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Bolsonarismo mostra que a serpente do fascismo saiu do ovo

Bolsonaristas se tornaram pessoas insuportáveis, sempre mais fanáticas e fundamentalistas

FERNANDO ALTEMEYER JUNIOR / opinião
mestre em teologia e em ciências da religião

Quando Afanásio Jazadji pedia, anos atrás, na rádio, aos seus ouvintes para que atacassem o cardeal Arns, muitos apoiaram chamando o então arcebispo de defensor de bandidos.

Quando Gil Gomes, Ratinho, Datena em programas de rádio e TV, como Cidade Alerta, Aqui Agora, 190 Urgente! inocularam, por anos, o veneno nas mentes e corações, houve indiferentismo e inércia.

Quando prenderam os democratas e alguns padres e pastores por defender os Sem-Terra, mulheres, indígenas e LGBTQIA+, muitos cristãos fingiram não ouvir o clamor dos mortos e violentados diariamente. Passaram ao largo sem ver o irmão caído. Não quiseram ser samaritanos.

Quando grupos de ultradireita como a TFP, Arautos e parte dos carismáticos e pentecostais, transformaram a religião em mercadoria, falsificando o Evangelho, e calando a profecia, muita gente achou normal. Quando alguns padres postaram fotos com armas nas mãos, seus superiores e bispos nada fizeram.

Quando o arcebispo de Aparecida defendeu a mensagem da paz contra as armas, alguns católicos enfurecidos e heréticos foram ao santuário da Mãe Aparecida atacar a sua pessoa e vilipendiar o espaço sagrado.

Cometeram crime pior do que o que diziam combater. Gritaram tanto contra o aborto e ao fim e ao cabo abortaram seus cérebros para pensar com lucidez. Se tornam marionetes manipulados pelo poder criminoso das milícias, da ultradireita semeando discórdia.

Transformam um homem em mito e desprezam a realidade dos atos que esse mesmo governante pratica contra o povo diariamente. Gritam por paz, mas carregam pedras nas mãos.

Falam de patriotismo, mas ofendem nordestinos ou vozes dissonantes. Usam redes como a de WhatsApp e TikTok para espalhar cizânia.


Falam de Deus, mas têm corações de pedra. Dizem ser brasileiros democratas, mas gritam xenofobia e aporofobia em suas marchas e cartazes. São cegos morais e analfabetos políticos.

A cada dia buscam um bode expiatório para esconder ressentimentos e fracassos. Exigem mudanças, mas vivem mergulhados em mentiras e falácias. Não estudam a história e repetem os erros do passado. Gritam contra o comunismo acabando por ser parteiros do fascismo. Nem os seus próprios filhos ou sobrinhos aguentam mais ouvi-los.

Bolsonaristas se tornaram pessoas insuportáveis, sempre mais fanáticas e fundamentalistas. Cegos conduzindo cegos. Ai de quem quiser furar a bolha e tirá-los de sua alienação grotesca: será amaldiçoado.

O fascismo penetrou vagarosamente, como uma bactéria mortal, a vida dos pobres e adestrou mentes para dividir e semear o joio nas igrejas e entre as famílias. Quando apresentaram em horário nobre, tantos programas tipo BBB, milhões votaram em favor da intolerância e da imoralidade durante semanas de terror e desprezo das pessoas confinadas.

Quando os senhores da UDR compraram seus cargos como governadores, senadores e deputados, houve silêncio e medo.

Quando os seguidores de Jânio Quadros, com seu populismo rasteiro, se metamorfosearam para o malufismo, muitos o aplaudiram, especialmente dentro da classe média paulista.

Quando esses malufistas assumiram o bolsonarismo fascista, com apoio de juízes e promotores corruptos, o povo, manipulado, se vestiu de verde e amarelo em atos fanáticos.

Passados quarenta anos do fim da ditadura militar (1985) observamos os aparelhos de Estado (governo, parlamento e judiciário) comandados em muitos Estados por milicianos. O número de cúmplices é imenso.

O Centrão comanda a corrupção por dentro da máquina estatal com um criminoso orçamento secreto, usando dinheiro público em emendas secretas, enquanto trinta milhões passam fome e seguem sem vacinas básicas.

Quando o povo vai despertar da hibernação e sair para as ruas pedindo por justiça e paz? Quando Catilina, veremos a primavera brotar tal qual um ipê amarelo anunciando tempos democráticos? Quando vai chover justiça? Quando vai brotar paz? Quando pastores e padres deixarão de pregar pedindo dinheiro e irão defender os pobres? Quando ouviremos a voz de Deus e não do dinheiro, do capital e dos banqueiros? Quando o povo voltará a ser povo? Haverá Brasil em 2023? Há esperança? Onde foram morar a felicidade e a serenidade?

Queremos vida e paz! Precisamos semear trigo para comer o pão da justiça e do amor. É hora de gritar e clamar. Não é o momento para calar diante da dor. Se nós calarmos, as pedras gritarão!

> Esse texto foi publicado originamente no site católico IHU Online com o título A serpente saiu do ovo e o fascismo se implantou pelo silêncio de muitos.

• Bancada evangélica é ovo do nazismo, afirma frei Betto

• Estado laico no Brasil só existe no papel, afirma professora

• Bolsonaro ignora a laicidade do Estado





Comentários

Anônimo disse…
Que texto lindo ❤️❤️❤️❤️❤️.
Anônimo disse…
E os petistas, é claro, ganharão o Nobel da Paz, né?
Ditadores e grupos terroristas do mundo todo estão contentíssimos com a eleição do ladrão.
Sei que a hipocrisia de vocês da esquerda - o discurso é um , a prática é o oposto - lhe impedirá de publicar meu comentário, mas sério que vocês não veem contradição num presidente de um estado democrático manter estreitas relações com ditadores sul-americanos declarados? Tá tudo certo?
Tá tudo certo dizerem que lutaram contra o governo militar e, ao mesmo tempo, aplaudirem a ditadura do Fidel? Não acham estranho os presídios estarem em festa?
Você diz ser ateu, não acreditar em Deus, mas acredita em algo mais inverossímil ainda, na honestidade da esquerda.
https://amarretadoazarao.blogspot.com/2022/11/aos-que-votaram-em-lula.html

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