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Constrangimento inevitável: em um ambiente, metade das pessoas venera Jesus; outra zomba

A religião não é uma linguagem universal. Uma frase sobre Deus pode comover um público e provocar o ridículo em outro


Jan Bryxí
jornalista e escritor

Freethinkers International
plataforma de divulgação de artigos de livres-pensadores, humanistas, ateus, secularistas e público

Religião não significa a mesma coisa em todos os lugares. Em um país, inspira reverência, em outro, provoca risos. Uma única frase sobre Deus pode provocar lágrimas nos Estados Unidos, mas zombaria na República Tcheca. O que é sagrado em uma cultura pode soar absurdo em outra.

O paradoxo é visível na música. “See You Again”, de Wiz Khalifa, tornou-se um sucesso global. No entanto, se ele tivesse adicionado louvores abertos a Deus à letra, a canção não teria alcançado o mesmo status em sociedades seculares.

Em lugares com grande prevalência de ateísmo, tal atitude teria provocado risos. A diferença cultural nas atitudes em relação à religião é enorme.

Culturas seculares e religião como ridículo

Em países onde o ateísmo predomina, a fé muitas vezes parece ultrapassada. A República Tcheca, a Estônia ou a Suécia raramente ouvem referências públicas a Deus no cotidiano. Quando alguém canta sobre o propósito divino, muitos ouvintes reagem com ironia. Parece exagerado, até infantil.

Religião cada
vez mais
deixa de
ser um
fator de
conciliação


No YouTube, a diferença é fácil de observar. Nos Estados Unidos, discussões intermináveis ​​sobre Deus e os caminhos das pessoas para a salvação preenchem as seções de comentários. 

Em países seculares, tais debates são inexistentes. A linguagem da fé simplesmente não ressoa. Em vez disso, os usuários falam sobre psicologia, ciência ou experiências pessoais sem referências divinas.

Nessas culturas, a fé não é apenas ignorada. Às vezes, é ridicularizada. Os fiéis podem ouvir piadas sobre superstição ou contos de fadas. 

A religião está associada à fraqueza ou ao atraso intelectual. A cultura cria pressão: mantenha sua fé em segredo ou corra o risco de se tornar motivo de riso.

Culturas religiosas e fé como norma

O contraste com as culturas religiosas é impressionante. Nos Estados Unidos, América Latina, África e grande parte do Oriente Médio, a crença em Deus continua sendo uma norma social. Políticos encerram discursos com “Deus os abençoe”. Músicos preenchem letras com conotações religiosas. Ninguém acha isso estranho.

Aqui, músicas como “See You Again” ressoam emocionalmente justamente porque a fé é normal. Referências a Deus não são vistas como infantis, mas como poderosas expressões de amor, tristeza ou esperança. As mesmas palavras que provocam o ridículo em Praga podem provocar lágrimas no Texas.

A fé também funciona como fonte de comunidade. Igrejas organizam a vida social. Feriados religiosos dominam os calendários. Mesmo em países onde a modernidade transformou as economias, a religião ainda molda a identidade cultural.

Crentes em sociedades seculares

Em contextos altamente seculares, os fiéis enfrentam um paradoxo. São legalmente livres para praticar sua religião, mas enfrentam estigma social. Expressar sua crença pode levar ao ridículo ou à suspeita. As pessoas reviram os olhos quando alguém fala sobre Deus em público.

Como resultado, muitos fiéis se calam. Eles evitam discutir sua fé para se protegerem de zombarias. Esse silêncio cria uma forma invisível de marginalização. A liberdade existe na lei, mas não na cultura. A sociedade pressiona as pessoas a esconderem suas crenças.

Isso inverte a narrativa tradicional. Em países religiosos, os ateus frequentemente se sentem marginalizados. Em culturas dominadas por ateus, acontece o oposto. A maioria cultural dita o que é aceitável, independentemente dos direitos formais.

O papel da mídia e das plataformas online

A mídia amplifica essas diferenças. No YouTube ou no Instagram, os algoritmos refletem prioridades culturais. Em sociedades religiosas, vídeos sobre Deus se espalham amplamente. 

Testemunhos, sermões e músicas reúnem milhões de visualizações. Em sociedades seculares, esses mesmos vídeos quase não circulam. O conteúdo parece irrelevante.

Um filme que cita as escrituras pode fazer sucesso nos Estados Unidos, mas fracassar na Escandinávia. 

Uma música sobre Deus pode chegar às rádios da América Latina, mas nunca à República Tcheca. Plataformas globais existem, mas filtros culturais decidem o que sobrevive.

Implicações mais amplas

Esses contrastes importam. A religião não é um assunto neutro. Ela divide sociedades não apenas pela crença, mas também pela reação. Para alguns, é o centro do significado. 

Para outros, é uma relíquia risível. O domínio ateísta pode marginalizar injustamente os crentes. 

O domínio religioso pode marginalizar os ateus. Ambos os lados usam a maioria cultural para impor silêncio ao outro.

A comunicação global sofre com essa divisão. O que soa sincero em uma região pode soar ridículo em outra. Sem a consciência dessas diferenças, a música, a política e a arte têm dificuldade para cruzar fronteiras.

Crentes em sociedades seculares enfrentam zombaria, assim como ateus em sociedades religiosas enfrentam pressão. 

A liberdade de crença existe no papel, mas a cultura decide como as pessoas realmente a vivenciam. O mundo continua dividido, não apenas pela fé, mas pela forma como as sociedades reagem a ela.


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