Pular para o conteúdo principal

Pressão da Renault causa três suicídios em cinco meses


Nos últimos cinco meses, houve três suicídios de funcionários da Renault, a maior montadora de automóveis da França. Em 2004, um funcionário já havia se matado nas dependências da empresa. O brasileiro Carlos Ghosn (foto), famoso pela competência que demonstrou nas empresas pelas quais passou, é o principal executivo da Renault. Ele está empenhado em recuperar a montadora, que vem perdendo mercado. Nos próximos dois anos, ele vai lançar 13 novos veículos e até 2009, o total de 26. O dobro dos lançamentos da Renault nos últimos anos.

Os sindicatos dos trabalhadores responsabilizam a Renault pelos suicídios por causa da “extrema pressão” para que os funcionários cumpram as metas. De início, a montadora vinha negando que pudesse haver qualquer ligação entre os suicídios. Mas ela teve de se curvar às evidências publicadas pela imprensa francesa, até porque, se não fizesse, não seria uma boa estratégia de marketing. Uma das evidências são as cartas que o suicida Raymond D., 38 anos, deixou para a mulher dele, dizendo que não podia mais suportar as exigências da Renault. “É muito duro suportar o ritmo da empresa”, escreveu Raymond, pai de um filho de cinco anos.

A viúva declarou à imprensa que Raymond “sofria de uma pressão enorme, levava os assuntos da montadora para casa e se levantava à noite para trabalhar e ultimamente não conseguia dormir”.

Só então a Renault parou de declarar que atribuir os suicídios à pressão da empresa era precipitação e lançou um programa anti-suicídio, numa convenção com 2.600 de seus executivos e engenheiros –no total, a montadora tem 12 mil funcionários.

Depois que os suicídios foram manchetes da imprensa francesa, Carlos Ghosn disse estar “muito preocupado”, mas escorregou ao afirmar que “a Renault não tem direito de fracassar, mas um funcionário pode fracassar”. Ou seja, o que importa mesmo é que a empresa tenha êxito, mesmo ao custo da morte de funcionários “fracassados”. Talvez Ghosn venha a mudar rapidinho de ponto de vista se houver um boicote aos carros da Renault.

Não é de hoje que as empresas –principalmente as corporações– exercem brutal pressão sobre seus funcionários em nome da competitividade num mercado disputado e ao custo de danos psicológicos irreparáveis em pessoas como o Raymond. Só na França, de 300 a 400 pessoas se matam por ano dentro das empresas em que trabalham.

A pesquisadora Elisabeth Grebot, da Universidade Reims, afirma que os casos de suicídios em empresas devem-se geralmente ao sentimento de solidão, de competição excessiva ou de pressão exacerbada por resultados. Competição não só entre as empresas, mas também entre os próprios funcionários, porque quem hoje perde um emprego bem remunerado dificilmente encontrará outro do mesmo patamar.

Embora grave, a questão de suicídios de trabalhadores não tem o merecido destaque na mídia, a não ser em casos como este da Renault, talvez porque as corporações sejam grandes anunciantes. Contribui para isso a escassez de estatísticas ou a não-divulgação delas. Em relação ao Brasil, não há pesquisa que relacione os suicídios às pressões das empresas.

A Google é uma empresa que tem demonstrado que os funcionários criam e produzem mais quando não estão sob pressão. Na Google, os funcionários têm 20% de seu tempo livre para tocar projetos pessoais, dispõem de área de lazer e esportes, restaurantes de graça a qualquer hora e trabalham num ambiente de total descontração. Nem por isso eles deixam de cumprir as metas da empresa; e o setor da Google, o da web, é tão disputado quanto o da indústria automobilística.

Fontes das informações: Estadão, Folha, Le Figaro e Le Monde.

Casos de assédio moral.


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

'Sou a Teresa, fui pastora da Metodista e agora sou ateia'

Ateu, Dawkins aposta no cristianismo cultural contra avanço do Islã. É um equívoco

Pereio defende a implosão do Cristo Redentor

Música gravada pelo papa Francisco tem acordes de rock progressivo. Ouça

Comissão aprova projeto que torna a Bíblia patrimônio imaterial. Teocracia evangélica?

Historiador católico critica Dawkins por usar o 'cristianismo cultural' para deter o Islã

Misterioso cantor de trilha de novela é filho de Edir Macedo

Baleias e pinguins faziam parte da cultura de povos do litoral Sul há 4,2 mil anos