por Daniela Venerando, da Contigo!
Na juventude, apontada nas ruas de Fortaleza, Ceará, como ''a filha da desquitada'', Vanuzia Leite Lopes (foto), 49 anos, sonhava em se casar, ter filhos e passar toda a sua vida com uma família feliz. O noivo, ela arrumou quando um comerciante baiano foi à sua butique na capital cearense. Os dois se apaixonaram, trocaram alianças e se mudaram para São Paulo, onde prosperaram com duas lojas de confecção e foram morar em uma cobertura de um bairro nobre.
Faltavam os herdeiros. Ela não conseguia engravidar e, após consultarem alguns médicos, o marido foi diagnosticado com varicocele, que causa infertilidade masculina. Tentaram adotar e não deu certo. Mas o sonho de ser mãe se iluminou quando chegaram ao consultório do dr. Roger Abdelmassih, já um conceituado especialista em fertilização. ''Ele nos garantiu que teríamos um filho'', lembra a primeira paciente a denunciar Abdelmassih no Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Cremesp, em 1993.
Mas o primeiro empecilho para iniciarem o tratamento foi financeiro. A melhor oferta do dr. Roger, com pagamento sem nota fiscal, correspondia à quantia que o casal havia economizado para comprar um apartamento na praia. ''Vocês preferem ver o mar ou o sorriso do seu filho?'', teria dito o médico. ''Ninguém pode imaginar o que um casal louco para se tornar pais sente ao ouvir isso. Meu marido pagou no dia seguinte!''
O combinado entre médico e paciente eram três tentativas para a gravidez vingar. Na primeira, foram introduzidos em Vanuzia quatro óvulos, o número correto de acordo com as regras da medicina. Sem resultado. Na segunda vez, o número subiu para cinco e ela engravidou. E sentiu dor no peito, que foi apalpado de forma diferente pelo dr. Roger. ''Achei esquisito, mas resolvi não comprar briga. Apenas uma impressão não me faria desistir daquele sonho. Outro detalhe é que eu era muito bonita e estava acostumada a elogios'', justifica.
Só que a gravidez não vingou. Assim, partiram para a terceira tentativa. Dessa vez, não teve regra. Foram 15 óvulos injetados em Vanuzia. E o tormento começou na véspera, no procedimento de coleta, quando foi sedada. Em posição ginecológica, a última recordação dela é a do médico entrando sozinho na sala. ''Ele levantou minha cabeça e me ajudou a tomar o remédio. Alisou o meu cabelo e o meu rosto e disse para eu me acalmar. Elogiou minha beleza como fazia sempre e, quando veio em minha direção para me dar um beijo, eu apaguei.''
Quando acordou, Vanuzia se levantou para colocar a roupa e notou que tinha sangue na região anal, que também estava dolorida. A sala ainda girava por causa do anestésico, um funcionário surgiu e não deu importância ao sangramento. Ela foi para casa. Com a pulga atrás da orelha.
Contar para o marido? Nem pensar! Ciumento do jeito que era, levantar uma suspeita dessas poderia resultar em tragédia. Preferiu falar com três amigas. ''Você tem certeza disso? É uma acusação muito grave!'', ponderou o trio. ''Certeza não tenho, estava apagada. Mas alguém me violentou ou colocou algo no meu ânus, disso não tenho dúvida'', afirmou Vanuzia. Mas a turma achou melhor ela não pensar no assunto e se concentrar na fertilização marcada para o dia seguinte.
Novamente na sala do médico, enquanto o marido estava radiante do lado de fora, Vanuzia não se sentia nada confortável na posição ginecológica para a introdução dos embriões. Ela falou do sangramento para o dr. Roger e ele disse para ela não se preocupar com uma coisa dessas naquele momento tão importante. ''Olhe os seus filhinhos aqui! Você precisa relaxar'', falou o especialista com o cateter na mão. ''Naquele momento, tive certeza de que ele era um crápula.''
Tensão na sala. Dr. Roger alisou os cabelos de Vanuzia e pediu calma, caso contrário todo o trabalho seria em vão. Ele também sugeriu sedá-la outra vez enquanto beijava sua testa. ''Comecei a ficar agoniada e a chorar. Estava fragilizada naquela posição com aquele rosto em cima de mim. Ele chegou a dizer que era para tirar a frieza do ato, pois se sentia pai de todas as crianças geradas ali.'' Pediu para chamar o marido e o médico ficou sério, ríspido, disse que não tinham mais tempo. Introduziu o cateter após acariciar suas pernas. ''Fechei os olhos e fiz uma oração para tudo aquilo acabar logo.''
Mais um dia e vieram as dores abdominais. Na clínica, mandaram a paciente tomar remédio para gases. Uma semana depois, Vanuzia ardia em febre e pus saía de sua vagina. Foi detectada uma bactéria comum no intestino humano e ela foi internada em um hospital. Com peritonite aguda, não pôde fazer uma cirurgia de emergência naquele estado, ou não sairia viva dali. Mas acabou perdendo as trompas e parte do ovário. ''Fui violentada, quase morri por negligência médica e perdi a esperança de ser mãe'', conta cabisbaixa.
No hospital, Vanuzia quis saber como tal bactéria foi parar em seu ovário e obteve duas alternativas: ou foi via cateter, que poderia estar contaminado, ou foi por relação anal seguida de relação vaginal. ''Ele me contaminou naquele maldito dia quando me violentou sedada'', afirma categoricamente.
Mesmo certa do estupro, Vanuzia e o marido voltaram a se encontrar com Roger Abdelmassih. E ele prometeu um filho ao casal. E de graça! ''Disse para eu não chorar pelas trompas. Não levantei da cama para dar um soco naquele homem porque minha mãe me ensinou que quem grita não tem razão. Além disso, meu marido não sabia do caso.''
Ele até se empolgou com a oferta, mas a mulher enterrou seu sonho de paternidade ali mesmo dizendo que não voltaria a repetir o tratamento nem morta.
Ao procurar um advogado, foi orientada a não acusar Roger Abdelmassih de abuso sexual. Estaria mexendo com a reputação de um médico renomado e poderia ser processada por calúnia. Além disso, teria de dizer toda a verdade ao marido, que, a pedido de Vanuzia, ficou anônimo nesta reportagem. E o casamento entrou em crise. Vindo de uma família grande, cheio de sobrinhos, ele também queria suas crianças. E continuou querendo. A situação ficou insustentável e o casal se separou em 1996.
Mas o dr. Roger ganhou o seu primeiro processo de uma paciente naquele ano de 1993. Vanuzia quis que ele respondesse criminalmente por negligência e imprudência. Só que o pedido de inquérito e a sindicância do Cremesp não avançaram. Ela perdeu a causa e a libido. ''Eu me sentia suja. Nenhum banho ia tirar aquela sensação. De 1993 a 1999 não tive coragem de ir ao ginecologista. Só de pensar em ficar naquela posição ginecológica me dava calafrio.''
Quando via o médico em reportagens ao lado de celebridades, corria para o banheiro para vomitar. ''Eu sentia nojo. Era uma reação incontrolável. Daí percebi que precisava de ajuda'', conta. Em 1999, teve seu diagnóstico: depressão.
Na última década, Vanuzia diminuiu seu padrão de vida, entrou para um curso de direito e ganhou 50 quilos, também por causa das disfunções hormonais provocadas pelo tratamento de fertilização. Neste ano, porém, a indiferença que teve de engolir pode ter resposta. ''Não imaginava a quantidade de assédios e abusos com outras pacientes, mas sabia de sua perversão. Quando o advogado dele alegou que as 56 mulheres não tinham rosto, resolvi aparecer para ajudá-las e trancafiá-lo de vez. Eu vou levar isso até o fim. Ele vai ao júri e eu vou estar lá. Quero o dr. Roger na cadeia pelo resto da vida.''
Caso Abdelmassih.
Comentários
Ele vai continuar preso, segundo a reportagem abaixo, a juiza indeferiu o pedido de Habeas Corpus.
Procure ficar em paz, que Deus te ilumine.
Grande Beijo
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Brasil
Juíza decide manter Roger Abdelmassih preso | 18:17 A juíza Kenarik Felippe, da 16ª Vara Criminal de São Paulo, acaba de rejeitar o novo pedido de reconsideração da prisão de Roger Abdelmassih, feito na semana passada pelos advogados José Luís Oliveira Lima e Márcio Thomaz Bastos, responsáveis pela defesa do médico. Amanhã, completa um mês que Abdelmassih está preso.
Na petição, os criminalistas argumentaram que a suspensão do registro profissional de Abdelmassih, decidida pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, já impede que ele exerça a profissão. E que, por isso, Abdelmassih deixaria de representar um potencial perigo para seus pacientes. A juíza não concordou com a tese.
Esta é a quarta foi a quarta tentativa de sua defesa de retirá-lo da cadeia. Antes, foram impetrados três pedidos de habeas corpus - no Tribunal de Justiça de São Paulo, no STJ e no STF. Todos tiveram liminar negada.
Um dos maiores especialistas em reprodução assistida, Roger Abdelmassih, de 65 anos, responde a 56 acusações de estupro, todas negadas por seus advogados. Ele foi preso no dia 17 de agosto.
Abdelmassih terá amanhã mais uma chance de sair da cadeia, quando o Tribunal de Justiça de São Paulo julgará o habeas corpus impetrado por seus advogados.
Por Lauro Jardim
Diante de tantas falcatruas, injustiças e abandono que vivemos diariamente em nosso país, principalmente das maracutáias dos nossos governantes, sinto-me orgulhosa de ser mulher e saber que elas tem cada dia mais o poder em mãos e que não se amedrontam, mesmo diante de um homem todo poderoso como o tal.
Nós, eu mulher e vítima agradeço-a.
Teresa.
Sei que você ouviu meu depoimento na TV, leu minhas palavras no jornal e decidiu manifestar-se novamente. Ao ler o seu relato sinto-me imensamente feliz por ter tido a coragem que tive, por ter vencido os obstáculos (muitos), que assim como você, encontrei pela frente. Nós merecemos paz, sossego, saúde e acima de tudo: JUSTIÇA, o que visivelmente já estamos conseguindo. Parabéns para nós.
Você tem a minha solidarieadade e compreensão. Entendo a sua dor.
Vamos cuidar de nós e deixar que a justiça cuide dele, vamos fazer a nossa parte e acreditar que a Justiça Divina é muito maior.
Parabéns pela coragem!
Percebe-se, pelas suas fotografias que você continua bonita ao se aproximar dos 50s.
Na sua juventude o assédio era enorme como é confirmado no seu desabafo.
Você foi vítima do seu forte impulso natural de querer ser mãe, da imposição do seu marido incapaz de procriar, do maníaco da FIV e da impunidade alimentada pela corrupção generalizada do nosso país.
Este maluco usou a MEDICINA como álibi para abusar das mulheres que cruzaram o seu caminho. Exercendo outra profissão, ele, IRREMEDIAVELMENTE, continuaria sendo um ESTUPRADOR sórdido e, para esconder as provas dos seus crimes, seria um ASSASSINO serial.
Não se curve por nada, como você tem demonstrado no seu, incessante, clamor por justiça.
Busque a verdade absoluta sem guardar nenhuma partícula de ódio mortal dentro de você.
Não deixe o monstro destruí-la definitiva e repetitivamente...
Sou homem e ao ler suas declarações, desde as primeiras delas, não foi possivel conter a emoção.
Tenho a sua faixa etária e, sabemos que nesta idade gostariamos de estar com a familia formada, com filhos, estabilidade financeira e, se possível sem grandes rancorres e/ou traumas.
Não consigo imaginar seu sofrimento, pois a dor e o trauma é somente seu, mesmo que com parentes próximos, não há como mensurar a "dor do outro", mas imagino que a sua seja imensa.
O médico esta pagando e muito pelos seus crimes e ilícitos e certamente sofrerá muito mais pelo que fez a vc e as outras.
Procure reagir e reedificar sua vida, para que o grande mal que sofreu tenha um fim, sendo uma linha divisória entre o que vc "passou e perdeu" para o que vc "será e conquistará".
Se não conseguir sózinha, procure ajuda especializada e tenho certeza que um dia irá olhar para trás e dizer: "passei por tudo isso e venci".
De uma chance a vc mesma, não se renda, vc merece!
Não deixe que o ódio pelo acusado ou pelas coisas que poderiam terem sido diferente, a destrua.
Imagino que não há como esquecer e, não há mesmo, mas a mágoa, a raiva, a indignação, a revolta entre outros sentimentos ruins, na verdade estão te corroendo. Quem perde é vc.
Penso que, onde há uma vontade há um caminho.
Abraços e Boa sorte!
Tenho um respeito incomensurável por vc , mesmo sem te conhecer ? e sei o que vc passou não tem cura e essas cicatrizes na sua alma nuuuuuunca sairam , eu sou homem heterosexual e sofri um abuso sexual muuuuuuuito mais simples aos 5 anos de idade , e até hoje sofro com isso , e nem houve penetração , imagine vc ? currada dessa forma por um médico cretino e criminoso ??
ME TORNEI AUTODITADA EM HISTORIA DAS RELIGIÕES e depois de muito estudo cheguei a conclusão que o tal DEUS -JAVÉ-ALAH da Biblia , torá e talmude e ALCORÃO não passam de pura lenda feita pra amedrontar e desagregar a especie humana....
Se existe DEUS é uma energia fisica , como aquela de um Imã magnetico e não aquele homem de barba que vive no céu que na biblia além de mal , tbm é ULTRA MACHISTA ...
Prefiro aceitar um dos preceitos do BUDISMO que são até provados pela ciencia e pela fisica moderna , como sei que vc é inteligente vc vai entender :
. NÃO FAÇA PRO PROXIMO OU PARA A NATUREZA O MAL ? POR QUE O MAL RETORNARÁ PARA VC DA MESMA FORMA ....
o famoso ´´aqui se faz , aqui se paga´´
e a prova disso vc esta tendo com o DR ROGER ...
VANUSIA vc é uma mulher de valor inestimavel !!!
Vc merece toda felicidade e conforto do mundo !!!
Sobre seu depoimento, porém, gostaria de fazer algumas ponderações, que acredito até tenham sido erros do jornalista: 1) coletar num dia e transferir no outro está errado. É preciso esperar de 3 a 5 dias. 2) Devem ter sido coletados 15 óvulos, o que é possível, e transferido os EMBRIÕES que vingaram, certamente menos que 15, aliás, bem menos... 3) A aspiração não é feita por uma única pessoa, é um procedimento delicado e tem riscos, aliás muitos. 4) Sangramento anal é possível até por causa dos hormônios, ou mesmo por causa da aspiração. 5) Também a infecção pode ter sido causada pela própria aspiração. Em tantos anos de tratamento, tive sorte de não ter tido complicações deste tipo. Sei de outras mulheres, que faziam tratamento ao mesmo tempo que eu, que, assim como Você, tiveram complicações. Aliás, muitas mulheres hoje em dia acham que a fertilização substitui com vantagens a forma tradicional, mas, ledo engano, esta é muitíssimo arriscada. Seu depoimento serve também de ALERTA para estas que pensam assim.
Bem, é só isso. Boa sorte e viva em paz!
Você fala algumas coisas que não tem importância para o momento e outras sem sentido. Tenha certeza de que se suas amigas tiveram sangramento anal, depois da aspiração dos óvulos, num processo de FIV, certamente eram clientes do Dr.Roger e foram abusadas por ele. Não há NENHUMA relação entre sangramento anal e o procedimento. Sou médica ginecologista e posso afirmar com exatidão.
Ah, posso comentar ainda que ouço falar das atrocidades deste profissional há pelo menos uma década.
Felicidades.
Quanto a anônima das 10:30, tenha certeza que sangramento anal e sentimentos "amorosos" depois do anestésico, só na clinica do Roger.
Se quiser defendê-lo, fique a vontade. Mas chega de sofismas. As pessoas já acordaram. Ele também.
Atenciosamente, comentário das 10h33.
O cara é acusado formalmente por mais de 70 mulheres de adotar o mesmo modus operandi nos seus crimes. Está no xilindró!
Aspiração e hormônios causam sangramento anal!?!?!?!?!??!
E "as conclusões da Vanuzia" é que são bem fantasiosas...
Fantasiosas ? Ela foi extremamente factual em seu depoimento. Ela tem exames e relatórios médicos que comprovam tudo que disse.
Você está realmente informada sobre este caso como um todo ?
Parece que quem está fantasiando é você. Imagino que você tenha razões para isso, mas por favor, respeite pessoas como a Vanúzia, que passaram o que passaram e estão aí, firmes e fortes, protegendo a sociedade. Elas mesmas, já perderam tudo que poderiam perder. Fazem isso pelas outras. Para resguardar sua saúde mental, física e moral.
Vanusia
Espero que você supere esse episódio lastimável
que aconteceu na sua vida. Tenha fé em Deus, que
ele existe e com certeza está muito próximo de vc. A justiça(sei que neste pais não...),mas com
certeza da justiça divina ele não escapará.
sei bem o que vc passou nas maos daquele crapula pq minha historia e muito parecida, por sorte nao contrai nenhuma infeccao, nenhuma doenca com o abuso sofrido.
Acredito na condenacao mas acho que vai demorar pq a cada mes que se passa, um novo sem-motivo ocorre e a juiza nao da continuidade no processo que desde Maio deveria ter sido julgado.
O meu abraco a vc , mulher corajosa, que consiga alcancar seus objetivos e tocar a vida pra frente apesar dos pesares.
Daniela
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