Pular para o conteúdo principal

Pastor critica projeto para distribuir kit bíblico às escolas

Evangélico diz que o Estado é laico, não religioso

por Gilmaci Santos
pastor e deputado estadual pelo PRB

Um projeto de lei polêmico ainda está em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. De autoria do deputado Rodrigo Moraes (PSC), o projeto cria o programa de distribuição de um "kit bíblico educativo" no ensino básico e fundamental da rede estadual.

Após pedir vistas e registrar abstenção na votação do projeto na Comissão de Educação e Cultura, recebi apoio e críticas por minha decisão. Por que um evangélico não concorda com tal projeto?

A explicação é simples: penso que o Legislativo não deve interferir no conteúdo pedagógico das escolas, como quer o projeto, pois no artigo 2º a propositura afirma que o programa distribuiria gratuitamente "um kit bíblico educativo contendo histórias escritas na Bíblia, de caráter totalmente pedagógico".

Mesmo que os cristãos sejam maioria no país, não cabe a nós decidir qual material deverá ser proposto no ambiente escolar. O programa, segundo o próprio projeto, também será custeado pelo Estado, uma vez que no artigo 5º está escrito que "as despesas resultantes da execução desta lei correrão à conta das dotações orçamentárias já consignadas no orçamento vigente, suplementadas se necessário".

Não sou contrário a evangelização de jovens, mesmo porque também sou evangélico, mas não é aceitável inserir material religioso no ambiente de ensino, visto que fazê-lo abriria precedentes para que as escolas inserissem kits com o Corão, O Evangelho Segundo o Espiritismo ou a Torá.

Cristãos não devem
transferir evangelização
 para as escolas
Imaginem a confusão de doutrinas religiosas se abríssemos essa exceção. Como disse outras vezes, religião é algo que deve ser ensinada pelos pais, e não na escola, já que os professores são educadores, e não religiosos.

Fui eleito por evangélicos e sei que devo representar essas pessoas, mas faço isso ao combater todo o tipo de cerceamento da liberdade religiosa. Como deputado não posso legislar apenas segundo as minhas convicções religiosas, pois ao legislador não é dado o direito de fazer de seu credo, lei.

Vendo agora a questão do ponto de vista religioso, não creio que nós, cristãos, devemos transferir a nossa obrigação de evangelizar para a escola. Quando Jesus Cristo disse "ide a todo mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura" (Marcos 16, 15), disse isso aos apóstolos, homens que decidiram seguir e pregar o evangelho de Cristo.

Entendo a boa vontade do parlamentar que propôs o projeto e seu respeito para com o livro sagrado de nós cristãos, mas projetos como esse transferem ao Estado a tutela da educação religiosa, quando esta deveria ser dos pais.

Na justificativa o autor afirma também que o projeto de lei pretende "amenizar os conflitos nos lares, nas escolas, nas ruas e na sociedade de um modo geral", mas não podemos esquecer que a religião sozinha não impede a violência.

Essa ideia, na verdade, é equivocada, pois grande parte das guerras mundo afora teve origem em conflitos religiosos. Na escola, a violência deve ser combatida por meio do ensino pedagógico.

O Estado deve ser mantido laico, como ordena a Constituição no seu artigo 5º. Isso evita que se privilegie uma ou outra religião. Se o Estado é laico, a escola pública, que faz parte do Estado, também deve ser.

Mesmo que o projeto não trate de disciplina obrigatória, organizar a grade para inserir essas atividades alternativas exigiria a preparação de professores e não respeitaria a diversidade de culto. A escola, que já está longe de cumprir a sua obrigação básica, estaria preparada para trabalhar a questão religiosa?

Esse artigo foi publicado originalmente na Folha de S.Paulo.







Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Em vídeo, Malafaia pede voto para Serra e critica Universal e Lula

Malafaia disse que Lula está fazendo papel de "cabo eleitoral ridículo" A seis dias das eleições, o pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, gravou um vídeo de 8 minutos [ver abaixo] pedindo votos para o candidato à prefeitura de São Paulo José Serra (PSDB) e criticou a Igreja Universal e o ex-presidente José Inácio Lula da Silva. Malafaia começou criticando o preconceito que, segundo ele, existe contra pastor que emite opinião sobre política, o mesmo não ocorrendo com outros cidadãos, como operários, sindicalistas, médicos e filósofos. O que não pode, afirmou, é a Igreja, como instituição, se posicionar politicamente. “A Igreja é de Jesus.” Ele falou que tinha de se manifestar agora porque quem for para o segundo turno, se José Serra ou se Fernando Haddad, é quase certeza que será eleito, porque Celso Russomanno está caindo nas pesquisas por causa do apoio que tem recebido da Igreja Universal. Afirmou que apoia Serra na expectativa de...

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Malafaia diz que vai ‘arrebentar’ candidatura do petista

Malafaia afirmou que não vai dar moleza para o candidato do PT O pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do Rio, afirmou que vai se envolver na campanha do segundo turno das eleições municipais de São Paulo com o propósito de “arrebentar” a candidatura do petista Fernando Haddad por ter sido o mentor do chamado “kit gay” quando foi titular do Ministério da Educação. "Haddad já está marcado pelos evangélicos como o candidato do 'kit gay'”, disse. “Não vamos dar moleza para ele." Ao final do primeiro turno, quando Haddad começou a subir nas pesquisas de intenção de votos, o pastor gravou um vídeo manifestando apoio ao tucano José Serra. Nos próximos dias, Malafaia divulgará outro vídeo com ataques direitos ao petista. No Twitter, ele pede voto para “Serra 45” contra “Haddad, autor do kit gay”. O pastor teve encontro ontem em São Paulo com Serra, que agradeceu o apoio. Também participou do encontro o pastor Jabes de Alencar...

Eleição de Haddad significará vitória contra religião, diz Chaui

Marilena Chaui criticou o apoio de Malafaia a Serra A seis dias das eleições do segundo turno, a filósofa e professora Marilena Chaui (foto), da USP, disse ontem (23) que a eleição em São Paulo do petista Fernando Haddad representará a vitória da “política contra a religião”. Na pesquisa mais recente do Datafolha sobre intenção de votos, divulgada no dia 19, Haddad estava com 49% contra 32% do tucano José Serra. Ao participar de um encontro de professores pró-Haddad, Chaui afirmou que o poder vem da política, e não da “escolha divina” de governantes. Ela criticou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus do Rio, a Serra. Malafaia tem feito campanha para o tucano pelo fato de o Haddad, quando esteve no Ministério da Educação, foi o mentor do frustrado programa escolar de combate à homofobia, o chamado kit gay. Na campanha do primeiro turno, Haddad criticou a intromissão de pastores na política-partidária, mas agora ele tem procurado obter o apoio dos religi...

Orkut tem viciados em profiles de gente morta

Uma das comunidades do Orkut que mais desperta interesse é a PGM ( Profile de Gente Morta). Neste momento em que escrevo, ela está com mais de 49 mil participantes e uma infinidade de tópicos. Cada tópico contém o endereço do profile (perfil) no Orkut de uma pessoa morta e, se possível, o motivo da morte. Apesar do elevado número de participantes, os mais ativos não passam de uma centena, como, aliás, ocorre com a maior parte das grandes comunidades do Orkut. Há uma turma que abastece a PGM de informações a partir de notícias do jornal. E há quem registre na comunidade a morte de parentes, amigos e conhecidos. Exemplo de um tópico: "[de] Giovanna † Moisés † Assassinato Ano passado fizemos faculdade juntos, e hoje ao ler o jornal descubri (sic) que ele foi assassinado pois tentou reagir ao assalto na loja em que era gerente. Tinha 22 anos...” Seguem os endereços do profile do Moisés e da namorada dele. Quando o tópico não tem o motivo da morte, há sempre alguém que ...