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Papai do céu (só) protege o menino que não faz xixi na cama. Eis uma brutalidade sutil da religião

A música de maior sucesso do famoso palhaço Carequinha contém uma perversidade que pode passar despercebida


Paulo Lopes / memórias
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Diário Popular, Editora Abril, onde foi premiado, e em outras publicações

Outro dia procurei no Youtube uma música do meu tempo de criança para o meu netinho ouvir. Encontrei a “O Bom Menino”, do palhaço Carequinha, e fiquei horrorizado. Não me lembrava do quanto a música é opressiva, perversa mesmo.

Já no começo diz que “o bom menino não faz xixi na cama”.

Mas menino algum faz xixi na cama por vontade própria, porque gosta.

A incontinência urinária é comum até certa idade e suas causas podem ser inclusive emocionais. Por que então impor o sentimento de culpa à criança?

Quem molha a cama, geralmente durante o sono, é mau menino?
O palhaço Carequinha fez sucesso nos anos 60. Ganhou dinheiro com discos e com apresentações em circos e na TV. Era adorado pelas crianças.

Suas músicas — principalmente a O Bom Menino — refletem como os pais tratavam os filhos: com carinho e repressão. Alguns com mais repressão do que carinho.

Havia "maus meninos” que levavam surras por molharem a cama ou por não aprenderem a lição da escola, ou chupar chupeta, roer unhas — conforme exemplos citados pela música do Carequinha

A rigor, maus mesmo eram Carequinha e os pais que batiam nos filhos. E todos acham normal. Era o que se chama hoje de zeitgeist.

A maior perversidade dessa música é sutil. Um refrão diz: “Papai do céu protege o bom menino”.

Eis a religião em seu estado mais bruto porque deixa subentendido que Deus não protege quem fizer xixi na cama, o "mau" menino. O que faz sentido do ponto de vista bíblico porque o Deus é um psicopata, malvado, inclusive com crianças. O feriado da Páscoa, por exemplo, rememora a matança de crianças egípcias.

Se depender de mim, meu netinho será poupado dessa música.

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