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'Querem democracia? Deixem a mídia em paz e aguentem o tranco'

Título original: Guerra

por Luiz Felipe Pondé para a Folha

"Democracia" É uma palavra quase tão gasta quanto a palavra "energia". Quer ver?

Pode-se falar em democracia na escola (papo furado para não dar aula ou seduzir os alunos que não gostam de ter aula), democracia dos afetos (hoje transo seres humanos, amanhã, labradores, nada de "especismo", porque cachorro é gente), democracia corintiana (dessa nem falo porque sou um palmeirense ressentido), democracia na família (mesmo que os pais paguem as contas, eles devem obedecer à base popular, isto é, os filhos), enfim, qualquer um pode inventar a sua própria democracia.

Cuba se acha democrática, quando na realidade é uma ilha sitiada por um sistema da idade da pedra. A Alemanha comunista, logo ditadura da pior espécie, se chamava "República Democrática Alemã".

Chávez e Evo Morales (anões bolivarianos) também acham que é democrático ficar mudando a Constituição para ficarem no poder 200 anos. Não é o voto popular que garante sozinho a democracia (só pensa isso quem é analfabeto ou mentiroso). Esta é a nova esquerda que, como sempre quis, quer dominar a América Latina.

Nenhum regime de esquerda é democracia porque os esquerdinhas são essencialmente autoritários como os talebans.

Basta ver o que intelectuais de esquerda fazem no seu mundinho da universidade: destroem carreiras, inviabilizam pesquisas, aniquilam alunos promissores, constrangem moralmente a dissidência, só para perpetuar o domínio institucional. Eles são maioria absoluta e destroem toda liberdade intelectual em nome do "bem coletivo".

Estão preparando no Brasil um dos maiores abusos em nome (adivinhe?) da democracia: o controle da mídia. E esta é uma forma de controle da cultura.

Alguns Estados se preparam para criar órgãos de controle da mídia. Claro que os que assim agem afirmam não ser intenção deles controlar a mídia, mas, como eu não acredito em Papai Noel, sei que não dizem a verdade.

O que é a democracia? Antes de tudo é uma palavra do grego arcaico. Depois, ganhou cidadania na filosofia política em geral para se referir a um sistema de governo baseado na "soberania popular", e aí, meu amigo, a coisa vai para o brejo.

Por exemplo, eu posso ser um tonto, analfabeto de pai e mãe, e meu voto vale tanto quanto o seu, pessoa culta, esforçada para compreender o mundo e fazê-lo menos estúpido do que já é. Eis o brejo...

Logo, voto popular não basta para garantir coisa nenhuma. Todo mundo sabe que, como mostra o maravilhoso filme "Tropa de Elite 2" (que merece um texto à parte), voto é mercadoria barata, qualquer bandido pode migrar do tráfico de drogas para o tráfico de influência (corrupção) e comercializar votos.

E, na democracia, voto vale ouro para quem o recebe e nada para quem o dá. A sobrevida da democracia depende de mecanismos finos de pesos e contrapesos que sustentam a liberdade e que vão muito além do simples voto de qualquer um. E é aí que a democracia brasileira está a um passo do abismo.

Qualquer discurso criminoso de "democratizar" a mídia através de órgãos tutelares do governo (seja ele qual for, mesmo um em que eu votei) deve ser rechaçado se não quisermos virar uma República da banana.

A mídia (TV, cinema, rádio, jornais, publicidade) deve ser absolutamente livre. Deve ter seus próprios mecanismos de autorregulação e jamais ser objeto de "fiscalização externa" (que será sempre ideológica, mesmo que contem historinhas de fadas para dizer que não é).

As melhores intenções neste caso serão sempre criminosas a serviço do "mal". Mídia boa é mídia incômoda. Para além de qualquer crítica que se possa fazer à mídia, ela é a principal arma contra sistemas totalitários que amam a burrice pública da unanimidade.

A pior forma de controle da mídia é aquela que se diz em nome do "combate democrático aos preconceitos" ou da "democratização social" porque se faz invisível usando a palavra mágica "democracia".

