Pular para o conteúdo principal

Ser cético é uma questão sobretudo de ter honestidade intelectual

Uma pessoa íntegra não afirma saber coisas sobrenaturais que não pode saber


JAMES A. HAUGHT
Freedom From Religion Foundation

Ninguém sabe realmente de onde vêm as crenças. Os psicólogos não conseguem explicar o que torna algumas pessoas céticas e outras, crentes. Portanto, não sei o que me levou a duvidar, enquanto alguns de meus colegas de classe até se tornaram pregadores. Tudo que sei é minha própria história.

Nasci em 1932 em uma pequena cidade rural da Virgínia Ocidental que não tinha eletricidade ou ruas asfaltadas. Fui enviado para as escolas dominicais do Bible Belt e tentei orar quando criança. Mas um despertar ocorreu na minha adolescência. 

Na aula de química do colégio, aprendi como lacunas e excedentes nas camadas externas de elétrons fazem com que os átomos se liguem em moléculas, formando quase tudo em nosso mundo. Foi uma revelação que explica muito da existência.

A ciência se tornou uma obsessão, um portal para a compreensão da realidade. Lentamente, as reivindicações da religião de deuses, demônios, céus, infernos, anjos, demônios, milagres e messias invisíveis transformaram-se em minha mente em contos de fadas.

Por acaso, tive a sorte de conseguir um emprego no jornal — e meu mundo se expandiu. Com um editor que ria das pregações de evangelistas, debati religião. 

Concordei que afirmações religiosas sobrenaturais eram bobagens — mas eu tinha um dilema: se as explicações mágicas são absurdas, que melhores respostas existem? O que uma pessoa honesta pode dizer? Ele me olhou atentamente e respondeu: “Você pode dizer: eu não sei”. Bingo! 

Imediatamente, um caminho de honestidade se abriu para mim. Eu me juntei a um grupo de céticos, li livros de física e filosofia e cimentei uma visão de mundo científica.

Encontrei razões lógicas para pensar que as pessoas deveriam rejeitar dogmas:

— Ocorrências horríveis, como o tsunami no Oceano Índico em 2004, que afogou inúmeras crianças, provam que o universo não é administrado por um pai amoroso. Nenhum criador compassivo planejaria tais coisas. Em filosofia, esse dilema é chamado Problema do Mal. Não refuta a existência de um deus sem coração, mas elimina o deus misericordioso das igrejas.

— Centenas de deuses e religiões do passado desapareceram e são risíveis hoje. As divindades de hoje são mais substanciais?

— Embora as igrejas afirmem que a religião torna os crentes amorosos e fraternos, o registro histórico frequentemente mostra exatamente o oposto.

— Muitos dos pensadores mais brilhantes ao longo da história têm sido céticos. Se as melhores mentes não conseguiam engolir os princípios sobrenaturais, por que deveríamos?

— O pensamento científico requer evidências detectáveis ​​e testáveis. Mas a religião não oferece nenhuma prova, exceto escritos deixados por homens santos mortos há muito tempo. Pessoas que buscam o conhecimento precisam de algo mais tangível.

— Apesar da suposição comum de que os líderes religiosos são mais morais do que as pessoas comuns, um número terrível deles não o é. Não há nenhuma evidência de que a religião os torna mais santos do que você.

— Mesmo os crentes devotos são céticos sobre os dogmas de outras religiões. Por exemplo, os judeus duvidam que Jesus fosse divino. Os cristãos duvidam que Jesus apareceu ao Mestre Moon e disse para ele para converter todas as pessoas para serem "Moonies". E os muçulmanos duvidam que Jesus tenha vindo para a América pré-histórica, como afirmam os mórmons.

As crenças religiosas dependem muito da demografia. Uma pessoa nascida em uma terra muçulmana, em uma família muçulmana, dificilmente se tornará hindu, budista, judeu ou cristão. O mesmo padrão se aplica a outras terras e outras famílias. A fé depende principalmente de onde você nasceu.

