Assim como a presidência de Barack Obama rompeu barreiras raciais, a eleição do primeiro presidente abertamente ateu dos EUA seria uma revolução de pensamento. Não marcaria apenas uma mudança política, mas também remodelaria como os Estados Unidos veem a moral, a liderança e a própria crença.
Jan Bryxí
Um presidente
Jan Bryxí
jornalista e escritor
Freethinkers International
plataforma de fatos e ideias sobre o livre pensamento
Em um país onde mais de 90% dos membros do Congresso se identificam publicamente com uma religião, esse momento simbolizaria uma libertação mais profunda: o direito de liderar sem adoração.
Durante séculos, os Estados Unidos vincularam a virtude política à fé. Os políticos devem professar a crença em Deus, mesmo que silenciosamente agnósticos ou reservadamente indiferentes.
Um presidente
que declarasse
não ter fé —
mas inspirasse
unidade, confiança
e liderança moral
— provaria que
o caráter não é
propriedade da
religião. Sinalizaria
que a decência,
a empatia e a
razão não são
dons divinos,
mas conquistas
humanas.
Deus na política americana: uma história do simbolismo sagrado
A frase “Em Deus Confiamos” só se tornou o lema nacional em 1956. A adição de “sob Deus” ao Juramento de Fidelidade ocorreu somente dois anos antes. Essas decisões surgiram durante a Guerra Fria, com o objetivo de contrastar os EUA com o comunismo ateu. Mas, desde então, a religião tem sido incorporada à vida pública — na moeda, nos tribunais, nos discursos presidenciais.
Quase todos os presidentes invocaram Deus em discursos importantes. As políticas frequentemente refletem visões de mundo teológicas. Debates políticos sobre aborto, casamento, educação e saúde não foram enquadrados pela razão pública, mas pela moral religiosa.
Os ateus continuam sendo um dos grupos menos confiáveis nos Estados Unidos, mais desacreditados do que muçulmanos ou imigrantes em muitas pesquisas.
Um marco cultural: a moral secular entra na Casa Branca
O primeiro presidente abertamente ateu não falaria somente pelos descrentes. Ele ou ela mostraria que a verdade, a decência e a liderança podem emergir sem fé. Milhões de americanos — agnósticos, céticos, deístas, humanistas — finalmente se sentiriam representados.
Esse momento quebraria a ilusão de que a religião é um requisito para a moralidade. O presidente poderia enfatizar valores baseados em evidências, justiça, empatia e respeito mútuo — sem fazer referência a textos sagrados ou à vontade divina. Isso desafiaria séculos de suposição: a de que a lei deve ecoar as escrituras para ser ética.
O novo fundamento moral: razão, ciência e empatia
A ética secular não carece de coração. Na verdade, ela exige uma reflexão mais profunda. Um presidente sem crença religiosa poderia basear suas decisões no florescimento de seres sencientes, em evidências de quais políticas funcionam e em estruturas filosóficas como o utilitarismo ou o dever kantiano.
Este líder poderia falar de justiça não como um mandamento, mas como um compromisso. De verdade, não como revelação divina, mas como algo buscado por meio da ciência, da história e do diálogo. De compaixão não porque Deus a deseja, mas porque o sofrimento a merece.
Reescrevendo o roteiro: um novo tipo de retórica presidencial
Imagine um discurso de posse sem a frase “Deus abençoe a América”. Em vez disso:
Não peço bênçãos do alto. Peço força dentro de todos nós. Razão em nossas mentes, compaixão em nossos corações. Unidade, não sob um deus, mas sob responsabilidade compartilhada.
Essa linguagem inspiraria não o medo do julgamento, mas a esperança na humanidade. Ela enquadraria o governo não como um agente da vontade divina, mas como um mecanismo para o bem público.
A reação: medo, difamação e pânico espiritual
Como era de se esperar, um presidente ateu enfrentaria uma onda de oposição. Os evangélicos a enquadrariam como decadência moral. Especialistas de direita falariam em “liderança sem Deus” e caos moral. Haveria apelos à oração, contestações judiciais e inúmeras teorias da conspiração.
Mas, assim como o movimento birther [teoria da conspiração nos Estados Unidos que alegava falsamente que o ex-presidente Barack Obama não era um cidadão americano nato e, portanto, não estava qualificado para ser presidente] não conseguiu apagar Obama, essas campanhas teriam um efeito contraproducente.
