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Livro explica que educação científica é arma contra os males do negacionismo

É preciso pensar criticamente

LUIZ PRADO / 
Jornal da USP

Quando a ciência está sob ataque, é preciso empunhar armas para defendê-la e fazer o inimigo recuar. Armas, no caso, que não disparam tiros ou arrancam a vida de ninguém, mas são o terror do obscurantista: a escrita e a divulgação correta dos dados científicos.

Marcelo Knobel é mais um que entra nesse campo de batalha para afastar o negacionismo e a pseudociência. Em seu novo livro, A Ilusão da Lua, o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Departamento de Física da Matéria Condensada daquela instituição reúne em textos acessíveis, escritos com bom humor e uma prosa fácil, um bom punhado de ciência para tempos tão estremecidos.

“Quanto mais as pessoas aprenderem a pensar criticamente, a questionarem as informações, menos gente propagará a desinformação”, comenta Knobel na introdução do livro.

Lançado pela Editora Contexto, o livro é organizado em três partes. Na primeira, a ciência surge dos fatos do cotidiano, reunindo curiosidades que podem vir de uma criança de 3 anos ou da criança que, de vez em quando, ainda aparece em nós. 

Em textos curtos e ágeis, Knobel explica por que cobertores nos protegem do frio, comenta sobre a falta de consenso a respeito da ilusão do tamanho da Lua no céu e discorre sobre a complexidade por trás de uma xícara de café, dentre outros fatos do dia a dia enredados pela ciência.

“Ao vestir uma roupa ou ao hibernar sob um aconchegante cobertor, diminuímos as correntes de ar próximas à pele e, assim, minimizamos as perdas de calor por convecção”, escreve o docente. “Fora isso, os cobertores e agasalhos para o frio possuem fibras que são intimamente dobradas e facilitam a formação de bolhas estacionárias de ar no seu interior. O ar que permanece próximo à nossa pele por alguns instantes é aquecido, o que faz com que a variação de temperatura seja menor entre o ar e o corpo, reduzindo igualmente a taxa de perda de calor por radiação.”

Na segunda parte do livro, o tema é a importância do fazer científico e da divulgação com qualidade desse saber. O reitor da Unicamp faz nos textos reunidos uma defesa do investimento na ciência básica, trata da espinhosa questão do plágio na comunidade científica e recupera o valor dos museus de ciência e tecnologia.



“Precisamos fazer da ciência um assunto cada vez mais presente”, escreve Knobel. “Nas escolas, na imprensa, nas redes sociais. Não falo apenas das aplicações práticas, mas também de toda a atividade científica e das maravilhas que vamos descobrindo sobre os seres vivos e o Universo. Estimular perguntas é tão importante quanto dar respostas. Quais hipóteses são avaliadas em um estudo? Quais as chances de ele dar certo? Como comprovar que algo realmente funciona? O que se busca em determinado processo de inovação tecnológica?”

O terço final de A Ilusão da Lua traz uma seção com reflexões sobre pseudociências e negacionismo. Knobel alerta para os sinais de discursos falseadores e pseudocientíficos, como o uso de argumentos de autoridade, correlações de causa e efeito que não se sustentam e exemplos selecionados apenas para comprovar teses. Pontua que a pseudociência não tem compromisso com a realidade, mas apenas se molda às preferências do público.

Um dos exemplos mais atuais disso é o negacionismo em relação à eficácia da vacinação. 

“O movimento antivacina, que se utilizava da pseudociência mais baixa, foi um prenúncio do que viria depois com a pandemia da Covid-19, com a ode à cloroquina, o uso em massa de vermífugo como uma mentirosa profilaxia e a negação da importância do confinamento. Os efeitos devastadores são conhecidos. A questão é como chegamos aqui”, escreve o professor.

> A Ilusão da Lua, de Marcelo Knobel, Editora Contexto, 160 páginas, R$ 39,90.

Comentários

Anônimo disse…
Não adianta, quem continua apoiando o Bolsonada com certeza nunca leu um livro na vida.
Leu sim, Bíblia. Mas como não percebe os erros e afins, vai pelo intérprete pastor, padre e outros que a vêem como "correta, sem contradições etc" em suas hermenêuticas.
Outras (poucas) leituas são materiais tendenciosos de sempre. Quando se depara com algo bom, cético e afins, diz que é errado, contra Deus, esquerdista etc.
Importante haver conteúdo assim, sim. O problema agora é a OUTRA etapa, quem lerá? Uma minoria lê material de alto grau de qualidade, mesmo este sendo bem explicado, sem jargões etc.
A maioria, QUANDO LÊ, ainda sim muito comum conteúdo ruim. E quando bom, esclarecedor, acha que está errado, vai contra Deus, se o leitor é de Direita o conteúdo acreditará ser "de Esquerda" etc.

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