Pular para o conteúdo principal

Desenvolvimento urbano deve se orientar pelas mudanças climáticas, diz relatório

A comunidade local deve atuar para proteger as pessoas e seus meios de subsistência, com atenção para as cadeias de abastecimento global


AGÊNCIA BORI

Em novo relatório lançado nesta quarta (20), especialistas globais em mudança climática argumentam que a resiliência climática deve ser adotada como um princípio orientador em todo o desenvolvimento urbano, dada a exposição extrema das cidades ao risco climático.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a resiliência climática se define como a capacidade dos ecossistemas sociais, econômicos e de lidar com um evento perigoso ou tendência ou distúrbio, respondendo ou reorganizando de forma a manter sua função essencial, identidade e estrutura, bem como a biodiversidade no caso dos ecossistemas, mantendo também a capacidade de adaptação, aprendizagem e transformação. 

A resiliência é um atributo positivo quando mantém tal capacidade de adaptação, aprendizado e/ou transformação

O Climate Crisis Advisory Group (CCAG) identifica três vertentes da resiliência climática e as principais áreas de foco da resiliência para ambos governos locais e nacionais: pessoas e meios de subsistência, economia e custos e cadeias de abastecimentos globais. 

Centros urbanos vão
precisar de novas
infraestruturas

Foto: Tales Ferretti / Unsplash

Com relação às pessoas, o foco da resiliência estará nas localizações costeiras das cidades, na migração climática e no aumento da população urbana vulnerável em países mais pobres. Segundo o documento, a grande prioridade das estratégias de resiliência das cidades será proteger pessoas e meios de subsistência, com envolvimento da comunidade local.

Neste cenário, o custo econômico será superior a tudo o que foi experimentado até agora, com sobrecarga de estruturas existentes. Aumentar a resiliência e prevenir perdas econômicas deve guiar o planejamento e desenvolvimento urbano em cidades mais ricas. 

O foco da resiliência, em terceiro lugar, deve estar nas cadeias de abastecimento globais que, no momento, são frágeis. Diante de eventos climáticos extremos múltiplos, em várias regiões do globo, será preciso fortalecer essa cadeia para evitar a escassez de produtos e alimentos em todo o mundo.

O relatório também aponta que, embora as cidades “antigas” e “novas” enfrentem frequentemente riscos climáticos semelhantes, suas preocupações diferem. As cidades antigas, muitas vezes na Europa ou na América do Norte, visam proteger o que já existe de estrutura, com perdas econômicas e danos como sua principal preocupação. 

Em contraste, em novos centros urbanos, em rápida expansão, em países em desenvolvimento da Ásia, como Dhaka, em Bangladesh, muitas infraestruturas necessárias para a resiliência climática ainda precisam ser construídas. Assim, essas cidades enfrentam desafios mais dinâmicos e difíceis de navegar.

Neste contexto, as cidades brasileiras também precisam criar suas próprias estratégias de resiliência. “As mudanças climáticas estão intensificando o risco de inundações, secas e deslizamentos de terra, que terão efeitos devastadores em todo o Brasil", comenta o pesquisador Gustavo Alves Luedemann, membro do CCAG.

"De acordo com o Banco Mundial, estes choques poderão levar até 3 milhões de pessoas à pobreza extrema já em 2030. No entanto, o processo de reforço da resiliência climática e de preservação do crescimento econômico deve ser equitativo e justo.” 

A maioria da população mundial vive em cidades – e, apesar de ocupar apenas 2% da superfície mundial, os centros urbanos representam mais de dois terços do consumo global de energia. 

O relatório argumenta que focar na redução de emissões de gases de efeito estufa nas cidades pode mudar a trajetória das emissões globais e evitar o pior cenário de aumento de temperatura. Ele cita três grandes pontos para chegar a uma cidade resiliente, com baixa emissão de carbono: finanças, coordenação e planejamento.

