Pular para o conteúdo principal

Vacinados podem transmitir variante alfa do novo coronavírus, mostra estudo

> ANDRÉ JULIÃO
Agência FAPESP

Dois surtos de transmissão da variante alfa do novo coronavírus mostram que mesmo vacinados ainda podem transmitir o vírus e desenvolver COVID-19, mas a vacinação previne casos graves. 

A conclusão é baseada no sequenciamento genético das cepas que contaminaram moradores e funcionários de duas casas de repouso de Campinas, no interior paulista. 

Os infectados, com média de idade acima de 70 anos, tomaram uma dose da vacina da AstraZeneca ou as duas da CoronaVac. Foi registrado um único óbito, de uma pessoa de 84 anos com Alzheimer.

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado na plataforma Preprints with The Lancet, ainda sem revisão por pares. 

"Os resultados mostram que pessoas que foram vacinadas podem se infectar com a variante alfa e, independentemente de ter a doença ou não, transmitir o vírus a quem ainda não foi vacinado. Isso é preocupante porque pode gerar um gargalo de seleção para linhagens que podem voltar a causar a doença mesmo em pessoas vacinadas. E mostra a importância de manter medidas de distanciamento social e o uso de máscara”, conta José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), que coordenou o estudo.

Em um trabalho anterior, o grupo havia mostrado que o soro do sangue de pacientes vacinados com a CoronaVac criava menos anticorpos para a variante gama (P.1) do que para a linhagem original do vírus, indicando, portanto, que os vacinados poderiam potencialmente se infectar 

Estudo publicado em abril por pesquisadores da Universidade de Oxford mostra que a variante alfa pode infectar mesmo imunizados com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca.

“Nosso trabalho é um dos primeiros relatos de uma dinâmica de transmissão de uma variante de preocupação do SARS-CoV-2 em pessoas vacinadas. Ao mesmo tempo, com uma taxa de agravamento da doença muito baixa, muito menor do que esperaríamos de uma população com uma média tão alta de idade. Portanto, mostra um efeito protetor da vacinação para o desenvolvimento de COVID-19”, explica Módena.

O estudo ressalta, no entanto, uma dinâmica de transmissão sustentada do vírus. Os surtos foram contidos por conta de um diagnóstico rápido e o isolamento imediato dos infectados pelo Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Com isso, pouco mais da metade das populações estudadas foi infectada.

Os pesquisadores mediram a carga viral em vacinados infectados nos dois locais, mas não houve diferenças significativas entre as duas vacinas. Além disso, avaliaram a quantidade de anticorpos neutralizantes para a variante alfa nos que testaram positivo.

“Não encontramos correlação do quadro da doença com o título [quantidade] de anticorpos neutralizantes. Quem teve sintomas tinha mais anticorpos do que os assintomáticos, provavelmente uma resposta à infecção e não às vacinas. Isso quer dizer que a proteção não depende necessariamente apenas de anticorpos, mas de outros componentes da resposta imune induzida pela vacinação”, explica o pesquisador.

Casos leves e assintomáticos


A variante alfa, anteriormente chamada de B.1.1.7, foi detectada pela primeira vez no Reino Unido em setembro de 2020 e foi responsável pela segunda onda da pandemia naquele país e em outros da Europa. No Brasil, foi reportada pela primeira vez em dezembro de 2020 e sua presença comprovada em mais de dez Estados.

No estudo atual, foram sequenciados genomas do novo coronavírus de moradores e trabalhadores de dois lares de idosos de Campinas. O sequenciamento teve apoio do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela FAPESP.

Em um dos surtos, em um convento de freiras aposentadas, 15 das 18 residentes e sete dos oito funcionários foram vacinados com uma dose da vacina ChAdOx1, desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A média de idade era de 73 anos. Foram 16 casos registrados, metade deles classificados como leves e a outra metade como assintomáticos. Não houve casos moderados ou severos e nenhum exigiu hospitalização.

No outro local, uma casa de repouso para homens e mulheres, 32 dos 36 residentes e dez dos 16 funcionários tomaram as duas doses da CoronaVac, do laboratório SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. Em 18 dos 22 casos (75%) o quadro foi assintomático e, nos outros quatro, leve. A média de idade dos pacientes era 77 anos.

No mesmo asilo, dias antes das coletas para o estudo, um residente de 84 anos com Alzheimer apresentou sintomas de COVID-19, depois confirmada, 21 dias depois de tomar a segunda dose da vacina. Ele morreu após cerca de 20 dias internado.

