Pular para o conteúdo principal

Programa sobre Estado laico deu mais destaque a Malafaia

Edição do programa do Bial privilegiou as intervenções do pastor
por Ana Flávia Silva Nery,
radialista de Ilhéus (BA)

Provavelmente motivado pela visita do papa Francisco ao Brasil e a grande repercussão que este fato teve na mídia, o programa Na Moral (Rede Globo) se propôs a discutir questões relacionadas ao Estado laico. Para tanto, foram convidados o pastor evangélico Silas Malafaia, o padre Jorjão, o presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) Daniel Sottomaior e o babalorixá Ivanir dos Santos.

Embora o princípio da isonomia tenha sido evocado a todo o momento, a emissora não o considerou, já que o programa dispensou tempo maior a um dos convidados, em detrimento dos demais.

É importante ressaltar a relevância da discussão levantada pelo programa do jornalista Pedro Bial. A mídia em geral, e em particular a televisão, deve abrir espaços para esse tipo de discussão de modo a colaborar com a formação de uma opinião pública mais consistente.

No entanto, é preciso ter muito cuidado com a forma como se discute e, principalmente, garantir espaços igualitários a todos os pontos de vista.

Neste sentido, o primeiro questionamento acerca do programa em questão é: por que a ausência de representante do espiritismo, considerando que no censo de 2010 quase 4 milhões de brasileiros declararam-se adeptos dessa religião?

Além disso, ficou claro que o espaço maior foi dado ao pastor Silas Malafaia, inclusive durante o processo de divulgação do programa, quando apenas era chamada a atenção para a presença de Malafaia, colocando como periféricas as aparições dos outros convidados.

Foi uma forma de espetacularizar, já que a figura do pastor é polêmica? Isso parece evidente na chamada do programa pela página do Twitter da emissora que dizia: “No #NaMoral de hoje, em raro encontro, Silas Malafaia discute Estado laico com ateu e balalorixá”.

A prevalência da fala do pastor foi notável, principalmente porque, a todo o momento, a emissora usou do expediente da edição que interrompia o pensamento dos demais representantes, sem falar na interrupção pelo próprio apresentador Pedro Bial.

No programa ficou evidente, ainda, que o padre foi colocado de “escanteio”. O sacerdote católico ficou em silêncio na maior parte do tempo durante o programa.

Com o acompanhamento do programa pelas redes sociais foi possível perceber um real incômodo por parte do telespectador perante os posicionamentos do pastor Malafaia, já que este procurou defender suas opiniões na base do grito e das distorções das perguntas que lhe eram feitas, sem que o apresentador chamasse sua atenção.

A primeira pergunta de Pedro Bial, por exemplo, questionava o que seria um Estado laico, enquanto o pastor falava sobre os assassinatos em massa promovidos pelos Estados ateus ao longo da história.

De um modo geral, o programa Na Moral coloca em pauta temas de cunho polêmico que ajudam a promover a reflexão por parte da sociedade. Contudo, tais abordagens se apresentam em todas as edições como superficiais e inclinadas para um determinado ponto de vista.

É necessária uma melhor abordagem dos assuntos debatidos para que, finalmente, possamos considerar a atração da Rede Globo com uma considerável contribuição social. Afinal, religião não se discute, mas a influência das religiões no Estado, sim!





Este texto foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

LiHS pede o fim de passaporte diplomático de pastores
março de 2013

Religião no Estado laico

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Ateísmo faz parte há milênios de tradições asiáticas

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê...

Escritor ateu relata em livro viagem que fez com o papa Francisco, 'o louco de Deus'

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese