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Estudo revela que cultura de fumo contamina água e agricultores em SC

De 36 amostras de água, 18 estavam contaminadas com pesticidas, sendo a maioria delas em rios próximos às lavouras

Um estudo realizado em Chapadão do Lageado, no interior de Santa Catarina, revela que o cultivo do tabaco expõe agricultores e recursos hídricos à contaminação por pesticidas. 

O artigo, publicado na revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, investigou a presença de resíduos de agroquímicos usados na fumicultura em rios e poços da região, além da ocorrência da doença da folha verde do tabaco (DFVT) e de sintomas de intoxicação por agrotóxicos entre os produtores.

Com a autoria de pesquisadoras da Universidade Regional de Blumenau (Furb), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas da Argentina (Conicet), o trabalho foi motivado após uma das autoras, Giane Carla Kopper Müller, doutora em engenharia ambiental pela Furb e proprietária de áreas rurais em Chapadão do Lageado, identificar a presença de agroquímicos em águas de suas terras. 

“Fiquei intrigada, pois as fontes são protegidas, rodeadas por vegetação e distantes, cerca de 500 metros, de lavouras. Quis entender qual seria a origem dessa contaminação.”

A metodologia combinou entrevistas com 107 pessoas, representando 42% dos fumicultores da região (258). Já a análise da água foi feita a partir de 36 amostras coletadas em seis pontos dos três principais rios do município — Rio do Meio, Rio Figueiredo e Rio Lageado — sendo três pontos a montante (antes das áreas de cultivo, no sentido contrário ao fluxo do rio) e três a jusante (depois das áreas de cultivo, acompanhando o fluxo da água). 

Também foram analisadas seis amostras de poços, localizados próximos aos pontos de coleta dos rios e utilizados para consumo humano, durante três fases da safra de 2019. 

As amostras passaram por filtragem e análise em laboratório com uso de cromatografia líquida e espectrometria de massa, e foram testadas para 14 dos pesticidas mais citados pelos fumicultores.

As entrevistas revelaram um cenário de intensa exposição ocupacional. A maioria dos fumicultores trabalha em pequenas propriedades, com o tabaco como principal fonte de renda (85%), e dedica mais de 75% do tempo familiar à atividade. 

Crianças e idosos também participam da colheita. Dos produtores entrevistados, 91,6% relataram sintomas relacionados à DFV e 19,6% relataram sintomas relacionados ao manuseio de pesticidas.


Os riscos de exposição
dos agricultores são
potencializados por
uso incorreto ou parcial
dos equipamentos de
proteção individual
(EPI), falhas no descarte
e descontaminação de
vestuários, embalagens
e equipamentos utilizados
no preparo e aplicação
dos agroquímicos

Apesar de 99% dos entrevistados reconhecerem a importância dos EPI, apenas metade afirma sempre usá-los ao manusear pesticidas, aumentando os riscos de intoxicação. Somente 13% afirmam ser necessário usar EPIs para evitar a intoxicação, DFVT ou popular “porre do fumo”, devido à exposição à nicotina.

“Não se pode restringir o risco de contaminação apenas ao momento da aplicação direta do agrotóxico na lavoura. É preciso considerar também as embalagens usadas, as roupas de proteção, os utensílios e os resíduos presentes no ambiente agrícola, explica Lorena Benathar Ballod Tavares, professora do programa de pós-graduação em engenharia ambiental da Furb e coautora do artigo. 

"Mesmo após o uso, esses materiais ainda retêm partículas tóxicas, que podem ser dispersas pela água da chuva ou pelo manuseio inadequado, ampliando a exposição de trabalhadores e o risco de contaminação ambiental.” 

Além disso, a proximidade entre as plantações comerciais e os alimentos cultivados para o consumo da própria família, como aipim, feijão e frutas, aumenta a exposição.

A análise da água detectou resíduos de pesticidas em 18 das 36 amostras, sendo a maioria em rios próximos às lavouras. Princípios ativos como sulfentrazone, imidacloprid e thiamethoxam foram identificados em concentrações que superam o limite individual máximo de 100 nanogramas por litro, estabelecido pela União Europeia para água potável. 

No Brasil, não há parâmetros de potabilidade definidos para os ingredientes ativos testados. Quatro de seis poços analisados estavam contaminados; as fontes de água testadas são usadas para consumo humano, irrigação e piscicultura.

Para as autoras do estudo, os resultados reforçam a urgência de políticas públicas voltadas à educação sobre riscos ocupacionais e ambientais no cultivo de tabaco. 

Para a pesquisadora Maria Pilar Serbent, do Conicet, são necessários investimentos em soluções que reduzam essa exposição dos agricultores, como modelos de produção orgânica. “Eles plantam tabaco e usam agrotóxicos porque é a única forma de garantir a subsistência da família”, defende Müller. 

“São dependentes dessa forma de produção e não têm os recursos, subsídios, investimentos e nem acesso à expertise para buscar meios menos prejudiciais ao meio ambiente e à própria saúde.” 

O estudo também sugere que a fiscalização ambiental e o monitoramento da qualidade da água sejam intensificados em regiões de monocultura.

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