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Evangélicos travam 'guerra espiritual' para exorcizar o diabo de instituições e terem o controle delas

Pastores e fiéis adotam o discurso da “guerra espiritual” para justificar ações de ocupação de espaços públicos e pressionar o Estado a seguir princípios religiosos


Um movimento de igrejas evangélicas tem ampliado ações para dominar espaços públicos e políticos. 

O discurso central é o de “guerra espiritual”, ideia de que forças malignas agem contra Deus no mundo e precisam ser combatidas também nas instituições.

Em nome dessa guerra, grupos religiosos organizam cultos em praças, escolas e câmaras municipais. 

Em uma universidade paulista, centenas de jovens realizaram orações e cânticos no principal espaço do campus, afirmando que estavam “consagrando” o local a Deus.

Na cidade mineira de São Sebastião do Paraíso, fiéis ocuparam o plenário da Câmara Municipal para um evento chamado “Dia de Jesus”, transmitido pela TV legislativa. 

No Congresso, deputados ligados a igrejas tentam aprovar com urgência a criação de uma bancada cristã.

A expressão
“guerra espiritual”
vem do Antigo
Testamento e foi
interpretada por
neopentecostais.
Eles ensinam
que o mal se
manifesta não
apenas em
pessoas, mas
também em
instituições
públicas,
partidos,
escolas e
movimentos
sociais.


Para esses líderes, derrotar o mal exige ocupar os espaços onde o “inimigo” estaria agindo. Assim, pregam a presença cristã em todas as esferas da sociedade, incluindo política, mídia e ensino. 

Essa expansão é vista como missão divina e dever moral.

O conceito ganhou força a partir dos anos 1990, com a influência de igrejas que combinam pregação religiosa e ambição política. Elas afirmam que a “libertação do Brasil” depende da tomada de posições estratégicas no governo e na cultura.

A doutrina ensina que demônios controlam territórios, como cidades e instituições, e que devem ser expulsos por orações e atos simbólicos. Alguns pastores sobrevoam cidades em aviões, declarando que estão “limpando o ar espiritual” de influências malignas.

Essas ações não são isoladas. Fazem parte de uma rede que conecta templos, congressos e programas de televisão. O objetivo é criar uma narrativa de confronto permanente entre o bem e o mal, com a religião no centro da política nacional.

O discurso da guerra espiritual transforma a disputa eleitoral em cruzada moral. Candidatos são apresentados como “ungidos de Deus” e adversários como instrumentos do demônio. 

Isso reforça a ideia de que política e fé são partes da mesma batalha.

Para estudiosos da religião, a guerra espiritual funciona como uma estratégia de mobilização. Ela gera engajamento e fidelidade ao líder religioso, além de transferir tensões políticas para o campo da fé. O inimigo deixa de ser apenas um opositor ideológico.

Pesquisadores observam que o movimento tenta substituir o Estado laico por uma visão teocrática, na qual leis e políticas públicas devem seguir princípios bíblicos.

O ideal seria um país “governado por Deus”, expressão comum em cultos e redes sociais religiosas.

Essa visão estimula o confronto com valores democráticos. Grupos evangélicos contrários à igualdade de gênero, aos direitos reprodutivos e à diversidade sexual descrevem esses temas como “estratégias demoníacas” que precisam ser extintas.

A influência política cresce por meio de alianças com parlamentares e candidatos que usam a retórica da guerra espiritual em campanhas. O objetivo é consolidar poder institucional e definir o que é moralmente aceitável na vida pública.

O avanço dessa ideologia também alcança escolas, com projetos para transformar o recreio em “momento bíblico” e para incluir ensino religioso confessional em currículos. 

A proposta é “formar cidadãos de Deus”, segundo documentos de grupos ligados a igrejas.

Especialistas alertam que a presença organizada de igrejas nas políticas públicas ameaça a laicidade do Estado, princípio constitucional que garante liberdade de crença e impede a imposição de doutrinas religiosas.

A “guerra espiritual”, apresentada como luta contra o mal invisível, tem produzido resultados visíveis: a religião se tornou instrumento de poder. O campo espiritual virou trincheira política.

> Com informação da entrevista do historiador Joanildo Burity ao Instituto Humanitas Unisinos e de outras fontes.


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