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Dá para ateu ter conversa sincera com quem crê em contos sobrenaturais sem parecer ofensa?

É preciso um pouco de hipocrisia no contato diário com parente, amigos e vizinhos que são crentes


James A. Haught
jornalista e escritor, o autor colaborador da FFRF (Freedom From Religion Foundation), organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que se dedica à defesa da separação entre o Estado e a Igreja

Os céticos enfrentam um dilema: quando declaramos que dogmas sobrenaturais são falsos contos de fadas, os crentes que dedicam suas vidas a esses dogmas podem se sentir amargamente insultados. Isso dificulta que livres-pensadores bem-intencionados e religiosos bem-intencionados mantenham discussões abertas, sinceras e amigáveis.

Como podemos tornar o diálogo possível?

Primeiro, é flagrantemente claro que alguns crentes ficam indignados quando sua fé é desafiada. Por que os crentes reagem tão fortemente? Bertrand Russell escreveu que isso ocorre porque eles percebem, inconscientemente, que suas crenças sobrenaturais são insensatas, portanto, não toleram qualquer desafio.

Diante de tudo isso, é difícil para céticos sinceros conversarem com crentes sinceros sem causar ressentimentos. Como lidamos com vizinhos, amigos e familiares? 

Eis a maneira errada: um dia, dois evangelistas de aparência chamativa entraram na redação do meu jornal. Tentei provocá-los de forma descontraída — mas em poucos minutos estávamos todos gritando uns com os outros, com o rosto vermelho. Foi horrível.

Existe uma maneira melhor? Eu realmente não posso dizer a um religioso: “Eu respeito o seu direito de adorar seres sobrenaturais”, porque eu não respeito. Acho isso estúpido.


Há uma única
abordagem
viável no
relacionamento
com crentes:
seja educado.
Mantenha a
calma.
Seja razoável.
Faça perguntas
que levem os
crentes a
enxergar
falhas em
sua fé

Questione os crentes. Por exemplo:

P: A Bíblia (Êxodo 31:15) decreta: “Todo aquele que fizer qualquer trabalho no dia de sábado, será certamente morto.” E quanto a todos os policiais, bombeiros, paramédicos, funcionários de hospitais e outros que trabalham no domingo? A Bíblia deve ser obedecida?

P: Deuteronômio 22 ordena que noivas que não sejam virgens sejam levadas à porta de seus pais e apedrejadas até a morte. Os cristãos devem obedecer a esse capítulo?

P: Levítico 20:13 determina que os homens gays “serão certamente mortos; seu sangue será sobre eles”. A Bíblia deve ser obedecida?

P: A Bíblia aconselha como comprar e vender escravos. Levítico 25:44 diz: “Tanto os teus servos como as tuas servas, que tiveres, serão das nações que estão ao redor de ti; deles comprarás servos e servas.” Êxodo 21:7 estabelece regras a serem seguidas quando “um homem vende sua filha para ser serva”. A Bíblia deve ser seguida nesse sentido?

E o ponto crucial: por que um Deus misericordioso deixa crianças morrerem de doenças horríveis, sem fazer nada enquanto os pais oram desesperadamente? E por que Ele permite que tsunamis, tornados e fenômenos semelhantes matem multidões?

Talvez questionar educadamente seja a melhor maneira de lidar com os religiosos que nos cercam. Se isso não funcionar, podemos simplesmente sorrir para nós mesmos e evitar debates.

> Esse texto foi publicado originalmente no Church and State.

Comentários

betoquintas disse…
E mais uma vez, reduz-se religião para o Cristianismo. O autor confirmou que não é possível o diálogo. Parabéns pelo fracasso. 😤
Matheus disse…
O cristianismo é a religião dominante no Brasil, se formos criticar a religião no contexto do nosso país, o alvo acaba sendo o cristianismo mesmo.
CBTF disse…
Só o fato de falar que é ateu já faz eles se sentirem ofendidos e pedirem respeito.

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