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Sou de São Paulo, tenho 38 anos e sofri abuso de João de Deus

"Fiz uma série de viagens a Abadiânia. Na primeira delas fiz a cirurgia espiritual e voltei para casa. Eu tinha um problema de saúde e, vinte dias depois de ter ido à Abadiânia pela primeira vez, refiz meus exames e alguns dos meus índices estavam dando como se fossem perfeitos. Nenhum médico sabia explicar, então comecei a correlacionar.

A partir da terceira vez, nem pensava mais no meu problema, mas sim como uma cura espiritual, um lugar que me fazia bem. As pessoas comentavam que dava para ver que eu estava muito envolvida, porque eu levava pessoas, eu me sentia muito bem.

Todas as vezes em que eu ia, a entidade (o médium supostamente incorporado) falava comigo. Mas, um dia, a entidade pediu que eu falasse com o médium. Eu não fui sozinha, o que o deixou muito irritado. Ele me pediu que voltasse em alguns dias para pedir por outra pessoa. Então fui, levei fotos e coisas da pessoa pela qual eu queria pedir. Novamente, a entidade me disse 'vá falar com o médium'. Fiquei sem entender.

"Ele olhou para mim,
 pegou minha mão e
 colocou no pênis dele"

Tem uma sala ao lado da sala de cirurgia, uma porta azul. Eu estava do lado de fora dessa porta, em uma fila de pessoas que se forma ali, esperando o atendimento do médium. Mas a sessão da tarde já estava próxima e com certeza não daria para todos serem atendidos. Ele abriu a porta, apontou para mim e disse 'venha'. Logo que entrei, um voluntário fez um gesto dizendo que os atendimentos tinham sido encerrados, as pessoas se afastaram. Eu fui a última.

Logo que entrei, quis abordar o assunto da outra pessoa pela qual eu queria pedir. Mas, na hora em que pisei dentro da sala, ele perguntou se eu estava sozinha. Quando respondi que sim, ele apagou a luz e trancou a porta com a chave. Logo de cara falou: 'Minha filha, para a sua vida andar eu preciso destravar algumas coisas'.

 Eu argumentei que não tinha ido ali para falar de mim, mas ele me ignorou. Tirou da minha mão tudo que eu tinha trazido, como se não tivesse a menor importância. Me chamou em um canto da sala, que é bem pequena e tem duas poltronas. Esse canto tem como um banheiro, onde tem uma pia e um box de vidro.

Ali ele ficou de costas para a pia e pediu para eu ficar de costas para ele. Ele repetia 'vem aqui', 'vem mais perto'. E eu pensando que se chegasse mais perto iria encostar nele. Então, ainda assim, tentei ficar o mais longe que conseguisse. Aquilo me gerou um incômodo muito grande, eu comecei a chorar.

Ele disse 'eu preciso te passar energia' e colocou a mão levemente entre meus dois seios, por cima da roupa. Depois colocou a mão em cima da coxa, por cima da roupa. Ele repetia que precisava me passar energia 'ou sua vida não vai destravar'. Eu fiquei nervosa, chorava, soluçando, aos prantos, de desespero. Ele dizia que era para eu parar, 'assim eu não dou conta', repetia. Dizia que precisava fazer aquilo.

Naquele momento eu queria sair dali, mas tive muito medo. Medo que ele me fizesse mal, afinal de contas é uma pessoa muito poderosa, tanto no campo espiritual quanto físico.

Ainda comigo de costas para ele, ele pegou minha mão, puxou para trás e colocou na barriga dele, logo abaixo do umbigo. Pedia que eu girasse nove vezes a mão. E mandava que eu fizesse três perguntas. Eu achava tudo estranho e pensava 'isso não faz sentido'.

Então ele começou a dizer que eu era médium, que eu já tinha trabalhado com ele em outras vidas, dizendo que com minha fé e mediunidade eu ia fazer mil coisas e que ainda trabalharíamos muito juntos.

Nisso, mandou eu virar de frente. Eu soluçava de tanto chorar. Até que, para piorar a situação, ele disse: 'olha, calma, eu não estou com tesão, mas preciso fazer isso para te curar'. E eu pensei: 'Meu Deus, esse homem, para estar falando isso, é porque está pensando em algo, mesmo'. Ele estava com uma camisa azul, de manga curta e botão. Quando virei de frente, a camisa estava aberta. Aquilo me deu um pânico. Pensei: 'Estou trancada aqui com um cara de setenta e tantos anos de idade… o que é isso?!'.

Aí ele pegou de novo meu dedo e colocou embaixo do umbigo dele, e falava para eu virar a mão nove vezes. Tudo era nove vezes.

Ele tinha como um buraco abaixo do umbigo, que a pele afundava. Eu só rezava para Deus me tirar dali.

A gente passou, nessa pia, uns quarenta minutos. Depois disso, ele viu que eu estava bem irritada. Aí perguntou se eu queria parar. Fiz um gesto de positivo e ele se afastou de mim. Pensei comigo: 'Graças a Deus, acabou essa tortura'. Ele começou a fechar a camisa.


Quando finalmente achei que tinha terminado, fui na direção da porta, mas ele se meteu no meu caminho. Quando olho, ele está com a calça aberta. Olhei aquilo e fiquei absolutamente transtornada. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Foi quando, de fato, caiu a ficha.

Ele olhou para mim, pegou minha mão e simplesmente colocou no pênis dele. Puxei de volta, tirando. Ele pegava e colocava no pênis dele de novo. Eu não sei quantas vezes isso aconteceu. Novamente, ele falava 'Nove vezes'. Eu estava em pânico e não raciocinava. Não conseguia reagir e sair dali. Uma hora, quando mais uma vez ele colocou minha mão no pênis dele, ela ficou melada. Eu não fiquei fazendo movimento, só puxava minha mão de volta e ele colocava lá, forçadamente.

Todo esse tempo eu estava em prantos. E ele visivelmente estava irritado com isso.

Aí ele me pegou pelo punho, me levou até a pia e lavou a minha mão.

Saindo dali, ele me levou para a sala de cirurgias (só havia uma porta de vidro com uma cortina entre onde estávamos e a sala), onde muitas pessoas o esperavam.

Lá, ele levantou minha mão, na frente de todos. Eu completamente suada e com uma cara de desespero. E ele disse 'vocês estão todos operados'. Eu, que já tinha estado naquele lugar outras vezes, me senti extremamente violentada.

Fique imaginando o quanto aquelas pessoas, que estavam ali pelos mesmos motivos que eu, tampouco podiam imaginar o que acontecia nos intervalos do atendimento. Pior, teve um voluntário que claramente percebeu o que estava acontecendo e nada fez.

Depois fui entender que aquilo é muito mais comum do que se imagina, e que muitos voluntários da Casa sabem o que acontece por ali. Mas as pessoas se calam. Eu queria pedir ajuda, mas não tinha a quem pedir.

Nunca mais voltei lá. Permaneci em silêncio até agora porque, do mesmo jeito que eu tive a cura, fiquei achando que com o poder que ele tem também poderia me fazer o mal.

Segundo, eu não conseguia raciocinar o que tinha acontecido, permaneci em choque. É muito difícil acreditar que, no lugar onde você busca sua espiritualidade, você pode ser abusada. É uma experiência horrível, inenarrável, que vou ter que lidar para o resto da vida."

Esse depoimento foi concedido ao jornal "O Globo".



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