Os autores ressaltam que o resultado aponta, sim, uma proteção das vacinas para quadros graves de COVID-19, mas que é preciso vacinar a maior parte da população o mais rápido possível. Outra mensagem é que pessoas vacinadas devem continuar adotando medidas não farmacológicas, como uso de máscara e distanciamento social.

> O artigo Clusters of SARS-CoV-2 lineage B.1.1.7 infection after vaccination with adenovirus-vectored and inactivated vaccines: a cohort study pode ser lido em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3883263.

Comentários

Leandro Bueno disse…
Todo mundo sabe que essas vacinas não são essa "Brastemp" toda que a mídia pinta, mas, é o que temos. Por isso, defendo o seu uso, pois mesmo com as deficiências delas, acabam por criar mais anticorpos. Já tomei a minha 1a dose de Astrazeneca. Agora, minha esperança existencial não estão em vacinas. Não faço delas um fim em si mesmo.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

'Não entendo como alguém pode odiar tanto quem é diferente'

por Concebida Sales Batista a propósito de Associação de gays pede a retirada do ar do programa do Malafaia Escreverei pessoalmente à procuradora [Gilda Pereira de Carvalho], e em acordo com as dificuldades de saúde que atravesso, sob autorização médica, irei à Brasília obter audiência particular com ela. Perdi um filho no passado por crime de homofobia e recentemente um amigo muito íntimo, por bullying acadêmico, pelas mesmas razões, só que por homofobia inversa, que é praticada por homossexuais que se disfarçam de heterossexuais e ocupam cargos nas universidades e igrejas. Eles perseguem quaisquer jovens talentosos que lhes pareça ameaçar a vida dupla que levam, aliciando outros incompetentes por critérios sexuais e temendo serem descobertos, alijam os possíveis e eventuais discordantes, fazendo-o previamente pela perseguição odiosa. Meu amigo era também um colaborador assíduo deste site, e perdi-o para sempre. Deus sabe as razões por que abandonou a faculdade, não me pr

Vídeo de pastor mostra criança em situação de constrangimento

Imagens pegam menina em close se contorcendo no chão Um vídeo de 3 minutos [ver trecho abaixo] do ministério do pastor Joel Engel, do Rio Grande do Sul, expõe uma criança em situação de constrangimento ao mostrá-la se contorcendo no chão ao lado do seu pai, em uma sessão de descarrego. Pelo artigo 232 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente), comete crime quem submete menor de idade sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexames ou constrangimento. É o caso deste vídeo. Na gravação, a mãe diz o nome da filha. Ao final, Engel afirma: “O que Deus está fazendo aqui é impressionante”. Em outra oportunidade, Angel já tinha passado por cima do Eca ao pegar como oferta o único par de tênis de um menino, deixando-o descalço e com o rosto de choro. . Se o Conselho Tutelar e o Ministério Público tivessem enquadrado na época o pastor, ele certamente agora pouparia a menina do vexame. Imagens vexatórias Pastor Joel Engel pega como oferta único par de tênis de

Evangélicos retomam a crendice de que Xuxa fez pacto com o diabo

Sites e blogs, na maioria evangélicos, aproveitaram um gesto de Xuxa Meneguel (foto), 47, no show de Natal da TV Globo, dia 24, para reforçar a crendice de que ela tem um pacto com o diabo. Após cantar a música “Vem chegando o Natal”, ela fez "o sinal da cruz dos católicos", ressalta um dos blogs, e levantou os dedos mínimo e o indicador. Na linguagem dos sinais, o gesto significa “Eu te amo” -- a apresentadora tem muitos fãs entre os surdos. Para Notícias Cristãs, contudo, a apresentadora “mais uma vez” é “alvo de suposições de sua relação com Deus e o Diabo”. O blog, que não cita as suas fontes, postou o vídeo “Xuxa debocha de Deus” com o trecho em que ela faz o gesto. O vídeo foi deletado por quem o colocou no Youtube. O Gospel Mais noticiou – também sem citar fontes -- que “Xuxa causa polêmica após fazer sinal de “chifrinhos”. Ele reproduz um vídeo editado com a simulação de câmera lenta e uma música com o propósito de  incutir a mistificação. [Abaixo uma cópia das i

Brasil já tem pelo menos dez igrejas dedicadas aos gays

Título original: Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil por Luís Guilherme Barrucho , da BBC Brasil As inclusivas se concentram no eixo São Paulo-Rio Encaradas pelas minorias como um refúgio para a livre prática da fé, as igrejas "inclusivas" - voltadas predominantemente para o público gay - vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras. Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas gay-friendly no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país. Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélico

Colégio adventista ensina dilúvio em aula de história

Professor coloca criacionismo e evolução no mesmo nível No Colégio Adventista de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá (MT), o dilúvio é matéria de ensino não só nas aulas de religião, mas também nas de história, embora não haja qualquer indício científico de que tenha havido esse evento da natureza conforme está descrito na Bíblia. Para Toni, estudantes "confirmaram' a crença A foto do professor Toni Carlos Sanches  em uma sala de aula do 6º ano considerando na lousa a possibilidade de os fósseis terem se formado na época do dilúvio tem gerado acalorado debate no Facebook, a ponto de o colégio ter emitido uma nota tentando se justificar. O colégio informou que ministra aulas de criacionismo em conjunto com evolucionismo, admitindo, assim, que coloca os textos bíblicos no mesmo patamar de credibilidade da teoria do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), autor do livro "A Origem das Espécies". A nota procura dar ideia de

Icar queixa-se de que é tratada apenas como mais uma crença

Bispos do Sínodo para as Américas elaboraram um relatório onde acusam autoridades governamentais de países do continente americano de darem à Igreja Católica um tratamento como se ela fosse apenas mais uma crença entre tantas outras, desconsiderando o seu “papel histórico inegável”. Jesuíta convertendo índios do Brasil Os bispos das Américas discutiram essa questão ao final de outubro em Roma, onde elaboraram o relatório que agora foi divulgado pela imprensa. No relatório, eles apontam a “interferência estatal” como a responsável por minimizar a importância que teve a evangelização católica na formação da identidade das nações do continente. Eles afirmaram que há uma “estratégia” para considerar a Igreja Católica apenas pela sua “natureza espiritual”,  deixando de lado o aspecto histórico. O relatório, onde não há a nomeação de nenhum país, tratou também dos grupos de evangélicos pentecostais, que são um “desafio” por estarem se espalhando “através de um proselitismo fo

Traição feminina cresce e a masculina cai, revela pesquisa

Mulheres de gerações mais recentes traem mais As casadas na faixa de 18 a 25 anos traem os maridos mais do que as mulheres de gerações anteriores. De acordo com 8.200 entrevistas feitas em dez capitais brasileiras, praticamente metade delas (49,5%) revelou ter tido relações extraconjugais. O percentual de traições entre as mulheres de 41 a 50 anos é de 34,7%. Das entrevistadas acima de 70 anos, 22% admitiram ter cometido em algum momento de sua vida o adultério. A pesquisa faz parte do estudo Mosaico Brasil 2008, coordenado pela psiquiatra Carmila Abdo, do ProSex (Projeto Sexualidade) da USP. Os homens continuam mais infiéis, mas o percentual deles vem caindo em comparação com o tempo de jovem da geração que hoje está com 70 anos [ver quadro], enquanto o número de adúlteras se mantém em alta. Numa projeção, em alguns anos elas deverão empatar com os homens ou até superá-los. A Istoé desta semana, que publicou os dados inéditos do Mosaico, ouviu algumas mulheres sobre

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Deus quer 30% do ganho deste mês dos fiéis, afirma Valdemiro

Valdemiro Santigo (foto), 46, fundador da IMPD (Igreja Mundial de Poder de Deus), diz na tv que o pedido não é dele, mas, sim, de Deus, que lhe falou: “Chama o meu povo e peça 30% de tudo que Eu lhe der neste mês de dezembro”. É curioso que Deus tenha resolvido fazer tal pedido justamente no mês em que os trabalhadores ganham o 13º salário. Valdemiro explica: “Se Ele lhe der R$ 1.000, você vai ter de devolver R$ 300. Se Ele lhe der R$ 10.000, você vai ter de dar R$ 3 mil.” A representante do Deus, para receber a “devolução”, é a IMPD, claro. Para o autoproclamado apóstolo, é justo que os fiéis façam uma doação dessa monta “uma vez na vida”. Ele assegura que, em troca dos 30%, os fiéis terão realizado “o projeto de sua vida”. Porque é Deus que “faz o povo prosperar e ficar rico”. Afirma que, com o dinheiro,  ele vai ganhar mais almas. “Esse é o meu projeto.” Valdemiro tem pressa: “Mande a carta [com dinheiro] até o dia 15 de dezembro. Comece a mandá-la já. […] Q