Os especialistas apontam a existência de uma lacuna atual no financiamento climático que se estima ser superior a 630 mil milhões de dólares por ano. O financiamento privado tem um papel claro a desempenhar na condução da mudança nas cidades para emissões líquidas zero, à medida que provavelmente proporcionará entre 80 a 90% do investimento total na transição nas próximas décadas. 
Apesar disso, o documento salienta que a maior parte do investimento privado continua a fluir para ativos com alto teor de carbono. 

Falhas de regulação e de mercado também fazem com que exista um desalinhamento de interesses entre financiadores, governos e sociedade com relação ao enfrentamento da crise climática. É preciso reverter esse processo e promover o investimento em cidades habitáveis com emissões líquidas zero.

Para isso, será preciso uma forte integração entre as múltiplas partes interessadas, com consistência e coerência na formulação de políticas, planos e regulamentos. Essa coordenação, segundo o relatório, está lado a lado com um planejamento de longo prazo, com regulamentos de construção de resiliência climática em cidades e orientações específicas.

O financiamento, o planejamento e a coordenação devem apontar todos na mesma direção: promover o clima resiliência nas cidades, reduzindo as emissões nas construções de prédios e estabelecendo políticas verdes de transporte público e tráfego. 

“Os governos também devem estabelecer caminhos e códigos obrigatórios para alcançar carbono zero para edifícios novos e antigos o mais rápido possível possível”, orientam os especialistas.

O relatório faz parte de uma série de análises feitas de forma independente pelo CCAG – e divulgadas, em primeira mão, para jornalistas brasileiros pela Agência Bori (veja relatórios anteriores aqui e aqui). O CCAG reúne 15 especialistas do clima de 10 países diferentes, com a missão de impactar na tomada de decisão sobre a crise climática.

• Recuperação de área da mineração de Carajá é monitorada por imagens de satélite

• Das 600 espécies de tubarão, só 10 registram incidentes fatais com humanos, diz pesquisadora

Comentários

Com certeza!
Mas há MUITAS coisas precárias. A Economia Humana é algo completamente fora da realidade. No MUNDO REAL, a Economia se baseia em consumo de recursos. Sejam materiais energia e capital hunano. Mas na excessivamente virtualizada "Economia" Humanas, tudo esta ligado ao monetarismos, taxas de juros isso e aquilo, câmbio e principalmente EXPLORAÇÃO de mão-de-obra e países com descaso com meio-ambiente.
Na Economia Real, sai certamente muito caro ganchinhos (p.ex.) e outras coisas, mesmo mais sofisticadas, mas de uso geral, serem fabricadas "do outro lado do mundo". Sim, qualquer pessoa pode ver que até certas miudezas banais são fabricadas na China! Quando de água, energia, mão de obra etc e agora outra métrica dos gases de efeito estufa estõ envolvidos?
Certas indústrias químicas em países "mais desenvolvidos" migraram para a Índia e outros, onde sabe como é, não?...
A panacéia do carro elétrico, É MESMO SUSTENTÁVEL em termos globais? No ambiente urbano vai ser uma maravilha. Mas se considerar a vida útil, é mesmo, globalmente dizendo?
Lembram da troca das lâmpadas? O lado bom é termos iluminação adequada, quando brancas. Mas em termos de economia global, pela vida útil não tão longa como DEVERIA, é sustentável?
A obsolescência programada, "que maravilha" forçar a descartar coisas ainda úteis...
E inúmeros etcéteras.
Mas na Economia Humana tudo isso faz sentido. Muito marketing (leia-se MANIPUAÇÃO), a tal ESG para "se posar de bonitinhas" as empresas...
No mundo INSANO da "Economia" Humanas, tudo é antes de tudo feito pelo marketing, jogos pelo PODER e outros horrores. E será muito tarde, aliás, já está sendo.
Fora que as religiões na esmagadora maioria dão "aquela ajuda" pelo desdém ao ser humano e meio-ambiente. Afinal, o que vale é a "vida no além", seguindo regrinhas estúpidas. Nada de regras boas do tipo "sem preconceitos", zelar pelo meio-ambiente, "plantar árvores é algo sagrado" e outras boas.
A ÂNCIA pelo PODER tem muito a ver com isso tudo. Os poderosos não abrem mão e brigam entre si, inclusive. O povo? Apenas para ser explorado e que se danem!
A Natureza vai continuar, apenas diferente, espécies extintas, outras novas, pois Evolução é adaptação pela Seleção Natural. E nossa espécie apenas antecipando a própria extinção.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Canadenses vão à Justiça para que escola distribua livros ateus

