Pular para o conteúdo principal

Grande emissor de metano, Brasil assume importância no combate à crise climática, mostra estudo

O metano é responsável por 30% do aquecimento já registrado e tem efeito mais de 80 vezes mais potente do que o CO₂, e o Brasil é grande produtor de metanos devido à criação de gado


Agência Bori
serviço de apoio à imprensa na cobertura da ciência

Um relatório divulgado pelo Climate Crisis Advisory Group, organização formada por 19 especialistas de 12 países, aponta que o corte das emissões de metano é a ação mais rápida e barata para conter o aquecimento global ainda nesta década. 

O grupo internacional de cientistas descreve as ações do tipo como um “freio de emergência” capaz de evitar até 0,3°C de aquecimento se as emissões forem reduzidas em 45% até 2030.

O documento alerta que, embora as atenções globais estejam voltadas para o dióxido de carbono (CO₂), o metano é responsável por cerca de 30% do aquecimento já registrado e tem efeito mais de 80 vezes mais potente do que o CO₂. 

Por permanecer pouco mais de uma década na atmosfera, cada corte nas emissões gera efeito imediato de resfriamento, perceptível em poucos anos.


O Brasil
concentra
mais de
70% de
emissões
de metano
na agropecuária,
principalmente
na criação
de gado

Resíduos e energia completam o quadro. Para os autores, essa configuração coloca o Brasil simultaneamente como um dos maiores riscos e uma das maiores oportunidades globais de liderança. 

O programa federal “Zero Metano”, lançado em 2022, é citado como carente de metas claras e mecanismos robustos de monitoramento, com risco de se tornar apenas simbólico se não for integrado a políticas agrícolas e de uso da terra mais amplas.

O estudo apresenta medidas de baixo custo já disponíveis. 

Na energia, recomenda banir a queima e o descarte de metano em poços de petróleo e gás, adotar monitoramento rigoroso de vazamentos e garantir transparência nos relatórios de emissões. 

Na agricultura, propõe limites estritos para grandes propriedades de gado e laticínios, incentivo a ações que diminuam a produção de metano e sistemas de manejo de esterco que permitam gerar biogás em pequenas propriedades. 

No setor de resíduos, pede coleta universal, desvio de orgânicos de aterros e incentivo à compostagem e ao uso de bioenergia.

Para a ecóloga Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília e integrante do grupo, o momento é de transformar o desafio em oportunidade.

“A oportunidade de combater a mudança do clima por meio da redução das emissões de metano é também uma oportunidade de reformular nossos sistemas agroalimentares. Isso significa dar mais transparência sobre os impactos da cadeia de produção de alimentos, melhorar a sustentabilidade, garantir água e segurança alimentar, proteger a saúde e promover justiça social”, afirma.

“O metano é o único freio de emergência que temos à disposição. As soluções estão prontas, são acessíveis e trazem ganhos imediatos para a saúde, a segurança alimentar e os meios de vida. Em países como o Brasil, onde a agricultura é parte central da economia, não agir equivale a investir na própria queda”, diz David King, presidente do Climate Crisis Advisory Group.

O Climate Crisis Advisory Group inclui autoridades de destaque em ciência do clima, emissões de carbono, energia, meio ambiente e recursos naturais. 

Alguns de seus membros também participam de conselhos consultivos governamentais. Sua função é complementar, e não substituir, esses outros papéis. 

A atuação envolve análises aprofundadas de questões políticas e financeiras, inclusive daquelas que ainda não estão presentes nas agendas governamentais. Todos os cientistas concordaram em dedicar seu tempo de forma voluntária, sem qualquer remuneração.

A lista completa de recomendações inclui:

Energia

Proibir o venting, ou seja, impedir que empresas liberem metano diretamente na atmosfera

Proibir o flaring rotineiro, encerrando a queima de gás nos poços, prática poluidora e desperdiçadora

Detectar e reparar vazamentos com monitoramento regular e reparo imediato em toda a infraestrutura de óleo e gás

Garantir transparência por meio de relatórios independentes e robustos sobre emissões, usando as melhores técnicas e tecnologias disponíveis

Agricultura

Estabelecer limites rígidos de intensidade de metano em fazendas de gado de corte e leite, com monitoramento e fiscalização

Exigir manejo responsável do esterco, com tratamento e armazenamento adequados para evitar liberação de metano, conforme o porte da fazenda

Reduzir emissões de ruminantes por meio de práticas alimentares que diminuam significativamente o metano

Apoiar pequenos produtores com recursos, capacitação e infraestrutura para cortar emissões e acessar energia limpa

Reduzir emissões da produção de arroz e da aquicultura com práticas de manejo comprovadas

Resíduos

Fortalecer regras de gestão de resíduos, com coleta universal, separação, reciclagem e desvio de materiais do aterro

Impedir o envio de alimentos e outros resíduos orgânicos para aterros, direcionando-os para compostagem, biogás ou biochar

Apoiar sistemas circulares de alimentos, reformando cadeias alimentares, educando populações para reduzir desperdício na origem, incentivando mudanças na dieta e garantindo acesso a alimentos de baixa emissão

Trabalhar com comunidades por meio de centros locais, inclusão de trabalhadores informais e infraestrutura acessível para mudanças de baixo para cima

Monitorar e capturar o metano de aterros, exigindo acompanhamento rigoroso e sistemas de coleta baseados nas melhores práticas compatíveis com a capacidade local

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Cérebro dos ateus é diferente do de crentes? Estudos sugerem que sim

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

MP pede a retirada das cédulas do real a frase 'Deus seja louvado'

A referência a Deus é incompatível com o Estado laico brasileiro Pedro Antônio de Oliveira, procurador substituto do MPF (Ministério Público Federal) em São Paulo, enviou em dezembro uma representação ao BC (Banco Central) para que deixe de imprimir nas cédulas do real a frase “Deus seja louvado”, de modo a cumprir a laicidade do Estado brasileiro, prevista na Constituição. Como resposta, o BC apresentou duas argumentações. Primeira: a representação tem um “vício de origem” porque não cabe ao BC tratar desse tipo de questão, mas, sim, ao CMN (Conselho Monetário Nacional), que é o responsável pela emissão de cédulas e moedas do país. Segunda: a república brasileira não é antirreligiosa ou anticlerical, o que não impede que as cédulas tenham a referência a Deus, o que, inclusive, se repete na própria Constituição. O que não pode, segundo o BC, é que haja nas cédulas menção a uma doutrina religiosa ou a um determinado credo. As argumentações do BC são contraditórias entr...

Justiça mantém livre pastor de call center de curas e só autoriza uso de tornozeleira eletrônica

Zanin e Dino votam para manter símbolos religiosos em prédios públicos. Votação continua no STF

Ateísmo faz parte há milênios de tradições asiáticas