Dois jornalistas cujos blogs estão entre os de maior audiência da internet brasileira, Ricardo Noblat e Reinaldo Azevedo, criticam a entrevista conduzida por Valmir Salaro do Fantástico com Alexandre Nardoni, pai de Isabella, a menina assassinada, e com Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, madrasta.
Logo depois de a entrevista ter ido ao ar, ontem, Noblat, cujo blog está hospedado no portal O Globo Online, escreveu, sem mencionar o nome de Salaro, que “o jornalista limitou-se a perguntar timidamente como explicavam [Alexandre e Anna] as manchas de sangue de Isabella encontradas no carro deles e em uma fralda”. E Salaro de fato, observo, não foi além disso.
Acrescentou, com ironia, Noblat: "[...] que jamais se diga que o jornalista escalado para entrevistar o casal foi duro, rigoroso, implacável ou impiedoso. Que confrontou o casal com as principais evidências reunidas pela polícia para incriminá-lo. E que replicou as respostas oferecidas por ele, interessado em fazê-lo cair em eventuais contradições ou em jogar mais luz sobre um episódio que chocou o país e que tão cedo será esquecido.”
Reinaldo Azevedo, cujo blog está hospedado no site da revista Veja, poupou a Globo de crítica, porque esta, se não aceitasse os termos dos advogados do casal, não obteria a entrevista com o casal, e nenhuma emissora, ressaltou, perderia uma oportunidade como essa.
Observou Azevedo: “Salaro ensaiou uma pergunta ou outra mais dura – referiu-se, por exemplo, de forma genérica, aos laudos --, mas nada que pudesse trazer alguma dificuldade aos dois. Estavam ali, certamente com a anuência dos advogados, para se defender”.
Azevedo colocou a entrevista do Fantástico em um contexto em que toda a imprensa está acuada por setores da sociedade, principalmente da esquerda, que cobram dela a obsessão pela isenção (ou “isentismo”, como chama o blogueiro), independente dos rumos que apontam os fatos.
Escreveu: "[...] atacar 'a mídia' como responsável por aquilo que noticia e/ou denuncia tornou-se um 'botão quente', um instrumento da defesa. Pouco importam evidências, mérito, contradições, absurdos até, o negócio é acusar 'a mídia'. Um grupo de subjornalistas também passou a fazê-lo, como se mídia fosse sempre 'o outro'. Alexandre e Anna Carolina pareciam, ontem, Tarso Genro ou Dilma Rousseff. Dossiê? Tudo coisa da mídia..."
Os telejornais de hoje da Rede Globo e a Globo News reapresentaram à exaustão a entrevista de Alexandre e Anna ao Fantástico.
No Bom Dia Brasil, o âncora Renato Machado, ao introduzir a entrevista, disse que o casal alegou inocência, apesar de todas as evidências que serviram de base para a polícia responsabilizá-los pela morte da menina.
Zeca Camargo, apresentador do Fantástico, ficou em cima do muro: disse que caberia aos telespectadores decidirem se o casal foi sincero, como se o caso dependa apenas da “sinceridade” de Alexandre e de Anna, e não também das investigações e provas da pericial policial.
O Fantástico, que nos últimos anos vem perdendo telespectadores, deve ter tido ontem elevado índice de audiência, mas prestou enorme desserviço ao jornalismo. E Salaro vai passar o resta da vida dando explicações sobre sua condução da entrevista.
> Uma entrevista que a defesa do casal agradece. (Ricardo Noblat)
> O Fantástico e uma imprensa sob ataque. (Reinaldo Azevedo)
> Não há nada de errado com o povo. (Reinaldo Azevedo)
> 'Nardoni e Anna tinha o direito de falar', diz Salaro. (Comunique-se)
> Caso Isabella.
Comentários
A entrevista foi de fato decepcionante, ôca, só serviu de curiosidade. Logo no início levantei do sofá e após longos minutos quando voltei, o casal repetia as mesmas afirmações.
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