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Repórter-fotógrafa faz relato sobre cobertura de tiroteio no Rio

No blog Novo em Folha, a repórter-fotógrafa Ana Carolina Fernandes relata a cobertura que fez ontem da troca de tiros entre bandidos e policiais, no Rio. É como se ela fosse correspondente de guerra e estivesse no front. Ela escreve:  "Não vou se hipócrita: para mim, quanto pior melhor".

Segue a íntegra do relato:

"Ouvi a notícia na rádio JB, dentro de um táxi, às 8h30. Liguei imediatamente para o Sergio Costa [pauteiro da sucursal] que disse: "Estava justamente pensando em vc...".
Tudo o que eu sabia é que estava havendo um intenso tiroteio no morro da Mineira e que o túnel Santa Barbara estava fechado. O pauteiro mandou o motorista me buscar com o equipamento e eu não hesite em nenhum momento.
Não tive a menor dúvida em ir, muito pelo contrário, pensei: "Que bom , estamos chegando cedo". Mas isso não era bem verdade, já que o tiroteio pior (aquele que todo mundo viu na televisão) já tinha acontecido quando eu cheguei, às 9h40.
Quando eu cheguei no local a situação era tensa, mas relativamente calma. Pior ou melhor? Não vou ser hipócrita, para mim quanto pior melhor.
Sim, eu estava de colete à prova de balas e não vivi nenhuma situação de risco real, apesar de que nessas situações o risco nem sempre é visível (balas perdidas , por exemplo), há que se estar sempre muito atento e concentrado.
Eu faço esse tipo de cobertura com bastante freqüência.
Temos as normas de segurança da Folha: não entrar em favelas se não tiver polícia ou no meio de tiroteio, usar colete etc. Fiz também um curso dado por uma capitão do Exército britânico ano passado aqui no Rio. Era um curso promovido pela Sociedade Internacional de Jornalismo.
Sinceramente o que mais complica a minha vida é que rarissimamente eu sou pautada cedo. Geralmente sou a última a chegar, quando sou pautada. As agências internacionais (que, por incrível que pareça, têm todas dois fotógrafos no Rio, enquanto a Folha só tem uma) sempre chegam antes de mim.
Para conseguir informações no local é bastante complicado. Por razões óbvias, os moradores não falam e a polícia tampouco. Depois da morte do Tim Lopes, somos vistos como inimigos pela comunidade e como estando do lado da comunidade pela polícia.
Do ponto de vista pessoal, não tenho nenhuma dificuldade, tenho coragem, um ótimo preparo físico, confio em Deus, aguento horas no sol, sem comer e, sinceramente, gosto muito da adrenalina dessas coberturas, mas, estou sempre procurando poesia e arte dentro de tanta violência.
Talvez essa seja a maior dificuldade pessoal, ver a vida como ela é realmente e ver o pior do Brasil in loco.
  
A corrupção da polícia, a cidade tomada pelo tráfico, um arsenal de guerra e pouca perspectiva de que isso possa mudar. E é muito triste ver tanta gente inocente, honesta e trabalhadora vivendo no meio da guerra, como a mãe da menina Alana. E a energia desses lugares muito violentos, com sangue, armas e drogas é muito pesada.
Durante as pautas, estou sempre em contato com a Redação.
Quando tem gente ferida ou morta é complicado, tem que saber a hora de não fotografar também. Eu procuro antes de mais nada respeitar as pessoas e suas dores, não importando se são bandidos, policiais ou pessoas da comunidade."

> Repórter da Geórgia é atingida em transmissão ao vivo. (agosto de 2008)

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