Pular para o conteúdo principal

Quem sofre de síndrome do coração partido corre risco de morte

O efeito viuvez pode causar depressão, ansiedade, redução da função imunológica e declínio geral saúde; idosos se destacam como vítimas


JÚLIA VALERI
jornalista
Jornal da USP

“Mudaram as estações, nada mudou. (…) Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre acaba?”. Os versos iniciais da canção de Cássia Eller refletem uma experiência universal: a perda e o luto. 

Essa situação pode desencadear um quadro de consequências prejudiciais à saúde, como distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, diminuição da função imunológica e até mesmo um declínio significativo na saúde física. Esse panorama é comum e recebe o nome de efeito viuvez.

Maria Julia Kovács, professora sênior do Instituto de Psicologia da USP e membro fundadora do Laboratório de Estudo sobre a Morte, explica que o efeito viuvez, ou síndrome do coração partido, é quando a perda de uma pessoa é vivida de uma forma tão intensa e tão dolorosa, ou com tanto sofrimento, que acaba levando à morte do enlutado. 

Trata-se de uma condição médica documentada, conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse, e ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. 

Essa condição foi descrita pela primeira vez em 1990, no Japão, e nessa síndrome o coração fica tão parecido com uma armadilha de polvo japonesa chamada takotsubo, que alguns médicos começaram a denominar a doença de cardiomiopatia de takotsubo.

Apesar do estado clínico crítico, que pode resultar na morte do enlutado, Kovács comenta que não é uma regra para aqueles que sofrem da síndrome do coração partido.

“É importante a gente considerar que, mesmo que a pessoa não queira mais viver, não quer dizer que obrigatoriamente ela vai ter um processo de adoecimento direto ou vai cometer o suicídio.” 

Além disso, na maioria dos casos, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.

O efeito da viuvez foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo. Uma pesquisa realizada por Nicholas Christakis, que dirige o Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale, e Felix Elwert, professor de Sociologia da Universidade de Wisconsin, ambas nos Estados Unidos, afirma que o risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes.

O estudo ainda revelou que, quando um parceiro morreu de forma súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabete, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir.

No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.

A professora ainda explica que casais da terceira idade e os viúvos homens são os mais propensos a sofrerem dessa síndrome, uma vez que as pessoas mais idosas vivem muito tempo juntas e muitas vezes não conseguem conceber uma vida sem a pessoa querida, e os homens dificilmente vão expressar seus sentimentos, no preceito de que se abrir e conversar sobre suas emoções é equivalente à fragilidade. “Às vezes eles podem entrar em grande sofrimento e acabar falecendo.”

Psicóloga afirma que o
sentimento de luto pode
se arrastar por anos

Estudo publicado 2023 na revista PlosOne mostra que, de fato, os homens correm um risco maior de morrer após perder a parceira. Ao estudar dados de quase 1 milhão de cidadãos dinamarqueses casados, os pesquisadores descobriram que os homens tinham 70% mais chances de morrer do que os que não perderam a parceira. No caso das mulheres, 27% eram mais propensas à morte do que as que não se tornaram viúvas.

Kovács afirma que não se pode generalizar.

“Quando, por exemplo, a pessoa é muito idosa ou já tem um processo de adoecimento, ou alguma condição que requer atenção psicológica ou psiquiátrica, que dificulta o processo de elaboração do luto, pode ser que ela seja mais propensa à síndrome do coração partido em um período curto de tempo; outras pessoas têm um processo de luto mais longo, que pode ser chamado de complicado, porque a intensidade, o sofrimento é muito grande e a capacidade e vontade de viver nesse mundo sem a pessoa querida é tão penosa que o luto se arrasta por anos.”

Ela ainda comenta que “existem circunstâncias em que a vida pode ficar melhor, porque às vezes o relacionamento era tóxico, era difícil, havia muito conflito e muita briga e, portanto, a viuvez se transforma nessa possibilidade de retornar ao bem-estar e à simplicidade da vida”.

Entretanto, Kovács nota que é sempre importante ficar atento aos sinais da síndrome para que, se necessário, se faça a intervenção e a busca por ajuda. 

“Os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária.” 

Diante disso, a psicóloga enfatiza a necessidade de um acompanhamento próximo ao parceiro sobrevivente. Se manifestações de desvalorização da vida surgirem ou se houver queixas sobre a dificuldade de seguir adiante e de se adaptar à vida sem o parceiro, ela destaca a importância de uma conversa direta com o indivíduo e oferecer apoio e opções como grupos terapêuticos, terapia individual ou até mesmo medicação.

“Não finja que está tudo bem e cerque-se de pessoas para as quais você não precisa fingir que está bem. O luto é um ato de coragem e força. Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação. Procure ajuda se necessário”, conclui a especialista.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Deputado gay é ameaçado de morte no Twitter por supostos evangélicos

Resposta do deputado Jean Wyllys O militante gay e deputado Jean Wyllys (PSOL) recebeu hoje (18) pelo Twitter três ameaças de morte de supostos evangélicos. Diz uma delas: "É por ofender a bondade de Deus que você deve morrer". Outra: "Cuidado ao sair de casa, você pode não voltar". A terceira: “"A morte chega, você não tarda por esperar".  O deputado acredita que as ameaças tenham partido de fanáticos religiosos. “Esses religiosos homofóbicos, fundamentalistas, racistas e enganadores de pobres pensam que me assustam com ameaças de morte!”, escreveu ele no Twitter. Wyllys responsabilizou os pastores por essas “pessoas doentes” porque “eles as conduzem demonizando minorias”. Informou que vai acionar as autoridades para que os autores da ameaça seja penalizados. Escreveu: "Vou recorrer à Justiça toda vez que alguém disseminar o ódio racista, misógino e homofóbico no Twitter, mesmo que seja em nome de seu deus". Defensor da união civi...

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus