Pular para o conteúdo principal

Apenas 27% dos franceses têm Bíblia em casa e poucos a leem

 Pesquisa verifica que 81% não leem o livro sagrado dos cristãos

LORENZO PREZZI / opinião
Settimana News

Tanto a liturgia cristã quanto a judaica preservam a solenidade da referência à Bíblia. Na comunidade celebrante, o gesto da abertura do livro e da sua leitura é realizado com cuidado. Mas, fora das fronteiras dos pertencimentos religiosos, o que a Bíblia, o grande código da cultura ocidental, significa hoje?

Não muito, seria possível dizer a partir de uma investigação sobre a França, promovida pelo jornal La Croix e pelo seu semanário L’Hebdo. Os resultados construídos a partir de uma amostra de 2.000 pessoas e publicados no dia 2 de junho são severos, até mesmo em comparação com pesquisas semelhantes de 2001 e de 2010.

Cerca de 27% dos entrevistados afirmam que têm uma cópia da Bíblia em casa (73% não); 81% dizem que nunca a leem, e dos 19% restantes apenas 4% a abrem pelo menos uma vez por mês.

A referência à Escritura é um fenômeno elitista, compreensível pelo fato de que, na tradição, ela nunca foi um elemento comum de integração religiosa. Uma longa história, marcada, aliás, pelo choque entre catolicismo e Reforma. Assim como a Reforma fez da Bíblia a sua divisa reconhecível, assim também o catolicismo a manteve afastada da prática cotidiana dos fiéis.

O clima mudou apenas no século passado. “No mundo católico – observa Guillaume Cuchet – até o século XX havia desconfiança em relação à divulgação do texto. Antes do Vaticano II, a Bíblia era um termo protestante. Os católicos usavam ‘Sagradas Escrituras’.”

Com o Concílio (1962-1965), a Igreja Católica trouxe novamente o livro sagrado para o centro, e, entre os anos 1960 e 1970, houve o nível máximo de proximidade dos católicos franceses com a Bíblia.

Hoje, católicos praticantes e protestantes se equivalem: tanto em relação à posse do livro (87% para os primeiros, 79% para os segundos) quanto à leitura pessoal, quanto ainda ao desejo de aprofundá-lo mais.

Bíblia cada vez menos
lida reflete decadência
do cristianismo 

“Depois do Vaticano II, o núcleo duro dos católicos praticantes, embora muito diminuído, integrou plenamente a Bíblia à sua vivência de fé. A leitura da Palavra de Deus já faz parte de um caminho obrigatório para muitos fiéis, para além das suas sensibilidades. Um resultado semelhante não era certo no início dos anos 1960.”

A permanência de alguns achados ou relatos da Escritura, transmitidas na tradição católica por meio do catecismo, mais do que a partir da leitura direta do texto, é muito mais ampla.

Cerca de 80% dos entrevistados conhecem alguns episódios bíblicos como o nascimento de Jesus, o relato da arca e do dilúvio, a morte e ressurreição de Cristo, as passagens do Gênesis sobre Adão e Eva. Cerca de 50% reconhecem o episódio da Torre de Babel, o sacrifício de Abraão, a história de Jonas e a figura de Jó.

Vestígios não identificados


A área de interesse em relação às Escrituras tende a ser muito vasta. Cerca de 50% dos entrevistados cultivam uma predisposição positiva em relação ao religioso e ao espiritual que o texto contém. E 40% estão intrigados do ponto de vista cultural, literário e histórico.

Mas esse interesse não é capaz de acender um reconhecimento das referências e das citações bíblicas que o patrimônio histórico e a cultura francesa contemporânea ainda contêm.

Para 80%, não há vestígios da Bíblia na cultura civil da vivência contemporânea. Para o psicanalista Jacques Arènes, passamos da negação ou da rejeição da cultura religiosa ao “desconhecimento dessa herança”.

A partir dos cerca de dez testemunhos diretos de personalidades públicas retomados pelo La Croix e L’Hebdo, cito alguns.

A escritora Amélie Nothomb:

“Comecei a ler a Bíblia entre os três e os quatro anos de idade. Não entendia o seu sentido, mas reconhecia o seu som: é o que ainda me acompanha. Meu pai me falou de Jesus. Procurei o seu som na Bíblia e encontrei os Evangelhos. Uma partitura musical obsessivamente marcada que me fez bem.”

O grão-rabino da França, Haïm Korsia:

“A Bíblia é um sopro que dá vida. E não uma vida qualquer: a nossa. Aí se encontra toda ela, é a nossa vida.”

Cédric O., ex-secretário de Estado para a transição digital:

“A minha relação com a Bíblia é feita de pesquisa, de mistério, de grande proximidade. Para mim, é um objeto de trabalho, um caminho, no qual as perguntas são mais importantes que as respostas.”

Karine Lacombe, infectologista na Sorbonne:

“Não posso dizer que eu abro a Bíblia com frequência, pratico a fé menos do que os meus pais. Mas acredito que aquelas páginas forjaram a relação que eu tenho com os outros e sobretudo o meu modo de praticar a medicina. A fraternidade, a solidariedade, a generosidade: todos valores que descobri nas Escrituras, essenciais para o meu trabalho de cuidado.”

Marie Derain de Vaucresson, presidente do órgão nacional independente para o reconhecimento e a reparação dos abusos:

“A Bíblia é uma companheira de viagem. Com as leituras do dia – isso não é particularmente original – tenho uma frequentação cotidiana com a Escritura. Ler textos que são rezados por todos os cristãos do mundo me permite sentir a Igreja universal, como a minha tia freira em Soweto (África do Sul), os meus amigos em Benin, os meus familiares, as pessoas que sofrem e rezam.”

> Com tradução de Moisés Sbardelotto para o site católico IHU Online. O título original do texto é
França: Bíblia em eclipse

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia




Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Deputado gay é ameaçado de morte no Twitter por supostos evangélicos

Resposta do deputado Jean Wyllys O militante gay e deputado Jean Wyllys (PSOL) recebeu hoje (18) pelo Twitter três ameaças de morte de supostos evangélicos. Diz uma delas: "É por ofender a bondade de Deus que você deve morrer". Outra: "Cuidado ao sair de casa, você pode não voltar". A terceira: “"A morte chega, você não tarda por esperar".  O deputado acredita que as ameaças tenham partido de fanáticos religiosos. “Esses religiosos homofóbicos, fundamentalistas, racistas e enganadores de pobres pensam que me assustam com ameaças de morte!”, escreveu ele no Twitter. Wyllys responsabilizou os pastores por essas “pessoas doentes” porque “eles as conduzem demonizando minorias”. Informou que vai acionar as autoridades para que os autores da ameaça seja penalizados. Escreveu: "Vou recorrer à Justiça toda vez que alguém disseminar o ódio racista, misógino e homofóbico no Twitter, mesmo que seja em nome de seu deus". Defensor da união civi...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Em vídeo, Malafaia pede voto para Serra e critica Universal e Lula

Malafaia disse que Lula está fazendo papel de "cabo eleitoral ridículo" A seis dias das eleições, o pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, gravou um vídeo de 8 minutos [ver abaixo] pedindo votos para o candidato à prefeitura de São Paulo José Serra (PSDB) e criticou a Igreja Universal e o ex-presidente José Inácio Lula da Silva. Malafaia começou criticando o preconceito que, segundo ele, existe contra pastor que emite opinião sobre política, o mesmo não ocorrendo com outros cidadãos, como operários, sindicalistas, médicos e filósofos. O que não pode, afirmou, é a Igreja, como instituição, se posicionar politicamente. “A Igreja é de Jesus.” Ele falou que tinha de se manifestar agora porque quem for para o segundo turno, se José Serra ou se Fernando Haddad, é quase certeza que será eleito, porque Celso Russomanno está caindo nas pesquisas por causa do apoio que tem recebido da Igreja Universal. Afirmou que apoia Serra na expectativa de...

Orkut tem viciados em profiles de gente morta

Uma das comunidades do Orkut que mais desperta interesse é a PGM ( Profile de Gente Morta). Neste momento em que escrevo, ela está com mais de 49 mil participantes e uma infinidade de tópicos. Cada tópico contém o endereço do profile (perfil) no Orkut de uma pessoa morta e, se possível, o motivo da morte. Apesar do elevado número de participantes, os mais ativos não passam de uma centena, como, aliás, ocorre com a maior parte das grandes comunidades do Orkut. Há uma turma que abastece a PGM de informações a partir de notícias do jornal. E há quem registre na comunidade a morte de parentes, amigos e conhecidos. Exemplo de um tópico: "[de] Giovanna † Moisés † Assassinato Ano passado fizemos faculdade juntos, e hoje ao ler o jornal descubri (sic) que ele foi assassinado pois tentou reagir ao assalto na loja em que era gerente. Tinha 22 anos...” Seguem os endereços do profile do Moisés e da namorada dele. Quando o tópico não tem o motivo da morte, há sempre alguém que ...