Querem uma mídia democrática? Deixem-nos em paz e aguentem o tranco. Esses órgãos de controle da mídia devem ser encarados como uma declaração de guerra. Você tem medo da liberdade?

> O pior canalha pode dizer o jargão 'por uma sociedade mais justa'

> Artigo de Luiz Felipe Pondé

Comentários

Anônimo disse…
Aqui, por exemplo, o Paulo criou a democracia 'paulopeana' e uma vez por semana, publica um textículo mequetrefe( na minha opinião)do Luis Felipe, então democraticamente eu não o leio...
Abraço

Wander
Anônimo disse…
Essa democracia dos afetos tem altos ranços totalitários. Como, por exemplo, o papo de que "só presta aquele com quem vou com a cara". Aí, você coloca pessoas desqualificadas em um cargo, só porque elas possuem afinidade com você.

Política não é namoro. Política não é casamento.
Anônimo disse…
Eu mesmo fui um aluno promissor na UERJ, que fui aniquilado por um desses demagogos, impostores de esquerda. Minha carreira foi pro beleléu, porque eu simplesmente discordei de um ponto, nem me declarei a favor ou contra uma vertente política.

Hoje sou, embora goste de Marx e Foucault, e ainda os considere importantes, ardentemente anti-comunista. Sou um liberal de esquerda.
Anônimo disse…
E tem essa coisa horrorosa também de capital cultural, cria do Bourdieu. Uma Gramática não é um carro zero quilômetro.
Anônimo disse…
Dilma foi enfiada nossa goela abaixo pelo Lula, dada a mediocridade dos outros candidatos. Um cheque em branco assinado pela população, devido à péssima qualidade de um Serra.

O PSDB tem uma culpa histórica nesse período que iremos viver, de ter ficado só na promessa, enquanto partido social democrata.

Essa eleição acrescentou uns ducados de megalomania ao Lula, que, depois dessa, voltará nos braços do povo, como foi Vargas. Dilma é sua Eurico Gaspar Dutra.
Ricardo disse…
E ainda tivemos que engolir o tal "voto de protesto" no primeiro turno. Sem brincadeira, alguém levava a Marina Silva a sério, antes de ela ser candidata a presidente? Alguém, em sã consciência, pensava que ela fosse "mais pura" e, por isso, faria um governo diferente, mais decente? Bem, talvez alguns estudantes pensassem assim...
A mulher não sabe nem sorrir, parece que está fazendo careta. E pensar que durante a campanha teve jornalista metido a intelectual que disse que ela possuía uma "beleza natural, bruta e selvagem" que ninguém percebia (pelo jeito, só ele). Antes da campanha ela era só feia mesmo.
Anônimo disse…
Concordo em gênero número e grau com o escritor Pondé, e com os comentadores seguintes (menos com aquele que aparentemente não compreendeu o conceito de capital cultural cunhado por Bordieu). Não existe democracia compatível com os reinados da apatia e da ignorância políticas. E me apóio aqui somente na definição de Platão sobre aqueles que se consideram detentores de um saber "suficiente" mas que desistiram de qualquer coisa parecida com um desenvolvimento intelectual desde que eram "mancebos"! Enquanto isso, nos termos de Castoriádis: "O preço do silêncio continua a ser pago na dura moeda do sofrimento humano" e a vida na pseudo-democracia Brasileira continua como refém sacrificial do terror e da brutalidade do mundo humano... (não tanto mais do mundo natural como do mundo simbólico)
Anônimo disse…
Bravo! Bravo! Bravo! Viva Pondé! Viva a Monarquia! (não confundir com governo das "monas", por favor)
Conseguiu finalmente elevar o nível acadêmico dos discursantes, o rigor retórico dos internautas intelecas de ocasião! Ressentidos de todos os naipes do tarô, uni-vos! Vamos criar a 5a. Internacional dos ex-comunistas!Ressuscitaram até Castoriadis, Platão, e por que ninguém falou em Tocqueville?
Se até Nietzsche agora é um oligarca frustrado, um aristocrata meio que oblíquo(décadas atrás era esquizofrênico, mas mutatis mutandis) e sazonal...E pensar que eu jurava que a democracia era quando nós, a gentalha, mandamos na plebe e a representamos( e tirania, quando a nobreza nos manda a todos e a contragosto a obedecemos);mas...de onde tiraram ponés a idéia de que a imprensa É livre??? Na Folha de São Paulo ela é livre? Eh?ééééh??? Ah, tá.
Então eu proponho um enunciado: deixemos a mídia comprada, que ninguém é livre a não ser pra escolher entre explorar ou ser explorado, e agüentem o tranco! ( e aos replicantes, aviso que sou da terceira geração, na mesma família, de jornalistas: a imprensa nunca foi livre, a ciência nunca foi neutra, e a mulata é a tal).
Anônimo disse…
Ricardo:

