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Empreiteiras de obras da Universal financiam PRB

Da Folha deste domingo, por Fábio Zanini:

O PRB (Partido Republicano Brasileiro), legenda do vice-presidente José Alencar e do ministro Mangabeira Unger (Planejamento de Longo Prazo), financiou-se quase que exclusivamente por meio de empreiteiras com grandes contratos com a Igreja Universal do Reino de Deus, em 2006.

O PRB foi organizado em 2005 como extensão política da Universal. Segundo a prestação de contas informada ao Tribunal Superior Eleitoral, R$ 1,51 milhão entraram nos cofres do partido vindo de oito empreiteiras contratadas pela Universal para fazer igrejas de porte médio e as chamadas "Catedrais da Fé", que podem abrigar até 8.000 pessoas sentadas.

As construtoras Liderança, MPC, Icec, Premo, Fujita, Precon, Efer e PBR doaram 94,3% de tudo que o partido recebeu no ano passado. Por conta dessa ajuda, o PRB, mesmo sendo um nanico com três deputados federais e um senador, foi um dos partidos que mais receberam doações privadas em 2006.

Os números são forte evidência de que a igreja fundada pelo bispo Edir Macedo vem usando o PRB para firmar-se na política. O próprio bispo, como pessoa física, doou R$ 10 mil.

A direção do PRB e as construtoras negam que haja algum canal privilegiado para doações entre partido e empresas. Mas um dos líderes da sigla, o senador e bispo licenciado da Universal Marcelo Crivella (RJ), diz que muitos dos doadores são "empresários evangélicos".

As empreiteiras são de médio porte e foram bastante seletivas nas doações -só o PRB foi contemplado. A lei permite a doação de duas maneiras: para partidos e, em anos eleitorais, também para candidatos. Durante a campanha de 2006, alguns candidatos de outros partidos receberam recursos de quatro das oito empreiteiras, mas em proporção muito menor do que a destinada à legenda de Alencar e Mangabeira.

A construtora mineira Liderança foi a campeã nas doações ao PRB, no valor de R$ 500 mil. Ela é a responsável por uma das maiores obras da Universal, a Catedral da Fé de Belo Horizonte, inaugurada em 2004.

A catedral tem 25 mil metros quadrados de área construída, estúdios de rádio e TV, 400 vagas de estacionamento e capacidade para 5.000 fiéis.
Segundo um engenheiro que trabalhou no projeto, sua acústica é considerada modelo para todas as igrejas da Universal. Dentro do prédio, o som é perfeito; fora, não se ouve nada.

A igreja não revela o valor das obras, mas, segundo a Folha apurou, uma obra como essa custa cerca de R$ 100 milhões. Uma igreja menor fica entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões.

Outra empresa, a Premo Construções, ganhou o contrato para uma nova Catedral da Fé, em Bauru (SP). A obra está prevista para ser entregue em março de 2008. A Premo foi a quarta maior contribuinte para o partido, com R$ 155.600.

Fundada no Rio em 1977, a Universal tornou-se um conglomerado que mescla religião, mídia e política. Está em cerca de cem países, controla a Rede Record, um pequeno império de rádios e edita um jornal semanal que apregoa tiragem de 2 milhões de exemplares.

Na semana que vem, a igreja vai inaugurar, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (a quem apóia), o canal de notícias Record News. Segundo o último censo do IBGE (2000), a Universal tem 2,1 milhões de seguidores, mas o número pode estar subestimado.

A estratégia política da igreja vem mudando. Até o início desta década, ela usava o PL (hoje PR) como instrumento político. Mas tinha de dividir o partido com o então presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Em 2005, surgiu o PRB, ligado à igreja. Políticos que procuravam espaço acabaram se agregando aos evangélicos, casos de Alencar e Mangabeira.

O partido ainda engatinha, no entanto. Na eleição do ano passado, recebeu 352.627 votos para deputado federal em todo o país, apenas 0,36% do total. Ficou em 22º lugar entre 29 partidos registrados no TSE.

A própria Universal já viveu dias melhores. Em 2002, "elegeu" 18 deputados federais ligados a si. Em 2006, a bancada caiu para cinco, segundo o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Apesar da posição modesta no ranking, o PRB acabou sendo o quarto partido em valor de doações, só atrás de PT, PSDB e DEM e à frente de legendas maiores, como PMDB e PP.

O perfil dos doadores também é singular. Geralmente, há uma fragmentação entre setores, mas, no PRB, as contribuições estão concentradas em empreiteiras (94,3%). Como comparação, no PSDB 48,6% das doações de 2006 vieram de empreiteiras, e no PT, 28,8%.

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