), que foi condenado à morte por ofensas que incluíam “não adorar os deuses adorados pelo Estado”.

Desde a
Grécia,
fúria dos
religiosos
fulminou
pessoas
da ciência


Hipátia (c. 360–415 d.C.), uma mulher brilhante que dirigia a famosa biblioteca do conhecimento de Alexandria, foi espancada até a morte por seguidores cristãos de São Cirilo.

O médico Miguel Serveto (c. 1510–1553) — o primeiro a descobrir que o sangue flui do coração para os pulmões e vice-versa — foi queimado na Genebra puritana de João Calvino por duvidar da Trindade.

Giordano Bruno (1548–1600) foi queimado pela Santa Inquisição por ensinar que a Terra orbita o Sol e que o universo é infinito. O pioneiro da ciência Galileu escapou por pouco do mesmo destino por um motivo semelhante, mas foi condenado à prisão domiciliar perpétua.


Na época em que Charles Darwin (1809–1882) concebeu a evolução, a religião ocidental já havia perdido grande parte do poder de matar dissidentes. Sua grande descoberta desencadeou uma batalha entre religião e ciência que persiste até hoje. 

Ela causou o notório “Julgamento do Macaco” no Tennessee, em 1925, e ainda reacende quando fundamentalistas tentam banir a evolução dos currículos de ciências das escolas públicas. 

Eles argumentam que um pai-criador sobrenatural criou todas as espécies em sua forma moderna há cerca de 6.000 anos — enquanto a ciência prova que a vida remonta há tempos muito mais antigos e que novas espécies evoluíram a partir de espécies anteriores. A evolução tornou-se a base da biologia moderna.

O conflito entre ciência e religião também surge quando alguns crentes fervorosos deixam seus filhos morrerem porque — confiando nas promessas de Jesus de que a oração cura doenças — se recusam a buscar ajuda médica.

Hoje em dia, quase todos reconhecem que a ciência é uma dádiva colossal para a humanidade, curando doenças, eliminando o trabalho árduo, expandindo o conhecimento, abrindo as comunicações globais e, de modo geral, melhorando a vida. 

Em 1900, a expectativa de vida média era de apenas 48 anos, mas agora se aproxima dos 80, graças principalmente aos avanços da medicina. Em contrapartida, a religião pouco contribui para o mundo, e o extremismo islâmico causa massacres constantes.

A ciência vence todos os confrontos, minando constantemente os dogmas sobrenaturais da religião. O biólogo mundialmente renomado Richard Dawkins afirma que a fé “subverte a ciência e mina o intelecto”. Felizmente, ela continua perdendo a guerra entre ciência e religião.

> Esse texto foi publicado originalmente no site Church and State com o título Matança religiosa através dos séculos. James A. Haught (1932-2023) foi colaborador da FFRF (Freedom From Religion Foundation), organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que se dedica à defesa da separação entre o Estado e a Igreja.

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