Roberta disse estar cansada da exclusão por ser ateia |
A sua morte tem repercutido no Facebook, onde ela tinha um perfil que usava para sua militância ateísta. O perfil até ontem continuava disponível, mas alguém deletou as postagens e as fotos.
Entre as fotos, havia registros da participação dela em manifestações a favor do Estado laico, por exemplo. Entre os textos, estava a transição de “Ex-freira Elizabeth, 73, conta como virou militante ateísta”, publicado por este site em novembro de 2012.
Amigos de rede social de Roberta conseguiram tirar cópia de alguns textos e fotos um pouco antes de serem deletados e com eles criaram uma página de homenagem à jovem.
Em um dos textos, Roberta reclama da rejeição que vinha sofrendo por ser ateia. “Estou cansada de gente que simplesmente me exclui de suas vidas ao saber que sou ateia, sem conhecer o meu caráter”, escreveu. A página da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos no Face está dando destaque à mensagem.
Somente um psiquiatra informado sobre o caso de Roberta pode avaliar até que ponto a pressão familiar por ela ser ateia acentuou a sua depressão. Trata-se de uma questão delicada, porque envolve a dor quase insuportável de uma família que perdeu uma jovem.
Pouco se debate o suicido porque, para a sociedade e imprensa, o assunto é incômodo e virou tabu — acredita-se que evidenciá-lo é uma forma de encorajar outros a se matarem.
Não deveria ser assim porque o assunto exige mais atenção, tendo em conta que o suicido no Brasil é a terceira causa de morte entre os jovens de 15 a 19 anos. A taxa de incidência nessa faixa etária onde Roberta se encontrava se multiplicou por dez de 1980 a 2000, de acordo com dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
Os suicidas geralmente dão “avisos” de que pretendem se matar, o que pode ser entendido como pedidos de ajuda, de socorro. No caso de Roberta, além de postagens no Face, ela deu avisos explícitos nas vezes em que teria tentado pôr fim a sua vida, embora agora, a posteriori, fique fácil dizer isso.
No texto transcrito por Roberta, a americana Elizabeth Murad conta como uma menina idealista de uma família religiosa decidiu se tornar freira e, anos depois, assumir a descrença.
Elizabeth ressaltou um episódio que a marcou na adolescência, quando sua mãe, embora frequentadora das missas dominicais, elogiou os ateus pela possibilidade de serem bons sem contar com uma recompensa dos céus.
Talvez Roberta Baêta tivesse a expectativa de obter esse tipo de compreensão.
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Ex-freira Elizabeth, 73, conta como virou militante ateísta
novembro de 2012
Suicídio de uma pessoa causa transtornos em outras cinco
novembro de 2010
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