Volto ao assunto “velha mídia” versus “nova mídia”, também conhecida por web.2, cujo conteúdo é provido pelos próprios usuários. Volto porque o que tenho lido de bobagens tem cansado as minhas retinas, como diria o poeta.
Deixo claro o seguinte: acima da “velha” ou da “nova” mídia encontra-se, soberano, o conteúdo de qualidade, e ele tanto pode estar impresso num papel ou estampado na tela de um computador. No momento, é muito mais fácil encontrá-lo na “velha mídia” do que na “nova”, que está tomada por um lixo monumental.
Uma das bobagens que acabo de ler é de um tal de Julio Daio Borges, no Digestivo Cultura. Transcrevo-o em itálico vermelho e comento em seguida, com texto recuado.
"Meu texto tem voltado à tona com dois novos “ataques” à blogosfera – o primeiro do Estadão; o segundo, meio enviesado, da Folha. Meu texto tem sido relembrado como um exemplo radical, primeiro, de ataque à velha mídia (ou à sua presença na Web); segundo, de defesa da nova.
Não entendi. A "velha mídia" pode ser atacada, mas a nova, a blogosfera, não. Por quê? Pois eu digo e repito que na blogosfera (eta palavrinha feia!) tem lixo, muito lixo, muito mais do que a dita velha imprensa conseguiria suportar. Isso não significa que a blogosfera vai continuar um lixão por toda a eternidade, mas para melhorar, crescer, ela terá de aprender a aceitar criticas, entre outras coisas.
O Estadão bobeou porque não percebeu – como o FT, por exemplo, percebeu – que os blogueiros, junto com os mecanismos de busca e as redes sociais, são os grandes divulgadores de seu novo portal.
Ora, se o Estadão bobeou, o problema e o azar são dele. Já que o mainstream já era, por que existem tantos blogueiros preocupados com ele? O que sei é que ninguém chuta cachorro morto. Outra coisa: quem pode garantir que os blogueiros são os maiores divulgadores do novo portal do jornal? O Ibope fez uma pesquisa? Ora, ao que me consta, o site do Estadão não é somente lido por blogueiros, mas, em sua maioria, por leitores comuns. O fato é este: os blogueiros (pelo menos alguns deles) se dão uma importância que não têm. O mesmo mal, aliás, acomete os jornalistas, mas essa é outra história.
E a Folha bobeou porque, no seu histórico progressismo e pluralismo de idéias, deu voz a um sujeito de um conservadorismo anacrônico – no que se refere à nova mídia, à nova economia da cultura e à nova organização da sociedade.
Eis o que produz a cabecinha deste tal de Daio: ele gostaria que a Folha não tomasse conhecimento de Andrew Keen, que o jornal não exercesse a pluridade da expressão. Ele chama Keen de conservador. Conservador do quê, se o próprio historiador é um blogueiro? Keen tem dito algo que não pode ser contestado. Ele afirma que as informações produzidas por internautas não são confiáveis. E não são mesmo, porque lhes falta o rigor jornalístico. Vamos ser franco: é coisa de amador, o que não chega a ser um demérito, mas apenas um fato o qual temos de reconhecer.
O Estadão não deveria estar preocupado com os blogs independentes, mas, sim, com outros portais, como o G1 – que não acompanho tão de perto, mas que tem impressionado bastante pela agressividade (é o Globo.com que não foi; e que pode ser um dia...).
O tal de Daio escreve, mas não se explica. Ele precisa dizer por que um suposto portal com blogs independentes é melhor do que um com blogs não-independentes. Mas um independente não deixa de sê-lo quando se agrega a um portal da grande e velha mídia? E por que a agressividade tem de ser necessariamente algo positivo?
Já a Folha perdeu tempo com esse Diogo Mainardi da Web 2.0. Pois, será que alguém ainda dá ouvidos a sujeitos que “profetizam” que a WWW é o “fim dos tempos” etc.? Quando o mainstream era hegemônico, esses ataques até preocupavam, mas agora...
Olhaí o Daio cagando regra de novo, agora para a Folha. Ele duvida que alguém dê ouvidos a Keen, mas ele próprio, o Daio, está de orelhas bem atentas. Diz que os ataques da mainstrean não preocupam, mas ele se revela muito preocupado. Outra coisa: Keen não profetiza o fim da web, porque ele não seria tonto de dizer tal besteira.
“Será que estamos preparados para substituir o mainstream?” – esta, para mim, tem sido a grande questão. Não mais uma questão de gosto, portanto... Vamos assumir essa responsabilidade? Ou não vamos? Voluntários???"
Para finalizar, o Daio acalenta a possibilidade de que os blogs possam um dia substituir o tal de mainstream. E convoca: “Vamos assumir essa responsabilidade?” Ridículo. Se os blogueiros quiserem substituir a “velha imprensa” que eles tentem fazer jornalismo de verdade, que parem de escrever “acho isso e aquilo” e que passem a apurar os fatos. Que levantem cedo para entrevistar pessoas, para checar informações, para ouvir as várias e possíveis versões de um fato, que aprendam a escrever direito, que assumam a responsabilidade pelo que publicam etc. Mas nesse caso os blogueiros deixarão de ser blogueiros e se tornarão jornalistas.
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