Concordo em gênero, número e grau, com você. Aliás, na minha cidade, havia três irmãos: o feio, o horrível, e o terceiro, por falta de um superlativo, nomearam-no sem comparação.
Não dá mesmo pra sorrir quando se é incomparável em feiúra. Nem pra confiar quando alguém passa da verve naturalista original para o simulacro ecoindustrial...Natura, natureba, Natura...boticário? Depois Avon? O avião era da Natura e o batom? E sem essa de valores cristãos, também, vovó Júlia católica, estágio na teologia da libertação, marxismo cristão, pra depois descambar na igreja pentecostal? E receber apoio de Malafeita do capeta?
Voto de protesto? Só se for protestantismo democrático. E não é que me fizeram lembrar que ela e o Agroserra pareciam o casal Adams? Um Gomez dietético e uma Morticia light. Fui.
Anônimo disse…
Pergunto ao Anônimo da Imprensa Comprada se havia imprensa livre, quando no tempo dos comunas capachos de Stálin.

E ao outro, da complexidade mal compreendida do conceito de capital cultural de Bourdieu, digo simplesmente que ele foi um cagador de regras, empenhado na ideia de que vamos sair dessa situação "para um mundo melhor".

Sai daí, seu pastel!!
Anônimo disse…
Ha, ha ha, ha, ha, ricardo , morri de tanto rir,mas ressuscitei...nunca vi definição tão bem feita do casal apagão o da eleição, se bem que a outra opção é meio iron mayden em versão tupiniquim kkkkkkk e ressuscitaram até um maccartista não foi, que coisa mais antiga é um anticomunista, tão demodé quanto ver um jovem de hoje pseudocrítico e alienado com camisa de che guevara....kkkkkkk ricardo, cê tá melhorando, as críticas a ponzé o estão afiando.
Anônimo disse…
Bem feito pra vocês, que sempre massacraram as opiniões contrárias. Agora estão colhendo o fruto do que plantaram: ódio.
Todo mundo detesta vcs da mídia, cada vez mais. Quem manda ficarem mentindo, falseando fatos etc. como fazem com o Daime? Agora paguem o preço e aprendam a ser mais corretos.
Elmar Fonseca disse…
Muito conveniente e parcial para um jornalista clamar por liberdade plena. Esquece-se ou finge não conhecer a importância do seu papel de transmitir a milhões e do lobby que isto gera para a criação das pautas. Também ele deve esquecer da questão ética... Como se todo jornalista fosse ético... É perniciosa a idéia de uma ferramenta tão poderosa como a mídia não passar por um controle. Os três poderes passam pelo controle. O cidadão passa por um controle. As empresas passam por um controle. A administração indireta passa por algum controle. Os estrangeiros passam por algum controle quando estão em nossas terras. É inviável, do ponto de vista da realidade, a liberdade plena. Tudo acaba passando por alguma espécie de regulamentação. Então não é uma prerrogativa muita vantajosa a que estão buscando? Não querem uma espécie de exclusividade suprema que traz muito poder e que atende em cheio a interesses de grupos específicos? Convém lembrar, por fim, que a liberdade jornalística não se pode confundir com a verborragia por interesses lobbystas. Ainda mais em se tratanto de um meio tão poderoso e de tão grande alcance quanto este de transmissão para as massas.

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