Pular para o conteúdo principal

Marcha das Margaridas lembra assassinato de mulher líder de sindicato rural

Organização estima que cem mil pessoas participaram da sétima edição do movimento; Margarida Maria Alves levou um tiro no rosto em 12 de agosto de 1983


JOÃO CANIZARES 
jornalista
Agência Pública

Para chegar a Brasília e participar da Marcha das Margaridas, a trabalhadora rural Marilene Rodrigues Rocha, de 54 anos de idade, fez um longo percurso. Viajou cerca de oito horas de barco da sua comunidade Vista Alegre do Muratuba, que fica dentro da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns até Santarém, no Pará, pelo rio Tapajós.

Depois foram outras três horas e meia de avião para chegar à capital federal. Ela veio participar pela quinta vez da Marcha das Margaridas e pedir mais direitos e respeito a quem trabalha no campo.

“Essa marcha é um movimento muito importante para as mulheres que vivem na área rural. Que são filhas de trabalhadoras, que são agricultoras, pescadoras, indígenas e quilombolas. Todas as mulheres que vivem nas periferias e áreas urbanas também”, explica Marilene.

“Nós estamos sofrendo alguns problemas muito sérios. Um deles é o desmatamento, as queimadas. Outro é o nosso rio Tapajós que está com muito agrotóxico e alto nível de mercúrio por conta do garimpo na região do Alto Tapajós”.

Marilene é vice-presidente na diretoria executiva da Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns. A denominada Tapajoara, que representa 24 comunidades presentes na reserva. Juntas elas somam cerca de 3.500 famílias, em torno de 20.000 pessoas em um território que possui mais de 670 mil hectares, nos municípios de Santarém e Aveiro, no Pará.

Para ela, esse é um momento importante: “É a primeira vez que conseguimos trazer um número grande de mulheres extrativistas e indígenas para este evento. E isso vai somar com a busca de políticas públicas para nosso município e nosso território”.

Nesta sétima edição, segundo informações da organização e da polícia militar do Distrito Federal, a Marcha das Margaridas recebeu mais de 100 mil pessoas nos dias 15 e 16 de agosto.

“Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver” foi o título da maior ação de mulheres da América Latina este ano.

Agricultoras, pescadoras,
indígenas e quilombolas.
Todas são Margaridas

Após o período de pandemia e os retrocessos que o governo passado causou, o encontro lembrou a necessidade de se retomar a luta por igualdade, democracia e liberdade. Marilene, as mais de 40 mulheres que vieram da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns, e as outras milhares de participantes da marcha, em sua maioria, ficaram acampadas durante esses dois dias no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek.

Foram noites frias e dias quentes e secos nas barracas, colchonetes e redes que ocuparam o enorme “galpão” normalmente destinado à eventos.

Apesar da simbologia e das inúmeras flores de todos os tipos e cores que tomaram uma das maiores vias de Brasília, o Eixo Monumental, casa dos principais poderes do país e palco da Marcha das Margaridas, que caminhou cerca de 6 km, o nome do evento é uma homenagem à Margarida Maria Alves.

Margarida era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, uma cidade do interior do estado da Paraíba. Ela foi assassinada com um tiro no rosto, na porta de sua casa, em 12 de agosto de 1983. Aos 50 anos de idade. Foi uma lutadora pelos direitos e por melhores condições de trabalho no campo. Lutou também pela reforma agrária e contra a violência no campo.

No primeiro dia da Marcha das Margaridas de 2023, 15 de agosto, foi aprovado na Câmara dos deputados o projeto de lei que que inclui o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Um livro histórico que reúne nomes importantes na história da luta pela democracia e igualdade no Brasil.

“Só com gerador”

Enquanto falava sobre o dia a dia na Reserva Extrativista, Marilene ficava na ponta dos pés procurando suas companheiras de viagem e de vida entre as milhares de pessoas que se organizavam para sair com a marcha enquanto o sol terminava de nascer. “Lá não tem energia. Só com gerador. Para funcionar tem que comprar combustível e esperar o barco trazer”.

Na comunidade, elas organizaram bingos e conseguiram apoios financeiros para custear passagens de avião de Santarém até Brasília. “A nossa dormida na Marcha das Margaridas foi no chão mesmo, com colchonete que ganhamos de doação ou até de outros companheiros que estavam participando”.

O café da manhã no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek começou a ser servido às 4h da manhã. A marcha partiu às 7h e chegou no gramado em frente ao Congresso Nacional por volta das 10h. A multidão se aglomerou em frente a um palco que devagar foi tomado pelas autoridades.

Entre ministros, deputados e presidentes de entidades estavam mulheres como a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a Deputada Federal Célia Xakriabá, a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e a Secretária de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas Mazé Morais.

O evento foi encerrado com discurso do presidente Lula. Ele assinou oito decretos em resposta às demandas das mulheres.

> Este texto foi publicado originalmente com o título 100 mil mulheres lotaram Brasília na Marcha das Margaridas. 


• Por que as mulheres deveriam ficar longe do cristianismo. Dez razões

• Mulheres ocupam apenas 20% dos cargos de direção do serviço público

• Religião tem longa história de opressão às mulheres, diz Emma Thompson

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Deputado gay é ameaçado de morte no Twitter por supostos evangélicos

Resposta do deputado Jean Wyllys O militante gay e deputado Jean Wyllys (PSOL) recebeu hoje (18) pelo Twitter três ameaças de morte de supostos evangélicos. Diz uma delas: "É por ofender a bondade de Deus que você deve morrer". Outra: "Cuidado ao sair de casa, você pode não voltar". A terceira: “"A morte chega, você não tarda por esperar".  O deputado acredita que as ameaças tenham partido de fanáticos religiosos. “Esses religiosos homofóbicos, fundamentalistas, racistas e enganadores de pobres pensam que me assustam com ameaças de morte!”, escreveu ele no Twitter. Wyllys responsabilizou os pastores por essas “pessoas doentes” porque “eles as conduzem demonizando minorias”. Informou que vai acionar as autoridades para que os autores da ameaça seja penalizados. Escreveu: "Vou recorrer à Justiça toda vez que alguém disseminar o ódio racista, misógino e homofóbico no Twitter, mesmo que seja em nome de seu deus". Defensor da união civi...

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus