Do G1:
Passados 16 anos desde a assinatura, Portugal ratificou nesta sexta-feira o acordo ortográfico, que unifica a forma como é escrito o português nos países lusófonos.
Apesar de polêmico, o texto foi aprovado por deputados de todos os quadrantes políticos - desde o CDS à direita, até o Bloco de Esquerda - com três votos contra e muitos deputados abandonando o plenário durante a votação.
As mudanças na forma de escrever o idioma em Portugal vão se transcorrer em seis anos, No prazo, o prazo vai até 2010.
Questionado sobre o acordo, o escritor José Saramago, prêmio Nobel de literatura, optou por não entrar em polêmica: "Vou continuar escrevendo do mesmo jeito. Isso agora vai ser com os revisores".
Houve grande polêmica em Portugal. A iniciativa contrária à reforma com maior impacto no país foi uma petição na internet, que tentava convencer parlamentares a votar contra o acordo.
O documento, que criticava a proposta por entender que este significava que Portugal cedia aos interesses brasileiros, teve mais de 35 mil assinaturas desde o início do mês, grande parte delas de intelectuais.
"A língua portuguesa é o maior patrimônio que Portugal tem no mundo", afirmou o deputado Mota Soares, do partido CDS.
Ironicamente, dois deputados que encabeçaram a petição - Zita Seabra e Vasco Graça Moura - não estavam no plenário na hora da votação.
Zita Seabra disse que, como é proprietária de uma editora, havia conflito de interesses para votar o texto.
Os estudos lingüísticos que basearam o acordo indicam que os portugueses terão mais modificações do que os brasileiros. O dicionário português terá de trocar 1,42% das palavras, enquanto no Brasil apenas 0,43% sofrerão mudanças.
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o "c" em acto, direcção e selecção, e o "p" em excepto.
A nova norma acaba com o acento no "a" que diferencia o pretérito perfeito do presente (em Portugal, escreve-se passámos, no passado, e passamos, no presente).
Algumas diferenças vão continuar. Em Portugal, polémica e génesis manterão o acento agudo - o Brasil continuará escrevendo com o circunflexo.
Os portugueses manterão o "c" em facto - fato em Portugal é roupa - e vão tirar o "p" que no país não é pronunciado na palavra recepção.
COMENTO
Embora tenha havido em Portugal resistência à aprovação do acordo, já existem, lá, dois dicionários à venda com a nova ortografia. No Brasil, onde praticamente não houve oposição, ainda não existe nenhum, mas logo eles estarão no mercado. Um dos argumentos dos portugueses contrários à reforma é o de que, ao aprová-la, Portugal se curva ao “português impuro do Brasil”. Não é verdade. As alterações foram definidas por todos os países losófonos ao longo de mais de 10 anos de discussões. Ninguém se curva a ninguém. Trata-se de um argumento xenófobo; e quem diz isso é um português, o professor André Simões, da Universidade de Lisboa. Ele só acha que o acordo muda tão pouca coisa, que cabe a pergunta: “Pra quê?”
> Veja o que muda na língua portuguesa com a reforma ortográfica.
Comentários
Postar um comentário