Pular para o conteúdo principal

Municípios que mais votaram em Bolsonaro sofrearam mais impacto de mortes na pandemia

Análise de revista científica considerou votos nos primeiros turnos de eleições para presidente de 2018 e 2022 para o Partido Social Liberal (PSL) e Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, e para o Partido dos Trabalhadores (PT) 


Agência Bori

O contexto de polarização política pode ter prejudicado a vida de centenas de brasileiros nos últimos anos. Segundo pesquisa inédita liderada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os municípios brasileiros com porcentagem maior de votos em Jair Bolsonaro no primeiro turno nas eleições presidenciais de 2018 e de 2022 também foram os que registraram mais excesso de mortes nos picos da pandemia de Covid-19, em agosto de 2020 e abril de 2021. 
Os resultados, desenvolvidos em colaboração com a Fiocruz Bahia e Universidade Federal da Bahia (UFBA), estão em artigo publicado na segunda (20) na revista científica “Cadernos de Saúde Pública”.

Com base nas tensões políticas vividas nos dois últimos pleitos, intercaladas por uma pandemia que vitimou 710 mil brasileiros, os pesquisadores buscaram por possíveis associações entre a distribuição espacial de votos das eleições presidenciais de 2018 e 2022 e excesso de mortes por município durante a emergência sanitária.

Segundo a análise, os municípios brasileiros tiveram um excesso de mortes de 23%, em agosto de 2020, e 44%, em abril de 2021, em comparação à média mensal de mortes por município nos cinco anos anteriores à pandemia. Cerca de 13% e 23% desse excesso de mortes foi devido à Covid-19. 

Em termos gerais, cada aumento de 1% dos votos municipais para Bolsonaro, de 2018 a 2022, correspondeu a um aumento de 0,48% a 0,64% no excesso de mortalidade municipal durante os picos da pandemia.

Para chegar a essa equação, foram utilizados dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, da Justiça Eleitoral e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O excesso de mortes para cada município foi calculado comparando o número de mortes nos meses de 2020 e 2021 com a média mensal de mortes nos cinco anos anteriores à pandemia de Covid-19. 

A análise considerou os votos nos primeiros turnos de eleições para presidente de 2018 e 2022 para o Partido Social Liberal (PSL) e Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, e para o Partido dos Trabalhadores (PT).

“Ao analisar os mapas descritivos de excesso de óbitos e sua distribuição no espaço, percebemos que tinha um padrão espacial muito semelhante à distribuição espacial do eleitorado Bolsonaro em 2018 e 2022”, comenta o autor do estudo, pesquisador da Unicamp Everton Campos de Lima. Essa distribuição se concentrou em municípios do Sul-Sudeste e Centro-Oeste do país, além de grandes centros urbanos de outras regiões do Brasil. 

“Um ponto interessante é que o padrão espacial do eleitorado pró-Bolsonaro se manteve quase inalterado em quatro anos”.

Diferentemente do que se esperava, o alto número de mortes nos picos da pandemia não se traduziu em menor adesão do eleitorado ao Bolsonaro em 2022. E os resultados seguiram com associação positiva entre municípios com alto número de mortes e maioria de votos em Bolsonaro neste segundo pleito. Por outro lado, a candidatura opositora, liderada pelo PT, teve associação negativa entre votos e mortes, levantando a hipótese de que pessoas no outro espectro político tenham adotado medidas preventivas e sanitárias de forma mais intensa durante a pandemia.

Em parte, a relação entre excesso de mortes e votos pode ser explicada pela descrença de lideranças políticas da gestão Bolsonaro na gravidade da pandemia, o que provocou atrasos na campanha de vacinação no momento em que o Brasil se tornava um dos principais epicentros da Covid-19 e da mortalidade no mundo.

“O voto pode representar um conjunto de atitudes do eleitorado em sintonia com as ações de seu líder político, mas também pode refletir nas medidas sanitárias inadequadas adotadas pelos governos municipais, onde Bolsonaro teve grande número de eleitores”, explica Lima.

Chamada pelos estudiosos de ‘polarização afetiva’, a postura política do ‘nós contra eles’ criou bolhas sociais distintas, que recebem diferentes tipos de informação. Segundo Lima, esse contexto polarizado pode prejudicar, inclusive, a implementação de políticas públicas, como aconteceu com a campanha de vacinação de Covid-19. 

“A todo instante, a ciência pode sofrer represálias, principalmente quando os resultados de uma pesquisa não condizem com as crenças de um dos lados políticos”, pontua o pesquisador. Para reverter esse quadro, o trabalho sugere expor a população a opiniões contrárias a sua posição política.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...