por Rosemary de Morais Gomes da Silva (foto), para a Folha, a propósito de Juiz declara Rosemary filha de Alencar, que se recusa ao exame de DNA.
Eu tinha 43 anos quando minha mãe me contou que meu pai era José Alencar [o atual vice-presidente do Brasil]. Sempre morei com meus avós paternos. Para mim, meu pai era o Magmar, que me assumiu quando casou com a minha mãe.
Quatro meses depois que minha avó morreu, minha mãe, Tita [Francisca], me chamou na casa dela e apontou para uma foto no jornal: "Tá vendo esse rapaz aí? Ele é seu irmão [Josué Gomes da Silva]". Foi a primeira vez que ouvi falar dessas pessoas.
Em 1998, um amigo da família que pressionou para que ela me contasse a verdade sugeriu que eu fosse encontrá-lo quando ele esteve aqui em campanha para o Senado. Tomei coragem e fui. Consegui me aproximar e disse no pé da orelha dele: "Eu sou sua suposta filha aqui de Caratinga". Ele tomou um sustinho. Respondeu: "Tô à sua disposição".
Dali a pouco, um ex-cunhado dele falou para mim que aquele não era o momento de tratar do assunto, mas que, passadas as eleições, resolveriam o meu problema. Deixei meu nome e telefone com o assessor, mas essa gente só enrola, né?
Eles se conheceram no clube. Ela morava numa rua onde viviam essas mulheres, sabe? Ela era muito bonita e danada. No dia que ele sismava, ia lá dormir. Deixava a escova de dente. Ele tinha uns 20 anos; ela, uns 26.
Logo que minha mãe ficou grávida, ele apareceu noivo. Não mandou tirar a criança, mas também não assumiu. Minha mãe não o procurou mais. Casou depois e se calou. Tinha medo de contar para a família do marido.
O fato de dizerem agora que ela era prostituta a deixava magoada. Ela não sabia ler, mas uma vez lhe mostraram um jornal com essa história. A vontade dela era tapar a boca dele.
Eu ainda procurei o José Alencar outra vez, há uns cinco anos. De novo, era tempo de campanha. Cortei caminho e disse: "O senhor me desculpe de estar aqui, mas é o único jeito de conversar". Me deu uma emoção, comecei a chorar e veio o segurança. Ele disse: "Deixa a menina falar". Veio um deputado e me escanteou: "Vou mandar um helicóptero te buscar". Nunca mais tive notícia.
Achei que ia resolver rápido. Quando saiu para ele fazer o DNA, eu me empolguei. Quando ele não compareceu em 2008, fiquei triste. Mas, por outro lado, o povo começou a dizer que ele tem culpa no cartório.
O fato de ele estar doente, lutando contra um cancer, é do ser humano. Minha mãe também morreu com câncer há sete meses. Também lutou contra o pior tipo dessa doença, que começou na pele e se espalhou. Mas ele é muito forte, vai sair dessa.
Já sonhei duas vezes com ele vindo a minha casa. Ele comia frango com quiabo e angu. Ele estava alegre, mas não tocou em nada de pai. Nunca votei nele. Eu seria hipócrita se votasse.
Em um retrato meu com sete meses, a orelha é igualzinha à dele. Mas o povo aqui me chama de Alencarzinha. No comércio, brincam comigo dizendo que sou a filha do vice. Posso até ser, mas quem tem dinheiro é ele.
Nunca parei para pensar em herança. Mas não gosto de montueira de coisa, quero ter uma vida tranquila, uma casa minha e outras duas de aluguel para deixar para o meu filho. Quero passear. A gente nunca tem um dinheiro para comer uma pizza fora. Só para suprir as necessidades. Não almejo coisas grandes nem palácio...
Na terça, quando soube que o juiz decidiu a meu favor, fiquei um pouco aliviada. Mas, toda vez que penso que acabou, aparece outro recurso e começa tudo de novo. Eu já tava preparada para um não. Tudo que é juiz tem medo dele. Meu sonho era pegar o jornal e ver uma declaração dele. Nem que fosse pra meter o pau em mim. Será que ninguém tem coragem de perguntar nada pra esse homem? Será que ele é tão importante assim?
> Caso da recusa de José Alencar ao DNA da paternidade.
Eu tinha 43 anos quando minha mãe me contou que meu pai era José Alencar [o atual vice-presidente do Brasil]. Sempre morei com meus avós paternos. Para mim, meu pai era o Magmar, que me assumiu quando casou com a minha mãe.
Quatro meses depois que minha avó morreu, minha mãe, Tita [Francisca], me chamou na casa dela e apontou para uma foto no jornal: "Tá vendo esse rapaz aí? Ele é seu irmão [Josué Gomes da Silva]". Foi a primeira vez que ouvi falar dessas pessoas.
Em 1998, um amigo da família que pressionou para que ela me contasse a verdade sugeriu que eu fosse encontrá-lo quando ele esteve aqui em campanha para o Senado. Tomei coragem e fui. Consegui me aproximar e disse no pé da orelha dele: "Eu sou sua suposta filha aqui de Caratinga". Ele tomou um sustinho. Respondeu: "Tô à sua disposição".
Dali a pouco, um ex-cunhado dele falou para mim que aquele não era o momento de tratar do assunto, mas que, passadas as eleições, resolveriam o meu problema. Deixei meu nome e telefone com o assessor, mas essa gente só enrola, né?
Eles se conheceram no clube. Ela morava numa rua onde viviam essas mulheres, sabe? Ela era muito bonita e danada. No dia que ele sismava, ia lá dormir. Deixava a escova de dente. Ele tinha uns 20 anos; ela, uns 26.
Logo que minha mãe ficou grávida, ele apareceu noivo. Não mandou tirar a criança, mas também não assumiu. Minha mãe não o procurou mais. Casou depois e se calou. Tinha medo de contar para a família do marido.
O fato de dizerem agora que ela era prostituta a deixava magoada. Ela não sabia ler, mas uma vez lhe mostraram um jornal com essa história. A vontade dela era tapar a boca dele.
Eu ainda procurei o José Alencar outra vez, há uns cinco anos. De novo, era tempo de campanha. Cortei caminho e disse: "O senhor me desculpe de estar aqui, mas é o único jeito de conversar". Me deu uma emoção, comecei a chorar e veio o segurança. Ele disse: "Deixa a menina falar". Veio um deputado e me escanteou: "Vou mandar um helicóptero te buscar". Nunca mais tive notícia.
Achei que ia resolver rápido. Quando saiu para ele fazer o DNA, eu me empolguei. Quando ele não compareceu em 2008, fiquei triste. Mas, por outro lado, o povo começou a dizer que ele tem culpa no cartório.
O fato de ele estar doente, lutando contra um cancer, é do ser humano. Minha mãe também morreu com câncer há sete meses. Também lutou contra o pior tipo dessa doença, que começou na pele e se espalhou. Mas ele é muito forte, vai sair dessa.
Já sonhei duas vezes com ele vindo a minha casa. Ele comia frango com quiabo e angu. Ele estava alegre, mas não tocou em nada de pai. Nunca votei nele. Eu seria hipócrita se votasse.
Em um retrato meu com sete meses, a orelha é igualzinha à dele. Mas o povo aqui me chama de Alencarzinha. No comércio, brincam comigo dizendo que sou a filha do vice. Posso até ser, mas quem tem dinheiro é ele.
Nunca parei para pensar em herança. Mas não gosto de montueira de coisa, quero ter uma vida tranquila, uma casa minha e outras duas de aluguel para deixar para o meu filho. Quero passear. A gente nunca tem um dinheiro para comer uma pizza fora. Só para suprir as necessidades. Não almejo coisas grandes nem palácio...
Na terça, quando soube que o juiz decidiu a meu favor, fiquei um pouco aliviada. Mas, toda vez que penso que acabou, aparece outro recurso e começa tudo de novo. Eu já tava preparada para um não. Tudo que é juiz tem medo dele. Meu sonho era pegar o jornal e ver uma declaração dele. Nem que fosse pra meter o pau em mim. Será que ninguém tem coragem de perguntar nada pra esse homem? Será que ele é tão importante assim?
> Caso da recusa de José Alencar ao DNA da paternidade.
Comentários
Ele falou também da sua luta contra o câncer, que começou em 1997 e já o fez passar por 15 cirurgias. “Graças a Deus, agora na quarta-feira da semana passada, fizemos os exames. Olha, é um sucesso absoluto, é um verdadeiro milagre”, disse.
“Eu, às vezes, fico preocupado, até. Será que eu mereço esse milagre, será que eu mereço isso? Eu terei feito alguma coisa para merecer isso? Eu me pergunto”, afirmou.
Fonte: Terra (17/03/20100)
Graças a Deus existe o câncer, para lentamente ir destruindo bandidos como a dupla Alencar & Macêdo.
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