Na Inglaterra, houve de 2019 a 2022 pelo menos nove casos de lesões; a homeopatia é inútil até para causar danos, mas o perigo é que seus "remédios" são fabricados sem controle de qualidade
Os remédios homeopáticos são formulações altamente diluídas sem benefícios clínicos comprovados, acreditando-se tradicionalmente que não causam eventos adversos. No entanto, a literatura publicada revela efeitos colaterais sistêmicos locais e não hepáticos graves.
Uma revisão retrospectiva dos registros de janeiro de 2019 a fevereiro de 2022 na Inglaterra identificou 9 pacientes com lesão hepática atribuída a formulações homeopáticas. Causas concorrentes foram amplamente excluídas. A análise química foi feita com espectrometria de massa de cromatografia gasosa quadrupolo triplo e espectroscopia de emissão atômica de plasma acoplado indutivamente.
O sexo masculino predominou com idade mediana de 54 anos. A apresentação clínica mais típica foi hepatite aguda, seguida de insuficiência hepática aguda ou crônica. Todos os pacientes desenvolveram icterícia e ascite foram notáveis em um terço dos pacientes. Cinco pacientes tinham doença hepática crônica subjacente.
A prevenção da Covid-19 foi a indicação mais comum para o uso homeopático. Provável DILI (drug-induced liver injury ou, em português, lesão hepática induzida por drogas) foi observada em 77,8%, e lesão hepatocelular predominou (66,7%). Quatro (44,4%) pacientes morreram (3 com doença hepática crônica) em um acompanhamento médio de 194 dias.
A histopatologia hepática mostrou necrose, inflamação neutrofílica portal e lobular e infiltração eosinofílica com colestase. Um total de 29 remédios foram consumidos entre 9 pacientes, e 15 formulações foram analisadas. A toxicologia revelou solventes industriais, corticosteróides, antibióticos, sedativos,
Os autores concluíram que os remédios homeopáticos potencialmente resultam em lesão hepática grave, levando à morte naqueles com doença hepática subjacente. O uso de tinturas, diluição insuficiente, mas práticas de fabricação, adulteração e contaminação, e a presença de fitoterápicos hepatotóxicos foram os motivos da toxicidade.
Os médicos, o público e os pacientes devem perceber que as drogas homeopáticas não são 'placebos suaves'. A homeopatia tem o potencial de prejudicar pacientes e consumidores de forma direta e indireta. Os médicos devem estar cientes de seus riscos e aconselhar seus pacientes de acordo.
Isso causa protestos de fãs da homeopatia, que alegam que não se pode insistir que os remédios homeopáticos são ineficazes porque não contêm nenhum ingrediente ativo, ao mesmo tempo em que argumentam que causam efeitos adversos graves.
De certa forma, eles estavam certos: os remédios homeopáticos são inúteis até mesmo para causar efeitos adversos. Mas isso se aplica apenas a remédios fabricados correta e altamente diluídos. O problema é que o controle de qualidade em homeopatia muitas vezes parece ser menos do que adequado. E é assim que os efeitos adversos podem acontecer.
EDZARD ERNST
professor emérito da Escola de Medicina da Península, na Universidade de Exeter, Inglaterra
professor emérito da Escola de Medicina da Península, na Universidade de Exeter, Inglaterra
Os remédios homeopáticos são formulações altamente diluídas sem benefícios clínicos comprovados, acreditando-se tradicionalmente que não causam eventos adversos. No entanto, a literatura publicada revela efeitos colaterais sistêmicos locais e não hepáticos graves.
Uma revisão retrospectiva dos registros de janeiro de 2019 a fevereiro de 2022 na Inglaterra identificou 9 pacientes com lesão hepática atribuída a formulações homeopáticas. Causas concorrentes foram amplamente excluídas. A análise química foi feita com espectrometria de massa de cromatografia gasosa quadrupolo triplo e espectroscopia de emissão atômica de plasma acoplado indutivamente.
O sexo masculino predominou com idade mediana de 54 anos. A apresentação clínica mais típica foi hepatite aguda, seguida de insuficiência hepática aguda ou crônica. Todos os pacientes desenvolveram icterícia e ascite foram notáveis em um terço dos pacientes. Cinco pacientes tinham doença hepática crônica subjacente.
A prevenção da Covid-19 foi a indicação mais comum para o uso homeopático. Provável DILI (drug-induced liver injury ou, em português, lesão hepática induzida por drogas) foi observada em 77,8%, e lesão hepatocelular predominou (66,7%). Quatro (44,4%) pacientes morreram (3 com doença hepática crônica) em um acompanhamento médio de 194 dias.
A histopatologia hepática mostrou necrose, inflamação neutrofílica portal e lobular e infiltração eosinofílica com colestase. Um total de 29 remédios foram consumidos entre 9 pacientes, e 15 formulações foram analisadas. A toxicologia revelou solventes industriais, corticosteróides, antibióticos, sedativos,
Os médicos, o público e os pacientes devem perceber que as drogas homeopáticas não são 'placebos suaves'. A homeopatia tem o potencial de prejudicar pacientes e consumidores de forma direta e indireta. Os médicos devem estar cientes de seus riscos e aconselhar seus pacientes de acordo.
Isso causa protestos de fãs da homeopatia, que alegam que não se pode insistir que os remédios homeopáticos são ineficazes porque não contêm nenhum ingrediente ativo, ao mesmo tempo em que argumentam que causam efeitos adversos graves.
De certa forma, eles estavam certos: os remédios homeopáticos são inúteis até mesmo para causar efeitos adversos. Mas isso se aplica apenas a remédios fabricados correta e altamente diluídos. O problema é que o controle de qualidade em homeopatia muitas vezes parece ser menos do que adequado. E é assim que os efeitos adversos podem acontecer.
> Esse texto foi publicado originalmente no site do autor sob o titulo Nine cases of severe homeopathy-induced liver injuries. Edzard Ernst autorizou Paulopes a traduzir e publicar o artigo.
Comentários
Postar um comentário