De Alberto Dines, do Observatório da Imprensa no Rádio
A morte [no domingo, 29/4] de Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S.Paulo, além dos sentimentos de respeito e solidariedade, nos remete a uma reflexão sobre a imprensa no Brasil.
A grande revolução operada pela Folha ocorreu em 1975, durante a ditadura militar, quando os jornais estavam silenciados pela censura ou pela autocensura. Frias, então, aceitou a sugestão do diretor de redação, o jornalista Cláudio Abramo, e resolveu fazer da Folha um jornal de opinião. Apostou na distensão política proposta pelo presidente Geisel e assim, talvez pela primeira vez, um jornal se transformava de dentro para fora, a partir do seu conteúdo.
A Folha não se preocupou muito com a aparência, não convocou consultores nem marqueteiros. Simplesmente apostou no jornalismo. Frias nunca foi jornalista, mas acreditava no poder transformador da imprensa. Assumiu que o leitor quer, antes de tudo, um jornal capaz de falar com clareza e convicção.
Abramo e Frias criaram uma página de editoriais, na página 2 e, em seguida, ampliaram o espaço, incorporando a página 3, com a seção "Tendências / Debates". A Folha foi obrigada a recuar dois anos depois diante da pressão da linha-dura, mas tornou a avançar.
Hoje, não há um grande jornal brasileiro que não adote este paradigma. A novidade incomodou há 30 anos e incomoda agora. Graças a Octavio Frias de Oliveira, um empresário inovador, a imprensa brasileira reaprendeu a falar.
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