Pular para o conteúdo principal

Se Trump continuasse a ignorar o coronavírus, haveria nos EUA 2,2 milhões de mortos

Antonello Guerrera / La Repubblica   Pesquisadores do Imperial College: caso se continuasse a ignorar a ameaça, ou seja, colocando uma resposta quase nula ao coronavírus, nos EUA haveria 2,2 milhões de mortes e até 510 mil no Reino Unido.

É o estudo que fez Boris Johnson e Donald Trump mudarem de ideia, inicialmente relutantes em tomar medidas drásticas contra o coronavírus.

TRUMP SÓ SE SENSIBILIZOU
COM ESTUDO QUE MOSTRA
QUE MORTOS PODEM CHEGAR
A MILHÕES NOS ESTADOS UNIDOS

Não apenas isso: também convenceu o presidente francês Emmanuel Macron, para quem "a França agora está em guerra", depois que o chefe do Elysée adotou nas últimas horas medidas duras e restritivas semelhantes às italianas. 

O estudo em questão se chama Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID- 19 mortality and healthcare demand e os autores são uma equipe coordenada pelo professor Neil Ferguson do Imperial College de Londres, uma das principais instituições de pesquisa e medicina pública no mundo.

O estudo liderado pelo professor Ferguson foi decisivo porque demonstrou aos líderes e às forças-tarefa dos Estados Unidos, Reino Unido e França quais seriam os riscos catastróficos de uma abordagem muito branda à ameaça do coronavírus.

Desde a introdução do estudo, Ferguson é muito claro: "Este é o vírus respiratório mais perigoso desde a gripe H1N1 de 1918. Na ausência de uma vacina", o que não é esperado antes de 18 meses, “estas são, em nossa opinião, as medidas de saúde pública, as chamadas intervenções não farmacêuticas (NPIs), para reduzir a propagação da doença".

O estudo não deixou muito espaço para discussão aos líderes mundiais. De acordo com Ferguson e os outros pesquisadores, de fato, caso se continuasse a ignorar a ameaça, ou seja, colocando uma resposta quase nula ao coronavírus, nos Estados Unidos haveria 2,2 milhões de mortes e até 510 mil no Reino Unido. Um massacre colossal. 

Mas até mesmo uma resposta branda teria gerado perdas extremamente graves e um grande número de vítimas, de acordo com Ferguson: o chamado "cenário 1", que é uma abordagem que prevê medidas limitadas à mitigação do coronavírus, simplesmente desacelerando sua propagação e afrouxando a pressão sobre o sistema de saúde, teria causado, mesmo assim, pelo menos 260 mil mortes no Reino Unido e cerca de um milhão nos EUA.

É por isso que Johnson ontem, como Trump nos últimos dias, mudou sua estratégia. Embora, no caso inglês, não tenha implementado o isolamento de um país inteiro ou o fechamento forçado de locais públicos, assim como fizeram a Itália e outros países. 

Até ontem [anteontem], de fato, o Reino Unido havia adotado o citado "cenário um", limitado ao isolamento de uma semana para indivíduos com potenciais sintomas de coronavírus e poucas outras limitações.



Hoje, no entanto, há medidas muito mais rigorosas, embora ainda voluntárias, como "sair de casa apenas para os serviços necessários ou por exercícios físicos bem distanciados de outras pessoas, reduzir os deslocamentos dentro do país, trabalhar em casa o máximo possível e limitar drasticamente contatos e locais públicos e, portanto, os tradicionais pubs, discotecas, restaurantes, cinemas e teatros".

Não apenas isso: se tiver um dos dois sintomas do coronavírus (febre alta ou tosse persistente), o sujeito terá que se abster de sair por uma semana, enquanto "todo o resto da família" terá de permanecer em quarentena por duas semanas. Enquanto as categorias "mais frágeis" terão que ficar em casa por 12 semanas, com ou sem sintomas, ou seja, todas as pessoas com mais de setenta anos, adultos com menos de setenta anos com patologias graves e, por fim, mulheres grávidas.

No relatório, Ferguson e o Imperial College também são claros em outro ponto: "Existem duas estratégias para combater o coronavírus: mitigação ou supressão. A primeira visa simplesmente retardar sua propagação, reduzindo a pressão no sistema público e protegendo os mais fracos. A segunda, a supressão, visa, ao contrário, inverter a tendência do contágio, reduzir casos e manter essas medidas em prazo indefinido". 

Segundo o Imperial College, esse segundo cenário é o que deve ser adotado agora, pois reduziria as mortes ao número ainda trágico de "milhares" ou "dezenas de milhares de pessoas".

No entanto, mesmo essa abordagem teria um custo altíssimo em outros termos, sociais e de saúde inclusive mental da população, enquanto na China e na Coreia do Sul foram aplicadas rapidamente, e aqui não. Portanto, agora, essas medidas para funcionar terão que ser implementadas por muitos meses, segundo Ferguson, "talvez até que uma vacina seja encontrada". 

Embora elas possam ser afrouxadas nos meses de verão de julho e agosto, sempre lembrando que o vírus poderia retornar.

Além da virada vinda de Johnson, como escreve o New York Times, também Trump e seus especialistas foram persuadidos por Ferguson nos últimos dias: o estudo publicado pelo Imperial College de fato chegou previamente na Casa Branca — como em Downing Street — durante o fim de semana passado e logo depois veio a virada do presidente estadunidense. 

