Pular para o conteúdo principal

Pesquisa mostra como a Itália caminha para secularização


 por Andrea Tornielli
para La Stampa

Os ateus propriamente ditos, na Itália, não chegam a 8%. E mais de 70% da população frequenta a missa apenas por ocasião de casamentos e funerais e, portanto, podem ser qualificados como "distantes" da Igreja.

Esse é o caminho italiano rumo à secularização que emerge de uma pesquisa realizada pelo sociólogo Massimo Introvigne, fundador do Cesnur, juntamente com Pierluigi Zoccatelli, intitulada Gentios sem átrio. 'Ateus fortes' e 'ateus fracos' na Sicília central.

Trata-se da quarta pesquisa sobre a indiferença religiosa que o grupo de trabalho produziu, monitorando com pesquisas e análises uma área da Sicília correspondente à Diocese de Piazza Armerina e que compreende cidades e municípios das províncias de Enna e de Caltanissetta. Um território variado, de dois mil quilômetros quadrados, onde se encontram centros industriais e áreas rurais, e que os parâmetros confirmam como representativo da realidade italiana.


O dado mais significativo da pesquisa refere-se ao não crescimento, nos últimos 20 anos, dos ateus: estão parados em 7,4%. Destes, apenas 2,4% podem ser definidos como "ateus fortes", isto é, capazes de motivar o seu ateísmo com razões ideológicas: eles estão mais presentes "entre as pessoas mais velhas e menos escolarizadas, entre as quais, surpreendentemente, ainda é forte também uma recordação do ateísmo comunista".

Os 5% remanescentes, os "ateus fracos", são menos ideológicos, mas consideram Deus e a religião como irrelevantes, em um mundo onde o que conta é o trabalho, o dinheiro e as relações afetivas: são mais numerosos entre os mais jovens, naquela que o padre Armando Matteo chamou de "a primeira geração incrédula", e entre as pessoas mais instruídas. Se o número dos ateus for projetado sobre o total da população italiana, pode-se afirmar que se trata de cerca de três milhões de pessoas. Porém, o seu número permanece praticamente constante desde 1990.

Além dos ateus "fortes" e "fracos", existem "os distantes das formas institucionais da religião", que não se proclamam como ateus, mas se declaram fiéis ou até mesmo católicos. São 63,4% e se trata de pessoas que professam um catolicismo meramente cultural, dado como óbvio, sem se fazer mais perguntas sobre os conteúdos da fé e sem se preocupar com a incoerência no plano da prática.

Esses "distante" reúnem as pessoas que se declaram "espirituais mas não religiosas", com posições influenciadas também por modas culturais como a da Nova Era ou de filosofias orientais, e aqueles que "acreditam, mas não participam ativamente na vida religiosa". Se forem somados os ateus propriamente ditos, chegam a 70,8%. Há, portanto, uma sólida maioria de italianos que ou professam o ateísmo, ou são indiferentes à religião, ou professam uma fé "faça-você-mesmo", unindo crenças diferentes.

Na pesquisa, também se buscou investigar as causas que, pouco a pouco, afastaram tantos italianos da religião, e em particular da Igreja Católica. Dos resultados, surge que as razões ideológicas, como por exemplo a ideia de que a ciência torna a religião superada, são absolutamente minoritárias.

Enquanto os primeiros lugares das respostas vão para a sensação de que a religião tem pouco a dizer sobre os problemas concretos da vida cotidiana, assim como também está presente a rejeição dos ensinamentos morais das confissões religiosas, embora pareça particularmente significativo o crescimento de uma hostilidade contra o catolicismo, motivada pelos escândalos da pedofilia dos padres e das recorrentes polêmicas com relação à riqueza e aos privilégios fiscais da Igreja.

A pesquisa também propõe novamente um dado que mostra a discrepância entre as declarações feitas durante as entrevistas telefônicas sobre a participação na missa dominical e a participação efetiva, que os pesquisadores puderam sondar monitorando todas as celebrações da área interessada em um determinado dia. Diante de 30,1% das declarações, verificou-se uma presença real nas igrejas de 18,5%.

Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online.




Berço do catolicismo não está imune a uma secularização radical


Comentários

A secularização vai salvar a Europa da crise, escrevam o que estou falando.

Se nem o papa, com toda a sua "papice", consegue resolver a própria crise da Igreja, quem tirá a religião resolver alguma coisa num continente inteiro.
Guilherme Balan disse…
"eles estão mais presentes "entre as pessoas mais velhas e menos escolarizadas, entre as quais, surpreendentemente, ainda é forte também uma recordação do ateísmo comunista"

Legal, minha linhagem do lado do avô paterno é atéia comunista, apesar da avó paterna e os filhos não serem. Eu não sabia que era comum assim. Na verdade eu achava que eles usavam 'sou comunista, Deus não existe ou é um sacana etc' só pra praguejar e pra amolar os outros, hehe, que é típico italiano também. Falei sobre isso ontem mesmo, por coincidência, 'não sei se eles eram bem ateus, porque o contexto era todo católico'.

Ótimo texto, obrigado! Abraço!
Anônimo disse…
O artigo faz uma lambança entre ateus "fracos e fortes".
Eu sou um ateu "fraco", Não faço a afirmação categórica: "deus não existe.", porque por seu uma afirmação positiva exige sua prova. Quem a tem ?
No entanto sou comunista.
Por ser ateu, dei o passo seguinte, o materialismo.
Do materialismo a dialética é uma ferramenta de raciocínio apropriada para refletir e compreender a dinâmica social.
Ser comunista é meramente é compreender a limitação do desenvolvimento humano dentro do sistema econômico atual, usando-se das ferramentas prévias.
Eliezer disse…
O problema é que a Igreja em pleno seculo 21 ainda quer fazer a vez de estado, o dia que a Igreja realmente se colocar como igreja, uma instituição religiosa ou qualquer coisa nesse sentido as coisas vão melhorar pra os dois lados, a igreja não tem que meter o bico em questões que não é da alçada dela, tipo Rio+20, crise europeia, aborto, eutanásia, etc!!
J. Tadeu disse…
Religião é política, uma forma primitiva de política. E toda política almeja poder, mesmo que para isso tenha que manter esse poder associando-se com outras formas de política, seja impérios, monarquias ou estados democráticos.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Morre o americano Daniel C. Dennett, filósofo e referência contemporânea do ateísmo

Entre os 10 autores mais influentes de posts da extrema-direita, 8 são evangélicos

Ignorância, fé religiosa e "ciência" cristã se voltam contra o conhecimento

Vídeo mostra adolescente 'endemoninhado' no chão. É um culto em escola pública de Caxias

Oriente Médio não precisa de mais Deus. Precisa de mais ateus

Malafaia divulga mensagem homofóbica em outdoors do Rio

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Ateu, Chico Anysio teve de enfrentar a ira de crentes