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Mulheres denunciam abusos cometidos e encobertos por cardeais da Índia

por Claire Giangrave e Elise Harris
para Crux

Um dos organizadores indicados pelo papa Francisco para planejar uma cúpula no Vaticano, entre os dias 21 e 24 de fevereiro, sobre o abuso sexual de pessoas vulneráveis foi acusado por uma de suas ex-colaboradoras de encobrir abusos em sua própria arquidiocese na Índia.

“Meu bispo está entre os organizadores, o que me deixou perplexo”, disse Virginia Saldanha, nascida na Índia e ex-diretora da comissão de mulheres da Federação das Conferências Episcopais da Ásia. 

“O que ele vai fazer? Vir com mais ideias de encobrimento?”

Saldanha estava se referindo ao cardeal Oswald Gracias (foto abaixo), de Mumbai, que também atua no conselho de cardeais conselheiros de Francisco, o “C9”. 

Gracias foi nomeado para organizar a tão esperada reunião dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo e de especialistas de vários campos para a proteção de menores e adultos vulneráveis.

Gracias é
 próximo do
papa Francisco

Com 20 anos de experiência na Igreja indiana, Saldanha ocupou um dos primeiros lugares nas rápidas mudanças que levaram à prisão de dom Franco Mulakkal, bispo de Jalandha, por abusar sexualmente de uma religiosa 13 vezes.

“Várias mulheres vinham até mim e me contavam sobre esse problema”, disse ela, relatando os primeiros casos em que mulheres leigas e religiosas iam ao seu encontro para falar sobre abuso sexual, acrescentando que “era um tema de conversa apenas entre as mulheres”.

Depois do congresso do Instituto dos Bispos do Leste Asiático sobre as Mulheres, realizado em Taiwan em 2010, uma jovem visitou-a para lhe contar sua experiência de abuso sexual nas mãos de um padre durante um retiro espiritual chamado “Discutir e discernir”. A mulher, que estava se recuperando do trauma e buscando direção espiritual, disse a Saldanha que ela havia sido estuprada pelo padre que alegou que Deus a estava curando por meio dele.

A suposta vítima também disse que havia procurado o arcebispo e seus dois vigários para obter orientação, mas não obteve resposta.

Saldanha viu o suposto padre agressor em sua própria paróquia e ligou os pontos que cercavam o mistério da sua presença. Reunindo um grupo de ativistas e sobreviventes, incluindo outras supostas vítimas de abuso pelo mesmo padre, ela foi ao encontro de Gracias para exigir uma ação e uma investigação interna.

Gracias disse a ela que ele estava “muito ocupado” e concordou em criar um comitê de investigação somente depois que Saldanha lhe disse para nomear um bispo em seu lugar, disse ela. Depois que o protocolo foi seguido, com as vítimas dando seu testemunho dos fatos, Gracias disse a Saldanha que a documentação havia sido enviada ao Vaticano, onde não recebeu nenhuma resposta.

Somente no período de Natal, seis meses depois, o padre foi finalmente mandado embora da paróquia, disse ela. Quando Saldanha perguntou a Gracias por que ele não contou à paróquia a razão pela qual o padre havia sido mandado embora, ela afirma que ele respondeu: “Eu não tenho que lhe dar uma resposta. Nosso encontro acabou”.

Ela também disse que, após sua defesa em nome das vítimas de abuso sexual clerical, ela foi condenada ao ostracismo pela sua paróquia e não foi mais incluída nas atividades comunitárias.

Embora Saldanha tenha se recusado a citar nomes, seu relato pode se referir ao padre Conrad Saldanha (sem nenhuma relação com Virginia). Em um artigo publicado em 2014 pelo jornal indiano Mumbai Mirror, o padre reclamou das más condições que ele experimentou no Seminário Arquidiocesano de Goregaon East, uma indicação das ações que haviam sido tomadas pela arquidiocese.

A Arquidiocese de Mumbai respondeu com uma declaração dizendo que haviam “recebido denúncias de grave má-conduta do padre Conrad Saldanha. Um inquérito foi realizado e, com base nas conclusões do comitê de inquérito, foram impostas medidas corretivas apropriadas. Essas medidas corretivas incluíram um retiro orientado e aconselhamento terapêutico em Bangalore”.

Mas a declaração, datada de 2 de agosto de 2014, também afirmava que “o cardeal Gracias fez mais de uma tentativa para ir ao encontro do padre Saldanha” e se reuniu com outros padres “a fim de iniciar um diálogo amigável e se certificar se havia outro lugar em que o padre Saldanha gostaria de residir”.

Saldanha disse na terça-feira que, enquanto ela pressionava Gracias para agir contra o padre, o cardeal respondeu que o padre não estava colaborando ou fornecendo seu testemunho e que “não ouviu” o bispo.

Saldanha disse ao Crux que o padre está agora fora do seminário e ainda desempenhando seu ministério sacerdotal. Ela alegou que, quando ela e um grupo de ativistas “fizeram barulho”, eles foram questionados por Gracias: “Por quanto tempo você espera que ele seja punido?”.

Saldanha contou sua história durante um congresso intitulado “Superar o silêncio: a voz das mulheres na crise dos abusos”, organizado pelo grupo Voices of Faith, que ocorreu no centro de Roma no dia 27 de novembro. O evento tinha como objetivo trazer à tona histórias relevantes para o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

O caso de Carlos Saldanha não foi o único que ela relatou durante o congresso de quatro horas. Ela também alegou que, em 2016, um padre acusado de abusar sexualmente de dois órfãos irmãos na Arquidiocese de Mumbai foi enviado a um “ano sabático” no Canadá, antes de ser autorizado a retornar à paróquia.

Saldanha disse que “não espera nada” da cúpula de fevereiro no Vaticano sobre os abusos sexuais e, em vez disso, pediu a inclusão de mais mulheres no evento e nos processos de tomada de decisão.





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