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Juíza de Brasília manda igreja tirar da rede vídeo de pastor homofóbico

Em pregação feita no Brasil, o pastor americano David Eldridge afirmou que os homossexuais têm "reserva no inferno"


A juíza Lívia Lourenço Gonçalves determinou que a Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Brasília retire da rede social o vídeo do pastor homofóbico David Eldridge.

Em fevereiro de 2023, em evento da União das Mocidades das Assembleias de Deus de Brasília, o pastor americano afirmou que os homossexuais vão para o inferno.

Na pregação traduzida em tempo real do inglês para o português, Eldridge agitou os fiéis afirmando que “todo homossexual tem uma reserva no inferno. Toda lésbica tem uma reserva no inferno. Todo transgênero tem uma reserva no inferno. Todo bissexual tem uma reserva no inferno”.

Eldridge: ódio em
inglês com tradução
para o português

Lideranças do movimento LGBT+ repudiaram a pregação de ódio, e Eldridge, em contrapartida, foi defendido por pastores brasileiros.

O apóstolo César Augusto, da Igreja Fonte da Vida, por exemplo, afirmou que Deus ama as pessoas, mas não aceita a "prática pecaminosa", como o adultério, prostituição e homossexualismo.

A pregação homofóbica de Eldridge ocorre em um momento em que pastores brasileiros argumentam que não podem ser punidos pela Justiça por pregações baseadas na Bíblia, mas o americano deu um exemplo que tal justificativa, se aceita pela sociedade, pode validar discurso de ódio.

A juíza Gonçalves, da 4ª Vara Cível de Taguatinga, ponderou, em sua sentença, que a Constituição garante a manifestação religiosa, mas não supostas interpretações bíblicas que incentivam a discriminação e a violência contra pessoas da comunidade LGBT+. "Isto não se admite."

> Com informação da Justiça de Brasília e de outras fontes.

• MP da Bahia faz pastor se retratar de ofensa em culto aos homossexuais

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Comentários

K disse…
Ainda que eu mantenha uma posição discordante em relação às assertivas proferidas pelo pastor religioso, constato a ausência de elementos que sugiram qualquer forma de discriminação ou incitação à violência em suas palavras. É preciso salientar que as declarações do pastor, limitadas ao âmbito religioso, detêm validade tão somente para os fiéis adeptos daquela fé específica. Aqueles que não compartilham dessas convicções possuem uma solução plausível à disposição: desvincularem-se da igreja em questão. No entanto, é imprescindível ressaltar que a magistrada incorreu em equívoco, pois não compete aos tribunais determinar qual deva ser a interpretação "verdadeira" da Bíblia.
Paulo disse…
Sr. K, eu vejo a questão como cabível de extensa discussão, pois a juíza não está punindo tanto o pastor quanto à igreja, a não ser com a obrigatoriedade da retirada do vídeo das redes sociais. Ela não está intervindo nas instâncias internas da igreja, nem da religião cristã como um todo, nem está proibindo a leitura da bíblia. O que acontece, a meu ver, é que até mesmo as manifestações religiosas devam se adequar à realidade sócia e jurídica das sociedades em casa momento histórico. Todos sabemos que os textos bíblicos são também produtos históricos e sujeitos a diversas interpretações. Não me parece que a juíza está forçando uma interpretação que considere correta da bíblia, mas exigindo que a interpretação em questão fique restrita aos fiéis daquela igreja e não divulgada socialmente como que válida a todas pessoas indistintamente. O tal pastor não diz que os homossexuais que estejam entre os fiéis daquela serão mandados ao "inferno", mas, que "todos os homossexuais" irão, o que, portanto, convoca a uma animosidade social extensiva.
Por outro lado, afirmar que alguém será "mandado ao inferno" só tem sentido estrito àqueles que comungam da mesma fé. Por exemplo, quando algum cristão me diz que, por ser ateu, irei ao inferno após minha morte, não me atinge particularmente falando,vem nada. Porém, a que se considerar o alcance e as possíveis consequências desse discurso no nível social, uma vez que o cristianismo é dominante culturalmente no Brasil. Culturalmente, mas, de certa forma, também politicamente.
K disse…
Estimado Sr. Paulo

Conforme mencionou, a juíza está "exigindo que a interpretação em questão fique restrita aos fiéis daquela igreja e não divulgada socialmente". Todavia, é precisamente neste ponto que repousa a problemática em questão.

Numa sociedade democrática, a liberdade de opinião e expressão é um dos pilares fundamentais que sustentam a convivência harmoniosa entre cidadãos de diferentes perspetivas e crenças. É por meio dessa liberdade que as vozes individuais ganham espaço para serem ouvidas, debatidas e, quando necessário, contestadas.

No caso em questão, é relevante observar que o pastor em nenhum momento incentivou o ódio aos homossexuais, limitando-se a expressar uma convicção religiosa. É essencial distinguir entre a expressão de uma opinião e o discurso que promove a violência. Esse último deve ser, obviamente, condenado e combatido.

Creio que a liberdade de expressão não deve ser limitada a ideias consensuais ou populares, mas também deve abranger opiniões impopulares, polémicas ou mesmo ofensivas. Censurar opiniões impopulares ou discordantes é um perigoso precedente que atenta contra o cerne da liberdade individual. Afinal, a divergência de opiniões faz parte da riqueza e complexidade da sociedade, e é através do diálogo e da argumentação que podemos progredir rumo a uma maior compreensão mútua.

Além disso, a condenação de um discurso impopular pode gerar um efeito contraproducente, reforçando a noção de que determinadas opiniões devem ser proibidas. Se abrirmos esse caminho, teríamos de proibir também a divulgação na internet de shows de stand up, programas de tv ou rádio, podcasts, etc, pois todos eles contêm elementos potencialmente ofensivos. Seguindo a mesma ordem de ideias, até mesmo este site deveria ser proibido, pois tenho a certeza de que centenas, ou mesmo milhares de pessoas, o consideram ofensivo. No entanto, em vez de fomentar o debate saudável, a censura restringe a diversidade de ideias e, consequentemente, a possibilidade de se alcançar um consenso baseado em princípios fundamentais, como a tolerância e o respeito mútuo.

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