Pular para o conteúdo principal

Juíza inglesa não envolve padre em pedofilia por 'amar a Igreja'

por Eurico Franceschini
para La Repubblica

Baronesa Butler-Sloss julgou
favorecendo a Igreja Anglicana
Como no jogo das caixas chinesas, debaixo do Big Ben estourou um escândalo que contém um escândalo que contém outro escândalo: só resta entender qual é o maior e qual é o menor.

O ponto em comum é o mesmo contra o qual o papa Francisco se joga em Roma: a pedofilia. Para descrevê-los, tanto faz começar do fim, isto é, do último em ordem de tempo: o jornal Times de Londres descobriu que a baronesa Elizabeth Butler-Sloss (foto), 73 anos, juíza aposentada e até 2004 a magistrada de mais alto grau do Reino Unido, decidiu não envolver um bispo em um relatório sobre a pedofilia no clero anglicano, porque ela "amava a Igreja".

O escândalo anterior é que a mesma baronesa, encarregada pelo primeiro-ministro, David Cameron, de liderar uma comissão de inquérito sobre um suposto encobrimento de investigações sobre a pedofilia no parlamento de Westminster nos anos 1970-1980, teria laços demais com o establishment para investigar o caso de modo imparcial, incluindo o vínculo de sangue com o seu irmão falecido, Lorde Havers, que era lorde chanceler (procurador geral) naqueles anos e que foi acusado de ter protegido um influente diplomata abertamente pedófilo.

O terceiro escândalo é o do "dossiê pedofilia" em Westminster: 114 pastas sobre cerca de 20 parlamentares que, há 30-40 anos, eram suspeitos de abuso sexual de menores, um dossiê que desapareceu misteriosamente dos arquivos da Scotland Yard.

Fala-se muito de pedofilia nesses dias na Inglaterra. Da Igreja às escolas privadas, até a BBC: há uma sucessão de acusações por violência sexual contra menores de ambos os sexos, culminando em revelações de filmes de terror, como as do apresentador da parada de sucessos da TV, Jimmy Savile (falecido em 2012), um monstro que molestava órfãos e doentes em hospitais e até mesmo se lançava sobre os cadáveres no necrotério; e a condenação a cinco anos de prisão do ator Rolf Harris, mandado para a prisão aos 84 anos.

Nos últimos dias, a imprensa identificou um novo filão: a existência de um dossiê de pedófilos no Parlamento, aberto e imediatamente fechado nos anos 1980. Não só encoberto, mas depois até mesmo desaparecido, talvez destruído. Uma sombra monstruosa sobre o establishment da época.

Uma sombra à qual se somam a cada dia novos elementos: nesse domingo, rumores da revista People e do jornal Mirror trouxeram à baila até mesmo Margaret Thatcher, relatando que, quando ela era primeira-ministra, ela disse a um de seus ministros, sobre o qual havia boatos de relações com meninos atraídos perto da estação ferroviária Vitória de Londres, que ele devia "limpar os seus atos sexuais", mas sem que o aviso produzisse resultados.

Sob pressão da opinião pública, Cameron nomeou uma comissão de inquérito e a confiou à baronesa Butler-Sloss. Mas quase imediatamente começaram os protestos contra a ex-juíza. E agora o jornal Times revela que a baronesa protegeu um alto prelado da acusação de pedofilia, porque – como confidenciou ela mesma em 2011, em uma audiência a portas fechadas na Câmara dos Lordes, à vítima dos abusos de dois padres – "os jornais gostariam de ver um bispo exposto publicamente".

Com tradução de Enrico Franceschini para IHU-Online.





No Reino Unido, Igreja já pode ser punida por pedofilia
novembro de 2012


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Ateísmo faz parte há milênios de tradições asiáticas

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

O dia em que os Estados Unidos terão um presidente ateu

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê...

Padre acusa ateus de defenderem com 'beligerância' a teoria da evolução

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...