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Em 2022, católicos deixarão de ser a maioria dos brasileiros

por José Eustáquio Diniz Alves
para EcoDebate 

O Brasil é o maior país católico do mundo e possui mais de 100 milhões de habitantes que se auto declaram católicos (praticantes ou não praticantes). Em termos percentuais, os católicos representavam mais de 90% da população em meados do século XX. Mas este quadro veio mudando rapidamente nas últimas décadas e há 4 tendências claras:

1. As filiações católicas vêm caindo em termos relativos durante todas as décadas do século XX, mas o declínio se acentuou entre 1991 e 2010 (queda de 1% ao ano), sendo que houve declínio absoluto entre 2000 e 2010;

2. As filiações evangélicas crescem de forma consistente e com aceleração nas últimas décadas, mas o crescimento é abaixo do percentual de perda católica (também houve diversificação das denominações e aumento dos evangélicos não institucionalizados);

3. Há também crescimento do percentual das religiões não cristãs;

4. Por fim, nota-se um aumento absoluto e relativo do número de pessoas que se autodeclaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos);

Estas 4 tendências podem ser resumidas em duas grandes linhas:

1. Mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos;

2. Crescimento da pluralidade religiosa, com queda no percentual de filiações cristãs (católicas + evangélicas) e aumento das outras religiões e dos sem religião.

A Igreja Católica esteve presente no Brasil deste o início do projeto colonial português. A primeira missa foi rezada no domingo, dia 26 de abril de 1500, quatro dias após o desembarque da frota de Pedro Álvares Cabral (que era um católico fervoroso). 

A igreja participou do projeto de colonização e cresceu muito se fortalecendo junto às populações rurais, com baixa mobilidade social e com pouco dinamismo.

Contudo, com o processo de desenvolvimento e de urbanização houve um desenraizamento da população rural brasileira que migrou para as periferias dos centros urbanos e não encontrou apoio e presença da Igreja Católica. A falta de padres e o clericalismo afastou a Igreja Católica das áreas de expansão demográfica. 

O conservadorismo, o antimodernismo, a centralização do poder e a rigidez da hierarquia católica dificultaram a expansão da igreja nas áreas mais dinâmicas do país, acelerando o processo de desafeição ao catolicismo. A ética católica nunca se deu muito bem com o capitalismo (como mostrou Max Weber). Os escândalos de pedofilia agravam a situação.

Já os evangélicos – que dão ênfase na experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo – conseguem atingir um grande público através da “Cura divina” e da “teologia da prosperidade”. Eles possuem grande descentralização e autonomia, rápida formação de pastores, cultos dinâmicos e alegres, abertura de templos pequenos perto das comunidades, fazem uso de músicas e outras formas de atração de fiéis, etc.

Um marco do crescimento evangélico no Brasil é o uso de diversas mídias (jornais, rádios, televisão, internet, WhatsApp, etc.) e a presença atuante na política (inclusive na Frente Parlamentar Evangélica). Há uma retroalimentação entre números de fiéis e representação evangélica. Nas pesquisas de opinião, as igrejas são consideradas mais confiáveis do que os partidos.

O deputado federal mais votado da história do Brasil (Eduardo Bolsonaro), com quase 2 milhões de votos é evangélico, assim com a deputada federal mais votada da história (Joice Hasselmann), com 1.078.666 votos. 

A deputada estadual mais votada de todos os tempos (vencendo inclusive os deputados federais mais votados) é a advogada “pró-vida” (que é de família espírita e diz frequentar a igreja católica e os cultos evangélicos), Janaína Paschoal, com 2.060.786 votos. No conjunto, o voto evangélico foi decisivo na eleição presidencial de 2018.

O sociólogo Max Weber é famoso por evidenciar que a ética protestante se encaixa melhor com o espírito do capitalismo. Pesquisa recente da Fundação Perseu Abramo sobre o imaginário social dos moradores da periferia de São Paulo retratou como o avanço do consumo, do neopentecostalismo e do empreendedorismo popular estão correlacionados com uma intensa presença dos valores liberais do “faça você mesmo”, do individualismo, da competitividade e da eficiência. Ou seja, boa parte da população pobre das periferias não compartilha o ideal estatista receitado por grande parte da esquerda brasileira.

Em outubro de 2018, a Frente Parlamentar Evangélica (FPE) lançou o manifesto “O Brasil para os Brasileiros”, com uma detalhada agenda econômica e uma clara pauta conservadora de costumes, além de ter oficializado apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL). Em novembro, a FPE influenciou na composição ministerial do novo governo com uma pauta de combate ao chamado “marxismo cultural”.

Desta forma, devido ao ativismo evangélico, à passividade católica e à maior interação entre igreja evangélica e política, a correlação de forças entre os grupos religiosos está mudando e a transição religiosa tem se acelerado no Brasil.

Infelizmente, o IBGE não fez nenhuma pesquisa levando em consideração a variável religião na atual década. Entretanto, pesquisas nacionais (Datafolha) e internacionais (PEW, Gallup, Latinobarômetro, etc.), mesmo não sendo totalmente comparáveis com os dados históricos do IBGE, indicam que a transição está se acelerando.

Em artigo acadêmico anterior (ALVES et. al, 2017) chegamos a prever que as filiações católicas ficariam abaixo de 50% até 2030 e seriam ultrapassados pelos evangélicosaté 2040. Contudo, pelos motivos apresentados acima, estas tendências devem ser antecipadas em alguns anos.

No gráfico [abaixo], apresento uma atualização da projeção com base em um declínio das filiações católicas em torno de 1,2% ao ano e um crescimento de 0,8% ao ano das filiações evangélicas. Estes dados são compatíveis com os resultados das eleições gerais de 2018 que mostraram uma maior presença evangélica em todo o país.



Nas novas projeções, a presença católica na população chegaria a 49,9% em 2022 e a 38,6% em 2032, enquanto a presença evangélica seria de 31,8% e 39,8% nas mesmas datas (conforme mostra o gráfico). Ou seja, no ritmo atual da transição religiosa, não é improvável que os católicos fiquem com menos de 50% das filiações nacionais em 2022 (nos 200 anos da Independência do Brasil) e que sejam ultrapassados pelos evangélicos até 2032.

Os mapas apresentados a seguir, publicados no site Nexo, mostram como se deu a expansão evangélica nos municípios brasileiros entre 1991 e 2000. 

A expansão mais significativa (em volume de pessoas) ocorreu a partir das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória. Daí, o avanço para o interior atinge inclusive o Paraná e Minas Gerais. Mas os evangélicos crescem também em todo o litoral desde Florianópolis até Natal.

 No Rio Grande do Sul a presença é grande desde a chegada dos migrantes evangélicos tradicionais (Luteranos, Calvinistas, etc.). O crescimento também ocorre na região Centro-Oeste e, principalmente, na região Norte (mas nesta região o crescimento é percentual, pois o volume populacional é pequeno). A distribuição espacial da transição religiosa no Brasil pode ser vista no artigo acadêmico citado anteriormente (ALVES et. al, 2017).

Indubitavelmente, a mudança de hegemonia entre os dois grandes grupos religiosos do Brasil está em curso. Parece que a mudança na correlação de forças é irreversível. A dúvida é sobre a data exata em que ocorrerá a ultrapassagem e até onde irá a queda das filiações católicas.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.



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