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Falta de percepção da ciência dificulta aceitação da teoria da evolução

Estudo revela que, nas escolas, a religião não é o único fator de resistência à seleção natural das espécies

IVANIR FERREIRA / Jornal da USP
jornalista

A religião desempenha um papel menos importante para a aceitação da teoria da evolução nas escolas, mostra estudo de pesquisadores da USP realizado a partir da análise de informações de um banco de dados que reúne cerca de 5.500 estudantes brasileiros e italianos.
  
“Aspectos socioculturais mais amplos, como percepção social da ciência e questões socioeconômicas,  que incluem religião, possuem peso maior para a compreensão do tema”, relata o professor Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Biológica Charles Darwin (EDEVO-Darwin).

Teoria da evolução é um corpo de conhecimento que explica e interpreta os fenômenos evolutivos no planeta Terra. Para Charles Robert Darwin (1809–1882), a evolução ocorre por meio de uma seleção natural, que leva a uma mudança gradativa nas características dos indivíduos. Darwin foi um importante naturalista britânico e ficou conhecido por sua grande contribuição para o entendimento da evolução e por sua obra A Evolução das Espécies.

“Apesar desse conceito ser importante para a compreensão de assuntos relacionados às diversas áreas das ciências biológicas, a dificuldade de compreensão do tema é enorme, principalmente nas escolas”, diz Bizzo. 

Nacionalidade dos 
estudantes também
influencia no aprendizado
do ensinamento
de Darwin

No Brasil, geralmente os conhecimentos de evolução são ofertados aos alunos no final do ensino médio, diferentemente do que ocorre na Itália, que começa antes dos dez anos. “Tópicos que abrangem os principais teóricos [Charles Darwin e Jean-Baptiste de Lamarck] e assuntos que permeiam dogmas religiosos e concepções criacionistas têm gerado diversos confrontos entre alunos e professores que possuem crença religiosa”, diz.

As novas análises mostraram que os níveis de aceitação sobre a evolução biológica entre estudantes católicos brasileiros estão mais próximos dos evangélicos brasileiros do que quando comparados aos católicos italianos.

“Observamos que a nacionalidade dos estudantes é mais determinante que a religião em si para a aceitação da evolução”, diz o pesquisador. 

O estudo Acceptance of evolution by high school students: Is religion the key factor? foi publicado na Plos One no último dia 19 de setembro.

Para realizar o estudo, os autores criaram um “índice intercultural”, no qual se quantificou a diferença entre as opiniões (aceitação ou rejeição da teoria evolutiva) de italianos católicos e brasileiros católicos e destes com os brasileiros evangélicos. O termo evangélico representa o universo de não católicos cristãos considerados pela sociedade brasileira como protestantes, constituído por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais.

A aceitação da evolução foi medida com base em cinco declarações relacionadas com a teoria da evolução, idade da Terra, registro fóssil, ancestralidade em comum e a origem dos seres humanos. 

Para a afirmação “Diferentes organismos podem ter um ancestral comum”, por exemplo, a diferença de aceitação foi nove vezes maior entre católicos italianos e brasileiros do que entre católicos e evangélicos brasileiros. “O padrão se repetiu com as demais questões”, afirma Bizzo.

Segundo Leonardo Araújo, pesquisador e um dos autores do artigo, “embora a pesquisa não tenha aprofundado questões como o sistema educacional dos países, há outras variáveis reconhecidas como relevantes pelos pesquisadores no que diz respeito à aceitação ou rejeição da teoria evolutiva, como nível socioeconômico dos estudantes, o capital cultural familiar e as atitudes em relação ao conhecimento científico pela sociedade em geral”. 

Os resultados gerados pelo banco de dados “contradizem pesquisas anteriores que apontavam a religião como fator isolado mais importante para a aceitação da evolução”, relata Araújo.

A pesquisa que gerou o banco de dados, cujas informações foram analisadas mais recentemente pela equipe do professor Bizzo, foi realizada em 2014 com estudantes brasileiros e italianos e fez parte da tese de doutorado de Graciela Oliveira, da FE. A coleta de dados original foi realizada concomitantemente no Brasil e na Itália, por meio de parceiros italianos liderados pelo pesquisador Giuseppe Pellegrini, do Instituto Observa, Science in Society, da cidade de Vicenza, outro coautor do artigo.

Com informação do estudo Acceptance of evolution by high school students: Is religion the key factor? e ilustração de Adrielly Kilryann.

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Comentários

Anônimo disse…
Realmente, já reparei nisso, entre os protestantes e católicos europeus é raro alguém não acreditar na evolução das espécies. O problema é que aqui os negacionistas tomaram conta da religião e virou até difícil alguma igreja não apoiar essa coisa que está aí na presidência.

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