Pular para o conteúdo principal

Universal se adapta às crenças de Moçambique e obtém influência política


No Brasil, Iurd
 demoniza as crenças
de afrodescendentes,
mas na África respeita
 as religiões locais


por Luccas Nunes
para Jornal da USP

No Brasil a Igreja Universal já chegou ao ponto da ofensa, praticada principalmente contra religiões de matrizes africanas. E se a Igreja fosse para a África, como seria sua abordagem do assunto?

Em sua tese de doutorado, intitulada A igreja Universal e o espírito da palhota: análise dos discursos ‘religiosos’ e ‘políticos’ da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no sul de Moçambique, o pesquisador Silas Fiorotti, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, investigou o posicionamento da igreja em solo africano e colheu resultados interessantes: ao contrário do que ocorre no Brasil, em Moçambique a Iurd não demoniza religiões de matrizes africanas por questões culturais, e essa postura lhe concede um aumento na popularidade tal que torna possível a luta por poder político no país.


Fiorotti conta que “em Moçambique o espírito ancestral da família é muito bem quisto e respeitado, então se a igreja combatê-lo estará combatendo a família.”

Ele percebeu que houve uma mudança de abordagem por parte da Iurd com o intuito de evitar a ofensividade para com a cultura e os costumes do país. 

A igreja praticou de algo que, análogo ao movimento brasileiro literário-cultural do século 20, a antropofagia, pode ser chamado de religiofagia. 

A Iurd levou sua religião para Moçambique, mas não se limitou a ela: adaptou-se e assimilou religiões nativas do país.

“Nos cultos, eles trazem pastores moçambicanos para assessorar. Por exemplo, a chamada ‘sessão do descarrego’ é dirigida por um pastor moçambicano, porque ele tem a sensibilidade de não expulsar um espírito familiar, de não falar nada ofensivo, nem usar objetos que possam ser interpretados de forma ofensiva.”

Tudo isso é feito para que não ocorram deslizes desrespeitosos do ponto de vista cultural, e evite-se a rejeição.

Todo esse cuidado com deslizes e desrespeitos, entretanto, não é em vão. 

Segundo Fiorotti, além da “menor liberdade de ofensa religiosa em comparação ao Brasil”, a popularidade conferida por essa postura abre as portas do mundo da política à igreja. 

Não à toa o presidente da Iurd no país, José Guerra, é também presidente da TV Miramar, emissora pertencente à Record Internacional, além de assessor do gabinete do presidente moçambicano.

Essa luta por poder político tem dois alicerces: a popularidade da religião – principalmente entre a classe média, pela localização das igrejas, nos centros das cidades –, e a estratégia adotada que usa do discurso religioso para o apoio político, porém sem comprometer a possibilidade de apoio à oposição em caso de uma reviravolta política.

Fiorotti conta que essa estratégia foi utilizada também no Brasil: “na época do governo Lula, ela [a Iurd] apoiou o governo; no governo Dilma, ela sempre esteve próxima. Então percebeu-se que, se antes da eleição do Lula em 2002, ela demonizava a esquerda, com a eleição do petista ela se aproximou e fez um discurso mais amigável, mas quando o PT perdeu a base, ela saiu.”



A foto é de um templo da Universal em Moçambique.


Universal cresce na África com promessas de prosperidade

Em Moçambique, Universal é chamada de 'Igreja dos Ladrões'




16 pessoas morrem em culto da Igreja Universal em Luanda

A responsabilidade dos comentários é de seus autores.


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

Ateísmo faz parte há milênios de tradições asiáticas

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

Escritor ateu relata em livro viagem que fez com o papa Francisco, 'o louco de Deus'

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê...

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Delírios bolsonaristas