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Poemas dos séculos 17 e 18 revelam a 'devassidão' de freiras



A palavra “freirático” designa aquele que frequenta convento de freiras. Nos séculos 17 e 18 significava algo mais: homem que tinha relacionamento com freira, desde ao platonismo inocente a encontro caliente.

Nos  conventos se
 fazia tanto sexo
 quanto se rezava
A descoberta dessa palavra foi para a escritora Ana Miranda uma porta de entrada para um período em que as freiras tinham amantes, algumas delas mais de um.
"Nunca tinha ouvido essa palavra", disse Ana Miranda, que estudou em colégio de religiosas dominicanas. "Para mim era inacreditável que em Portugal, no auge da Inquisição, pudesse ter havido algo assim."

Foi uma época em que nos conventos se fazia sexo tanto quando se rezava. “Celas e conventos eram ambientes de grande licenciosidade”, escreveu Miranda.

As pesquisas de Miranda sobre os freiráticos renderam o livro “Que Seja em Segredo” (L&PM, R$ 22, 125 páginas), que transcreve poemas escritos por freiras e para elas. O livro já tinha sido lançado em 1990, mas estava esgotado.

Freiras eram musas
 de poemas como estes
Para os homens que desejam a emoção de sexo proibido, os conventos eram paraísos na Terra, porque para lá as famílias mandavam suas filhas tidas como problemáticas, como as rebeldes e contestadoras, as que só pensavam em sexo, as ninfomaníacas, as que perdiam a virgindade antes do casamento, as homossexuais e as bastardas.

"Todas as mulheres solteiras interessantes estavam nos conventos", disse Ana Miranda.

 “Como poucas vezes, a interdição sexual teve a função de afrodisíaco. Era preciso degradar o fascínio do mal; espiritualizar o corpo e erotizar a alma. Para isso, nada como buscar o prazer na escuridão dos conventos."

Um dos freiráticos foi dom João 5º, rei de Portugal. Ele gostava que freiras sentadas em seu colo lessem poemas eróticos.

Havia uma passagem secreta entre o seu palácio em Odivelas e um convento, de modo que ele tivesse acesso ao seu “harém” de freiras sem chamar a atenção.

Outro frequentador assíduo de conventos foi o poeta Gregório de Matos. Ele escreveu depoimentos sobre seus encontros com as “cortesãs enclausuradas”.

Contou que uma vez a cama em que estava com uma freira pegou fogo. O acidente ocorreu provavelmente por causa de uma vela, mas na interpretação poética de Gregório o que desencadeou as chamas foi o “amor que queimava os corpos através dos espíritos”.


Freiras eram frequentadas por
 pessoas de destaque na sociedade


Trecho do livro
"De noite, portões se abriam para os amantes"

Mas nem sempre os freiráticos ficavam do lado de fora dos conventos. Mandavam presentes, imagens de santos, presépios, capelas aos que tinham as chaves das celas; subornavam abadessas, abriam suas bolsas aos padres, para desimpedir o caminho em direção ao objeto desejado. Havia padres residentes que usavam seu trânsito nos conventos a fim de levar e trazer a correspondência dos freiráticos, com os tratos ilícitos. De noite, portões se abriam para que os amantes entrassem furtivamente; muros eram escalados, fugas eram empreendidas com escândalo, abadessas que criassem obstáculos eram ameaçadas com facas. Alguns se disfarçavam em hábito feminino para se insinuar nos corredores em busca da eleita.

As religiosas do convento de Santa Ana de Vila de Viana tinham nas proximidades várias casinhas aonde iam, fora de clausura, com pretexto de estarem ocupadas a cozinhar, e recebiam ali homens que entravam e saíam de noite, denunciou em 1700 o rei, em Lisboa. Nas celas os catres rangiam, os corpos alvos das freiras suavam sob o calor dos nobres, estudantes, desembargadores, provinciais, infantes. Os gemidos eram abafados com beijos.

A doçura do amor e seus abismos Conventos de Portugal tomavam por modelo o de Odivelas, onde trezentas freiras belas e namoradeiras tinham, cada uma, um ou vários amantes, com os quais 12 se distraíam. Essas religiosas eram tidas como as amantes mais atraentes dos portugueses nobres, nas palavras do general Demaurier, em 1755. Moravam em celas luxuosas, com as paredes recobertas de seda, cortinados nas janelas, lençóis de cetim; tomavam chá em xícaras de porcelana, levavam uma vida ociosa em que se entretinham a ler, pôr alcunhas, namorar e fazer doces. Chamavam a si mesmas de Caramelo, Pimentinha, Muleirinha, Caçarola, Vigairinha, Márcia Bela. Pregavam no rosto sinais de tafetá, os ferretes do inferno, usavam rendas nas camisas, luvas, leques, toalha açafroada, em irrequietos ademanes de mulheres disponíveis. Como descreveu Gongora, “Vio una monja celebrada, tras la rexa el niño Amor, bien quebrada de color, y de amor bien requebrada”.

Em certas manhãs elas armavam, do lado de fora do convento, um bufete de doces e pratos especiais que continham bilhetes convidando seus admiradores. Sevados, moletes, argolinhas, melindres, canelões, bolinhos do bispo, loiros, sequilhos das maltesas de Estremoz enchiam as mesas. Naquele dia, as ruas ficavam intransitáveis; as portas dos conventos, repletas de estifas, seges, carruagens. Os portões se abriam e entravam os freiráticos. Descerravam-se as cortinas da grade de proteção e perante os homens apaixonados surgiam as religiosas, com as mãos escondidas nas mangas do hábito, sérias, pálidas, belas como são as mulheres desejadas. Aos poucos elas iam abandonando o ar grave, cruzavam as pernas, tocavam violas e harpas, recitavam versos provocantes, riam, divertiam-se, diante da clientela fascinada que se empanturrava de papos de anjo, suspiros, peitos de freiras. Os doces eram trocados por prendas: um resplendor, uma cabeleira para a comédia, um casal de pombos, um cãozinho de regaço, um frasco de água da rainha da Hungria.

Depois da grade de doces, os freiráticos podiam encontrar-se com suas musas nos locutórios, mas não a sós. Tinham de admitir a presença de uma gradeira com a missão de vigiar o que diziam e faziam. Antes do encontro, vinha uma monja confidenciar ao freirático que sua amada morria de paixão por ele. Depois entrava a desejada. Tocavam-se as pontas dos dedos; ele segurava-lhe o braço; ela mostrava-lhe o pé, o tornozelo ou, entre a alvura da toalha, desnudava o seio, que ele acariciava, sob o olhar descuidado da sentinela.

Dentro do caráter escarninho e maldizente da tradição portuguesa, surgiu a poesia do amor freirático, ora satírica, ora lírica, mas sempre passional, em cuja liturgia afrodisíaca a obscenidade desempenhava uma função mágica, assim como de desmistificação e profanação da santidade. A adesão a uma prática libertina se realizava por meio da cumplicidade que o riso estabelece. Essa poesia tinha, também, um caráter político, pois atacava um ponto vulnerável do poder monárquico, sustentado pela autoridade da Igreja inquisitorial. “Quando eu estive em vossa cela / Deitado na vossa cama / Chupando nas vossas tetas / Então foi que me lembrei / Linhas brancas, linhas pretas”, escreveu um poeta anônimo, sobre mote que lhe dera uma freira.

Os poemas obscenos de amores freiráticos, onde aparece a repressão ascética e aviltante do sexo e da mulher, são inúmeros.

Com informação da editora e de outras fontes e imagem de divulgação.



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