Le Monde, por outro lado, relata que a pesquisa de Ferguson teve o efeito de um "eletrochoque" para Macron: no dia de sua apresentação no Élysée, o presidente francês anunciou o fechamento de escolas, cafés e restaurantes.

Com tradução de Luisa Rabolini para IHU-Online.


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Canadenses vão à Justiça para que escola distribua livros ateus

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Eleição de Haddad significará vitória contra religião, diz Chaui

Marilena Chaui criticou o apoio de Malafaia a Serra A seis dias das eleições do segundo turno, a filósofa e professora Marilena Chaui (foto), da USP, disse ontem (23) que a eleição em São Paulo do petista Fernando Haddad representará a vitória da “política contra a religião”. Na pesquisa mais recente do Datafolha sobre intenção de votos, divulgada no dia 19, Haddad estava com 49% contra 32% do tucano José Serra. Ao participar de um encontro de professores pró-Haddad, Chaui afirmou que o poder vem da política, e não da “escolha divina” de governantes. Ela criticou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus do Rio, a Serra. Malafaia tem feito campanha para o tucano pelo fato de o Haddad, quando esteve no Ministério da Educação, foi o mentor do frustrado programa escolar de combate à homofobia, o chamado kit gay. Na campanha do primeiro turno, Haddad criticou a intromissão de pastores na política-partidária, mas agora ele tem procurado obter o apoio dos religi...

Bento 16 associa união homossexual ao ateísmo

Papa passou a falar em "antropologia de fundo ateu" O papa Bento 16 (na caricatura) voltou, neste sábado (19), a criticar a união entre pessoas do mesmo sexo, e, desta vez, associou-a ao ateísmo. Ele disse que a teoria do gênero é “uma antropologia de fundo ateu”. Por essa teoria, a identidade sexual é uma construção da educação e meio ambiente, não sendo, portanto, determinada por diferenças genéticas. A referência do papa ao ateísmo soa forçada, porque muitos descrentes costumam afirmar que eles apenas não acreditam em divindades, não se podendo a priori se inferir nada mais deles além disso. Durante um encontro com católicos de diversos países, Bento 16 disse que os “cristãos devem dizer ‘não’ à teoria do gênero, e ‘sim’ à aliança entre homens e mulheres no casamento”. Afirmou que a Igreja defende a “dignidade e beleza do casamento” e não aceita “certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da bel...

Existe uma relação óbvia entre ateísmo e instrução

de Rodrigo César Dias   (foto)   a propósito de Arcebispo afirma que ateísmo é fenômeno que ameaça a fé cristã Rodrigo César Dias Acho que a explicação para a decadência da fé é relativamente simples: os dois pilares da religião até hoje, a ignorância e a proteção do Estado, estão sendo paulatinamente solapados. Sem querer dizer que todos os religiosos são estúpidos, o que não é o caso, é possível afirmar que existe uma relação óbvia entre instrução e ateísmo. A quantidade de ateus dentro de uma universidade, especialmente naqueles departamentos que lidam mais de perto com a questão da existência de Deus, como física, biologia, filosofia etc., é muito maior do que entre a população em geral. Talvez não existam mais do que 5% de ateus na população total de um país, mas no departamento daqueles cursos você encontrará uma porcentagem muito maior do que isso. E, como esse mundo de hoje é caracterizado pelo acesso à informação, como há cada vez mais gente escolarizada e dipl...

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação...

Médico acusado de abuso passa seu primeiro aniversário na prisão

Roger Abdelmassih (reprodução acima), médico acusado de violentar pelo menos 56 pacientes, completou hoje (3) 66 anos de idade na cela 101 do pavilhão 2 da Penitenciária de Tremembé (SP). Foi o seu primeiro aniversário no cárcere. Filho de libaneses, ele nasceu em 1943 em São João da Boa Vista, cidade paulista hoje com 84 mil habitantes que fica a 223 km da capital. Até ser preso preventivamente no dia 17 de agosto, o especialista em reprodução humana assistida tinha prestígio entre os ricos e famosos, como Roberto Carlos, Hebe Camargo, Pelé e Gugu, que compareciam a eventos promovidos por ele. Neste sábado, a companhia de Abdelmassih não é tão rica nem famosa e, agora como o próprio médico, não passaria em um teste de popularidade. Ele convive em sua cela com um acusado de tráfico de drogas, um ex-delegado, um ex-agente da Polícia Federal e um ex-investigador da Polícia Civil. Em 15 metros quadrados, os quatros dispõem de três beliches, um vaso sanitário, uma pia, um ch...

Roger Abdelmassih agora é também acusado de erro médico

Mais uma ex-paciente do especialista em fertilização in vitro Roger Abdelmassih (foto), 65, acusa-o de abuso sexual. Desta vez, o MP (Ministério Público) do Estado de São Paulo abriu nova investigação porque a denúncia inclui um suposto erro médico. A estilista e escritora Vanúzia Leite Lopes disse à CBN que em 20 de agosto de 1993 teve de ser internada às pressas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com infecção no sistema reprodutivo. Uma semana antes Vanúzia tinha sido submetida a uma implantação de embrião na clínica de Abdelmassih, embora o médico tenha constatado na ocasião que ela estava com cisto ovariano com indício de infecção. Esse teria sido o erro dele. O implante não poderia ocorrer naquelas circunstâncias. A infecção agravou-se após o implante porque o médico teria abusado sexualmente em várias posições de Vanúzia, que estava com o organismo debilitado. Ela disse que percebeu o abuso ao acordar da sedação. Um dos advogados do médico nega ter havido violê...