René (foto) e Anne Chouinard recorreram ao Tribunal de Direitos Humanos do Estado de Ontário, no Canadá, para que a escola de seus três filhos permita a distribuição aos alunos de livros sobre o ateísmo, não só, portanto, a Bíblia. Eles sugeriram os livros “Livre Pensamento para Crianças” e “Perdendo a Fé na Fé: De Pregador a Ateu” (em livre tradução para o português), ambos de Dan Barker. Chouinard sugeriu dois livros à escola, que não aceitou Os pais recorreram à Justiça porque a escola consentiu que a entidade cristã Gideões Internacionais distribuísse exemplares da Bíblia aos estudantes. No mês passado, houve a primeira audiência. O Tribunal não tem prazo para anunciar a sua decisão, mas o recurso da família Chouinard desencadeou no Canadá uma discussão sobre a presença da religião nas escolas. O Canadá tem cerca de 34 milhões de habitantes. Do total da população, 77,1% são cristãos e 16,5% não têm religião. René e Anne são de Niágara, cidade perto da fronteira com...

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Bento 16 associa união homossexual ao ateísmo

Papa passou a falar em "antropologia de fundo ateu" O papa Bento 16 (na caricatura) voltou, neste sábado (19), a criticar a união entre pessoas do mesmo sexo, e, desta vez, associou-a ao ateísmo. Ele disse que a teoria do gênero é “uma antropologia de fundo ateu”. Por essa teoria, a identidade sexual é uma construção da educação e meio ambiente, não sendo, portanto, determinada por diferenças genéticas. A referência do papa ao ateísmo soa forçada, porque muitos descrentes costumam afirmar que eles apenas não acreditam em divindades, não se podendo a priori se inferir nada mais deles além disso. Durante um encontro com católicos de diversos países, Bento 16 disse que os “cristãos devem dizer ‘não’ à teoria do gênero, e ‘sim’ à aliança entre homens e mulheres no casamento”. Afirmou que a Igreja defende a “dignidade e beleza do casamento” e não aceita “certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da bel...

Eleição de Haddad significará vitória contra religião, diz Chaui

Marilena Chaui criticou o apoio de Malafaia a Serra A seis dias das eleições do segundo turno, a filósofa e professora Marilena Chaui (foto), da USP, disse ontem (23) que a eleição em São Paulo do petista Fernando Haddad representará a vitória da “política contra a religião”. Na pesquisa mais recente do Datafolha sobre intenção de votos, divulgada no dia 19, Haddad estava com 49% contra 32% do tucano José Serra. Ao participar de um encontro de professores pró-Haddad, Chaui afirmou que o poder vem da política, e não da “escolha divina” de governantes. Ela criticou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus do Rio, a Serra. Malafaia tem feito campanha para o tucano pelo fato de o Haddad, quando esteve no Ministério da Educação, foi o mentor do frustrado programa escolar de combate à homofobia, o chamado kit gay. Na campanha do primeiro turno, Haddad criticou a intromissão de pastores na política-partidária, mas agora ele tem procurado obter o apoio dos religi...

