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O que houve com as entidades de defesa do Estado laico? Evaporaram-se pelo Bule de Russell?

No país onde um líder de extrema-direita se elegeu presidente com o slogan “Deus acima de tudo”, as organizações e entidades que defendem o princípio constitucional do Estado laico são quase inexistentes


Paulo Lopes
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Diário Popular, Editora Abril, onde foi premiado, e em outras publicações

A Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) já foi mais ativa ao acionar o Ministério Público contra as persistentes tentativas (algumas bem-sucedidas) de religiões evangélicas de ocupar territórios do Estado, como escolas e câmaras municipais.

Minha expectativa é que a Atea adote uma postura mais ofensiva, inclusive criando uma nova página no Facebook — a antiga foi cancelada pela rede social devido a reclamações de fundamentalistas que não toleravam deboches ateístas. 

A LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil) desapareceu em 2019 sem deixar despedida ou explicação, até onde sei. Sua página oficial e perfil no Facebook foram desativados.

Quando surgiu, em 2010, a LiHS gerou a expectativa de incentivar o debate sobre a secularização no Brasil, um movimento já em expansão na Europa. Esperava-se também que a Liga tivesse um ativismo jurídico em defesa da laicidade estatal. Isso não ocorreu.


O inexistente
bule voador, 
uma metáfora
de Deus

Gostava do nome do blog da Liga: Bule Voador. Trata-se de uma referência ao argumento do filósofo Bertrand Russell (1872–1970): se houvesse registros antigos sobre um bule de chá na estratosfera, hoje esse utensílio, embora inexistente em órbita, seria considerado sagrado e venerado pela maioria das pessoas. O Bule de Russell é uma metáfora para Deus.

Ultimamente, uma única pessoa tem mantido acesa a chama da resistência aos evangélicos que buscam ocupara espaços da laicidade.

Trata-se do jornalista Eduardo Banks, autor de dezenas de representações ao Ministério Público exigindo que instâncias de governo se submetam à laicidade do Estado. Transformadas pelo MP em ADIs (Ações Diretas de Inconstitucionalidade), as representações de Banks têm obtido vitórias significativas na Justiça.

Seria ótimo para a defesa do Estado laico se existissem mais pessoas como ele. Sugiro a Banks que crie uma página no Facebook para orientar as pessoas a recorrerem ao MP em defesa da laicidade estatal.

Recentemente, com sede em Recife, surgiu o Movimento Brasil Laico, cujo propósito é justamente o de acionar o Ministério Público dos Estados e o Ministério Público Federal contra violações da laicidade.

Com representantes, até o momento, em 15 estados, o MBL tem como presidente Leandro Patricio, historiador e professor.

O movimento se declara apartidário, mas não passou despercebido por políticos de direita, aqueles que resistem à separação entre Igreja e Estado.

Em 18 de março, a Câmara Municipal de Recife rejeitou, por 15 votos a 9, uma moção de aplausos ao Movimento Brasil Laico proposta por Cida Pedrosa (Psol) porque, para alguns vereadores, trata-se de uma organização anticristã.

Se o MBL já está incomodando cristãos fundamentalistas, é bom sinal.

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