E os avanços na educação e no conhecimento científico fazem com que as crenças sobrenaturais desapareçam. A religião já foi tão importante para os europeus que eles mataram milhões de pessoas por causa dela. Mas desde o Iluminismo e o surgimento do pensamento científico, a religião praticamente desapareceu na Europa.

Ao longo dos anos, expus essas premissas em livros e ensaios de revistas. Até criei um romance de pensamento livre focado em absurdos religiosos na Grécia antiga.

Para mim, o resultado final é a honestidade. Uma pessoa íntegra não afirma saber coisas sobrenaturais que não pode saber. Uma pessoa honesta deseja evidências sólidas para apoiar afirmações e desconfia de afirmações infundadas. Portanto, os céticos são os mais honestos de todos.

Explicação da
ciência é sempre
plausível, mas não
engana ninguém

> James A. Haught é jornalista e membro da FFRF (Freedom From Religion Foundation), organização sem fins lucrativos que se dedica à defesa da separação entre o Estado e a Igreja.

Comentários

breve encontro disse…
Muito bom este texto. Ajudou-me, através de uma muito inteligente e bem concebida síntese, a entender um vasto conjunto de problemas teológicos que me vinha colocando. Agradeço ao Autor e aos responsáveis por esta página. Estou a equacionar, muito seriamente, a minha crença (cristã, católica). Custa. naturalmente, deixar de lado ou desprezar, toda a Cultura ancestral, toda a reflexão milenar de muitos indivíduos e comunidades sobre os valores do Cristianismo. Mas tem de ser, precisamente, por uma questão de honestidade intelectual.
Obrigado, pois!
HP
hmjpena@gmail.com
BarrosFilho disse…
Texto claro,e sucinto sobre crenças em divindades absolutamente inexistentes. De fato, ter honestidade intelectual implica,necessariamente, refutar dogmas religiosos sem nenhuma comprovação científica que há milênios são impostas aos seres humanos!
Anônimo disse…
Uma vez deixei meu computador pra arrumar com um técnico e do nada ele falou que era crente da Assembleia de Deus, achei aquilo muito estranho e fiquei desconfiado, resultado, nunca mais vi meu computador.
Sim, e as religiões sendo as principais crenças impostas, por serem as mais poderosas formas de controle social e manipuação das massas... Muito comum começando via doutrinamento de menores. O próprio monoteísmo foi deliberadamente desenvolvido para tal. Fora os nichos de mercado de diversas fés, muitas para estimular consumismo também, como Vegan, "orgânicos", suplementação alimentar, diversos produtos fantásticos para beleza, pseudomedicinas diversas, traquitanas esotéricas etc.
Somente o Ceticismo e Racionalismo libertam.
-- "O ônus do ceticismo" em
universoracionalista PTO org /o-onus-do-ceticismo
Do artigo:
"O cientista francês Henri Poincaré afirmou o seguinte sobre por que a credulidade é avassaladora: “também sabemos quão cruel a verdade frequentemente é, e nos perguntamos se a ilusão não é mais consoladora”. Foi isso que tentei dizer com meus exemplos. Mas não penso que essa seja a única razão de a credulidade ser avassaladora. O ceticismo desafia instituições estabelecidas. Se ensinarmos a todos, digamos, os estudantes do ensino médio o hábito de ser cético, talvez essas pessoas não restrinjam seu ceticismo a comerciais de aspirina e canalizadores de 35.000 anos (ou canalizados). Talvez eles comecem a fazer perguntas difíceis sobre instituições econômicas, sociais, políticas ou religiosas. E onde iremos parar?
O ceticismo é perigoso. Essa é exatamente sua função, no meu ponto de vista. É função do ceticismo ser perigoso. E é por isso que há uma grande relutância para ensiná-lo nas escolas. É por isso que você não encontra uma fluência geral em ceticismo na mídia. Por outro lado, como dominaremos um futuro muito perigoso se não tivermos as ferramentas intelectuais mais elementares para fazer perguntas investigativas àqueles nominalmente no comando, especialmente em uma democracia?"
.
Obs.: do "perigoso" seria ao status quo, aos poderosos...
betoquintas disse…
Centenas de linguagens desapareceram. Então, segundo o raciocínio, não existe linguagem?

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...