Existe uma relação óbvia entre ateísmo e instrução

de Rodrigo César Dias   (foto)   a propósito de Arcebispo afirma que ateísmo é fenômeno que ameaça a fé cristã Rodrigo César Dias Acho que a explicação para a decadência da fé é relativamente simples: os dois pilares da religião até hoje, a ignorância e a proteção do Estado, estão sendo paulatinamente solapados. Sem querer dizer que todos os religiosos são estúpidos, o que não é o caso, é possível afirmar que existe uma relação óbvia entre instrução e ateísmo. A quantidade de ateus dentro de uma universidade, especialmente naqueles departamentos que lidam mais de perto com a questão da existência de Deus, como física, biologia, filosofia etc., é muito maior do que entre a população em geral. Talvez não existam mais do que 5% de ateus na população total de um país, mas no departamento daqueles cursos você encontrará uma porcentagem muito maior do que isso. E, como esse mundo de hoje é caracterizado pelo acesso à informação, como há cada vez mais gente escolarizada e dipl...

Registro de 'trigamia' é 'putaria', afirma psicóloga cristã

Marisa Lobo disse que, ao saber do caso, desejou a volta logo de Jesus A psicóloga Marisa Lobo (foto) ficou indignada com o registro de um contrato por um cartório de Tupã (SP) onde duas mulheres e um homem declaram ter envolvimento emocional entre si, vivendo sob o mesmo teto há três anos. Para a “psicóloga cristã”, como ela se apresenta, o nome dessa união é “orgia” e o que o cartório legalizou foi uma “putaria”. Ela disse ter usado essa palavra para se “fazer entender sem falsos moralismos”. De acordo com o cartório, o trio oficializou a sua união, estabelecendo as mesmas regras de um casamento tradicional, para garantir os direitos de cada um deles e dos filhos, como o de herança. Um deles foi nomeado como administrador dos bens. Lobo escreveu que, quando tomou conhecimento dessa “trigamia”, teve vontade de pedir “Jesus, volte logo”, porque se lembrou da decadência moral de Sodoma e Gomorra. “Como membro da sociedade estou chocada, como profissional e militante...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica O prefeito Gilberto Kassab (PSD), na foto,  disse que vai vetar o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo que aprovou o Dia do Orgulho Heterossexual. Trata-se de um recuo porque, na época da aprovação do projeto, ele disse que a nova data não tinha caráter homofóbico. Agora, Kassab disse que se trata de uma medida “despropositada”, conforme entrevista que deu ao jornal Agora São Paulo. "O heterossexual é maioria, não é vítima de violência, não sofre discriminação, preconceito, ameaças ou constrangimentos. Não precisa de dia para se afirmar", disse. O prefeito falou haver somente sentido em datas que estimulem “a tolerância e a paz” em relação, por exemplo, a mulheres e negros e minorias que são vítimas de ofensas e brutalidades. Na campanha de 2008 da eleição municipal, a propaganda na TV de Marta Suplicy (PT) chegou a insinuar que o então seu adversário Kassab era gay, embora ela ti...

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação...

Roger Abdelmassih agora é também acusado de erro médico

Mais uma ex-paciente do especialista em fertilização in vitro Roger Abdelmassih (foto), 65, acusa-o de abuso sexual. Desta vez, o MP (Ministério Público) do Estado de São Paulo abriu nova investigação porque a denúncia inclui um suposto erro médico. A estilista e escritora Vanúzia Leite Lopes disse à CBN que em 20 de agosto de 1993 teve de ser internada às pressas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com infecção no sistema reprodutivo. Uma semana antes Vanúzia tinha sido submetida a uma implantação de embrião na clínica de Abdelmassih, embora o médico tenha constatado na ocasião que ela estava com cisto ovariano com indício de infecção. Esse teria sido o erro dele. O implante não poderia ocorrer naquelas circunstâncias. A infecção agravou-se após o implante porque o médico teria abusado sexualmente em várias posições de Vanúzia, que estava com o organismo debilitado. Ela disse que percebeu o abuso ao acordar da sedação. Um dos advogados do médico nega ter havido violê...