Pular para o conteúdo principal

Ancestralidade africana pode amenizar risco genético do Alzheimer

Estudo aponta que gene associado ao desenvolvimento da doença ainda tem poucas pesquisas com populações não europeias

ASSESSORIA DE IMPRENSA DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência, síndrome caracterizada pela deterioração progressiva das funções cognitivas, que acarreta problemas na memória, atividades funcionais, pensamento e comportamento, tornando-se mais comum com o avanço da idade.

Embora o conjunto completo de causas ainda seja desconhecido, é sabido que certos genes podem aumentar o risco de desenvolvimento do Alzheimer, e um novo estudo indica que um deles, o gene APOE, pode ter seu impacto relacionado à ancestralidade dos indivíduos.

Trata-se de uma pesquisa realizada em parceria entre o Laboratório de Fisiopatologia do Envelhecimento (Gerolab) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com o Departamento de Genética da USP. Nela, foi investigada a complexa interação entre genética, lesões no tecido do sistema nervoso e cognição funcional em uma amostra de 400 indivíduos afetados pela patologia do Alzheimer com diferentes níveis de gravidade.

“Os resultados dessa pesquisa nos ajudam a entender como o principal fator genético para a doença de Alzheimer, que é a apolipoproteína E, se associa a essa condição de forma diferente entre pessoas que têm ancestralidade africana e aquelas que não têm grande quantidade dessa ancestralidade”, diz Claudia Kimie Suemoto, professora da Disciplina de Geriatria da FMUSP e pesquisadora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da faculdade.

Quem tem mais ancestralidade
africana seria menos suscetíveis
ao impacto do gene APOE4

A apolipoproteína E é codificada pelo gene APOE, que desempenha papel-chave no metabolismo de lipídeos, e cuja variação APOE4 é um dos principais fatores genéticos reconhecidos para a predisposição ao desenvolvimento da demência.

“Já se sabia há anos que a APOE4 é uma das variantes comuns com maior efeito sobre Alzheimer”, diz Michel Naslavsky, professor do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP e primeiro autor do estudo.

“O que tem se evidenciado recentemente, graças a estudos mais inclusivos com populações não europeias, é que o APOE4 pode ter um efeito atenuado a depender da ancestralidade.”

Assim, embora esse gene aparente ter efeito danoso em todos os grupos populacionais, indivíduos com mais ancestralidade africana seriam menos suscetíveis ao seu impacto.

Ambiente e genética

Segundo a literatura médica, pessoas com ancestralidade africana costumam ter menor acúmulo de lesões no tecido do sistema nervoso associadas ao Alzheimer. No entanto, quando essas lesões estão em grande quantidade, essa ancestralidade se associa a uma pior habilidade cognitiva. Nos EUA, por exemplo, a incidência de demências é cerca de duas vezes maior em afro-americanos do que em brancos e outras minorias.

“Grande parte das diferenças se dá por conta de exposições ambientais variadas”, comenta o professor Naslavsky. “Ainda assim, sabemos haver distinções genéticas em indivíduos que se autodeclaram brancos e negros devido a múltiplas ancestralidades.” 

O pesquisador ressalta que a complexidade aumenta quando se analisa países mais miscigenados, a exemplo do Brasil, onde muitos possuem APOEs de diversas origens.

A aposta dos cientistas é que, ao se identificar o papel relativo do APOE em cada população, será possível entender melhor as alterações funcionais no corpo que ocorrem em decorrência da doença de Alzheimer.

O próximo passo da pesquisa, segundo a professora Claudia Suemoto, será “continuar coletando mais casos de Alzheimer para aumentar a amostra e fazer outros estudos genéticos, não só com a apolipoproteína E, mas com outros genes candidatos de risco para essa doença”.

> Com informação do Molecular Psychiatry.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Polarização política exacerba o fundamentalismo religioso. É hora de mais ateus saírem do armário

MP pede prisão do 'irmão Aldo' da Apostólica sob acusação de estupro

Estudante expulsa acusa escola adventista de homofobia

Arianne disse ter pedido outra com chance, mas a escola negou com atualização Arianne Pacheco Rodrigues (foto), 19, está acusando o Instituto Adventista Brasil Central — uma escola interna em Planalmira (GO) — de tê-la expulsada em novembro de 2010 por motivo homofóbico. Marilda Pacheco, a mãe da estudante, está processando a escola com o pedido de indenização de R$ 50 mil por danos morais. A primeira audiência na Justiça ocorreu na semana passada. A jovem contou que a punição foi decidida por uma comissão disciplinar que analisou a troca de cartas entre ela e outra garota, sua namorada na época. Na ata da reunião da comissão consta que a causa da expulsão das duas alunas foi “postura homossexual reincidente”. O pastor  Weslei Zukowski (na foto abaixo), diretor da escola, negou ter havido homofobia e disse que a expulsão ocorreu em consequência de “intimidade sexual” (contato físico), o que, disse, é expressamente proibido pelo regulamento do estabelecimento. Co...

Video: autor de mosaicos de Aparecida foge de confronto sobre abuso de mulheres

Iemanjá decapitada teria sido vítima de intolerância religiosa

A cabeça da deusa foi deixada intacta na base da estátua A estátua de Iemanjá que fica defronte a uma praia turística de Cabo Branco, em João Pessoa (PB), foi decapitada no início da semana por pessoas sobre as quais a polícia não conseguiu obter informações. A imagem de 2,5 metros de altura tem cerca de 20 anos. A cabeça foi deixada intacta, na base de concreto da deusa das águas. Instalada na Praça Iemanjá, a imagem nunca tinha sofrido atos de vandalismo. Mãe Renilda, presidente da federação de cultos afro-brasileiros da Paraíba, afirmou que a decapitação “foi intolerância religiosa”. “Estamos tristes e indignados”, disse. “Por que decapitar e deixar a cabeça certinha no chão?” O Conselho Estadual dos Direitos Humanos, presidido pelo padre João Bosco, publicou nota repudiando "o desrespeito à diversidade religiosa". Fernando Milanez Neto, chefe da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da prefeitura, afirmou que gostaria de acreditar que a violência contra a ima...

Ateus são o grupo que menos apoia a pena de morte, apura Datafolha

Pastor americano de ‘cura’ gay é acusado de abusar de dois fiéis

Pastor pedia que fiéis se masturbassem  para avaliar "força espiritual" deles O reverendo Ryan J. Muelhauser (foto), 44, está respondendo à Justiça de Minnesota (EUA) à acusação de ter abusado sexualmente de dois fiéis, em diferentes ocasiões, durante sessões de "cura" gay. Ele é pastor sênior da Lakeside Christian Church's , que é uma denominação conhecida por oferecer reversão da homossexualidade por intermédio de orações e aconselhamento. Os relatos dos denunciantes se assemelham. Um deles falou que o pastor pedia que ele colocasse o pênis para fora da calça e se masturbasse, de modo a demonstrar a sua “força espiritual”. Ambos os fiéis afirmaram que Muelhauser os acariciava durante as sessões. O assédio do pastor ocorreu ao longo de dois anos em um local dentro da igreja e na casa de um parente de um dos denunciantes. Na avaliação de autoridades judiciais, o fato de ter havido consentido para o assédio, pelo menos até um certo momento, não ser...