Se o presidente governasse com dignidade, ouvisse com empatia e agisse com justiça, o país veria que a moralidade dispensa mitos.
Iluminismo sem revelação: uma visão secular do bem público
Sem livros sagrados ou rituais, este presidente se inspiraria em pensadores iluministas como John Stuart Mill, Mary Wollstonecraft ou Bertrand Russell. Ele ou ela poderia citar Darwin, Sagan ou James Baldwin. Promoveriam a educação, o pensamento crítico e a cultura científica.
Sua administração poderia pressionar por políticas embasadas em pesquisas — sobre mudanças climáticas, saúde, justiça criminal e desigualdade. O serviço público voltaria a ser uma vocação moral, não apenas uma carreira política.
A jovem América desperta: Representação para a geração secular
Millennials e Geração Z são as gerações menos religiosas da história dos EUA. Muitos cresceram duvidando ou rejeitando a religião organizada. No entanto, não tiveram um modelo presidencial de descrença. Um presidente abertamente ateu ofereceria uma nova inspiração — alguém que lidera não apesar da descrença, mas através dela.
Essa visibilidade empoderaria estudantes, cientistas e pensadores seculares. Reduziria o estigma. Reformularia o ateísmo como força — não arrogância, mas honestidade.
Uma ondulação global: diplomacia secular e ruptura teocrática
Internacionalmente, um presidente laico dos EUA seria admirado e temido. Humanistas no Irã, Arábia Saudita ou Paquistão veriam esperança. Teocratas veriam ameaça. A diplomacia americana poderia mudar, enfatizando direitos universais em detrimento de alianças religiosas.
Este líder poderia forjar laços mais fortes com as democracias seculares na Europa. Poderia defender a saúde e a educação globais sem filtros religiosos. Poderia denunciar abusos disfarçados de religião — sem hipocrisia.
Além da religião: confiar nas pessoas, não nas profecias
Esse presidente não enquadraria os problemas em binários morais. Não diria “Deus julgará”. Diria: “Vamos avaliar, adaptar, melhorar”.
Seus discursos seriam repletos de dados, não de dogmas. De perguntas, não de respostas transmitidas. De esperança no que as pessoas podem construir, não no que os deuses podem salvar.
Talvez ele ou ela esteja a caminho, mas não podemos vê-lo
Em 1995, Tupac Shakur disse: “Não estamos prontos para ver um presidente negro”. Isso refletiu uma crença generalizada de que o racismo era arraigado demais, de que os Estados Unidos brancos jamais aceitariam a liderança negra na Casa Branca. E, no entanto, pouco mais de uma década depois, Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos.
A história não pede permissão. Ela se move quando as condições a forçam.
O mesmo pode acontecer em breve com o ateísmo.
Hoje, os americanos ainda dizem que não votariam em um ateu. Pesquisas mostram que ele está entre as identidades menos confiáveis na política. Mas os números estão abaixo da curva.
Silenciosamente, a desfiliação religiosa está aumentando. Millennials e a Geração Z estão se afastando da religião organizada em números sem precedentes. A fé não detém mais o monopólio moral de outrora.
Assim como a eleição de Obama destruiu o mito da impossibilidade, o primeiro presidente abertamente ateu dos EUA pode chegar mais cedo do que o esperado. Não porque o público esteja implorando por um, mas porque a mudança não espera por conforto. Ela irrompe quando as velhas histórias param de funcionar.
E para milhões, a história religiosa não se encaixa mais.
Então, quando alguém diz: “Não estamos prontos para um presidente ateu”, lembre-se de como essa mesma frase estava errada há não muito tempo.
Podemos estar mais perto do que pensamos.
Conclusão: Um farol, não um trono
O primeiro presidente ateu não exigiria fé. Não dividiria crentes e não crentes. Em vez disso, ofereceria uma visão secular — uma visão que vê todas as pessoas como moralmente iguais, independentemente do credo.
Assim como a corrida de Obama deu esperança a milhões de pessoas que nunca imaginaram um presidente negro, este momento diria a todos os céticos, céticos e racionalistas: você pertence.
E, ao fazê-lo, a nação não cairia na escuridão. Finalmente veria — com os olhos abertos, as mentes alertas e os corações dispostos a crescer — que a verdade, a decência e a coragem nunca precisaram de um deus.
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