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A ciência sempre venceu os confrontos com a religião. Mas os crentes não se rendem. Até quando?

Desde a Grécia Clássica, muitos estudiosos foram vítimas da fúria obscurantista de homens de fé


James A. Haught

A guerra histórica entre ciência e religião começou na Grécia Antiga e continua agitada mais de dois milênios depois. A ciência venceu todos os confrontos, mas os crentes no sobrenatural não se rendem.

A Grécia Clássica fervilhava de fé mágica. Multidões de animais eram sacrificadas a uma bizarra variedade de deuses invisíveis que supostamente viviam no topo do Monte Olimpo. Multidões davam dinheiro a oráculos que supostamente transmitiam mensagens dos deuses. Até mesmo “guerras sagradas” eram travadas pela riqueza acumulada pelos santuários dos oráculos.

Em meio a toda essa confusão, alguns pensadores sábios começaram a buscar explicações naturais, não sobrenaturais. Foi o nascimento da ciência — mas era arriscado porque crentes matavam descrentes.

Anaxágoras (500–428 a.C.) ensinava que o Sol e a Lua eram objetos naturais, não divindades. Ele foi condenado à morte por impiedade, mas escapou para o exílio.


Pode não
ocorrer com
a velocidade
desejável,
mas no
correr dos
tempos a
ciência ganha
os embates
com os
dogmas
religiosos,
minando os
argumentos
de um
suposto
plano do
sobrenatural

Protágoras (490–420 a.C.) disse que não sabia se deuses existiam — por isso foi banido de Atenas. Seus escritos foram queimados e ele se afogou enquanto fugia para o mar.

O mártir mais famoso foi Sócrates (470–399 a.C.), que foi condenado à morte por crimes como “não adorar os deuses adorados pelo Estado”.

Ao longo dos séculos, os crentes muitas vezes mataram pensadores científicos, mas a ciência sempre se mostrou correta.

Hipácia (c. 360–415 d.C.), uma mulher brilhante que chefiava a famosa biblioteca de conhecimento de Alexandria, foi espancada até a morte por seguidores cristãos de São Cirilo.

O médico Miguel Servetus (c. 1510–1553), o primeiro a aprender que o sangue flui do coração para os pulmões e vice-versa, foi queimado na Genebra puritana de João Calvino por duvidar da Trindade.

Giordano Bruno (1548–1600) foi queimado pela Santa Inquisição por ensinar que a Terra gira em torno do Sol e que o universo é infinito.

O pioneiro da ciência Galileu escapou por pouco do mesmo destino, pelo mesmo motivo, mas foi condenado à prisão domiciliar perpétua.

Na época em que Charles Darwin (1809–1882) percebeu a evolução, a religião ocidental já havia praticamente perdido o poder de matar os inconformistas. Seu avanço desencadeou uma batalha entre religião e ciência que perdura até hoje. Isso causou o notório “Julgamento do Macaco Scopes” no Tennessee em 1925, e ainda se intensifica quando fundamentalistas tentam banir a evolução dos cursos de ciências em escolas públicas. 

Os fundamentalistas afirmam que um pai-criador sobrenatural criou todas as espécies na forma moderna há cerca de 6.000 anos — enquanto a ciência prova que a vida remonta a muito mais tempo e que novas espécies evoluíram a partir das anteriores. A evolução se tornou a base da biologia moderna.

A luta entre ciência e religião também surge quando alguns crentes fervorosos deixam seus filhos morrerem porque — confiando nas promessas de Jesus de que a oração curaria doenças — eles se recusam a procurar ajuda médica.

Hoje em dia, quase todos percebem que a ciência é uma dádiva colossal para a humanidade, curando doenças, eliminando o trabalho árduo, avançando o conhecimento, facilitando as comunicações globais e, de modo geral, melhorando a vida. 

Em 1900, a expectativa de vida média era de 48 anos, mas agora está perto dos 80, graças principalmente aos avanços da medicina. Em contraste, a religião pouco oferece ao mundo, e o extremismo islâmico causa massacres constantes.

O biólogo Richard Dawkins afirma que a fé “subverte a ciência e mina o intelecto”. Mas a ciência continua resistindo, ganhando as guerras declaradas, muitas vezes, pela religião.

> James A. Haught (1932-2023) foi colaborador da FFRF (Freedom From Religion Foundation), organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que se dedica à defesa da separação entre o Estado e a Igreja.

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