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Papa é comunista como Cristo, afirma ex-combatente cubano

por Fernando Cibeira
para Página/12

Figura de Cristo
foi associada à
de Che Guevara
Estamos na Praça da Revolução junto com o ex-combatente Monteagudo Arteaga enquanto Francisco celebra sua primeira missa em Cuba para milhares de fiéis em uma manhã agradável, porque o sol é menos intenso que nos dias anteriores, quando a temperatura chegava aos 36 graus.

São 8h54 quando Bergoglio começou o ofício religioso, antecipando-se em seis minutos ao horário fixado pelo programa oficial, repetindo a pontualidade jesuítica do sábado, quando o avião que o trouxe de Roma aterrissou 10 minutos antes do previsto. E terminou a missa antes das 11h, pedindo aos cubanos para que “rezem por mim”, também mais cedo do que o esperado.

Talvez tenha encurtado a missa para poder ajustar uma agenda extenuante que teve como ponto alto o encontro com Fidel Castro. “O papa e o comandante Castro se entenderam bem, falando em espanhol”, disse o porta-voz vaticano Federico Lombardi diante de um enxame de repórteres que o rodeavam.

Voltemos à Revolução. Melhor dizendo, à Praça da Revolução, onde estávamos com o capitão aposentado Monteagudo Arteaga, esse homem que, com seus quase 80 anos, ainda se apresenta magro como um junco, contando com gestos grandes seus anos junto a Guevara. 

“Depois de estar com o Che em 1958, voltaram a me chamar para que participasse com ele de uma missão secreta no Congo. Me escolheram porque eu era militar, era jovem e era negro e podia entrar disfarçado na África. Aceitei ir ao Congo como voluntário. A gente não sabia se voltaria de lá. Ninguém da minha família soube que fui para lá; guardei esse segredo durante 20 anos”. 

O relato do capitão, às vezes, fica inaudível devido aos cantos dos fiéis.

“O Che nunca nos falou de religião, eu não tenho religião e estou vendo este papa fazendo uma missa sob o olhar do Che. Eu penso que o Che está se identificando com este papa. Para mim este papa é um comunista, porque é como Cristo. E tu sabes que Cristo foi o primeiro comunista que pisou nesta Terra”.

A praça está repleta de cubanos e fiéis vindos de outros países, a maioria de fala espanhola com sotaque centro-americano e do Caribe. E alguns argentinos, muito poucos. No grupo que acompanha o ex-guerrilheiro Monteagudo Arteaga está o argentino Oscar Rubén Verón, capitão fluvial.

“Pertenço ao Comitê Argentino pela Liberdade dos Cinco cubanos presos 17 anos nos Estados Unidos e que foram libertados em dezembro. Estamos nesta praça mágica porque aqui se reuniram o Che e o papa. Estamos festejando o grande trabalho missionário deste papa”.

A multidão começa a se espalhar ordenadamente, são milhares, mas possivelmente não haja meio milhão de pessoas como foi noticiado em alguns meios internacionais.

Uma parte do público acompanhava os rituais da missa, mas outra parte os observava com respeito, possivelmente por pertencer a outras religiões ou a nenhuma: menos de 30% dos 11,5 milhões de cubanos são católicos. 

A homilia de Francisco não tocou assuntos políticos – o bloqueio norte-americano, nem a recomposição de relações entre Cuba e Estados Unidos, para o que ele contribuiu com seus bons ofícios diplomáticos. Jorge Mario Bergoglio encerrou, no domingo, sua visita de dois dias a Havana, de onde viajou para Holguín.

“Gostamos de ouvir o papa pelas coisas que ele diz, que são universais”, comentam duas senhoras quer se apresentam como “não católicas”. Estão junto à Ponchera los Paragüitas na Avenida Salvador Allende, a cinco quadras da Praça da Revolução e a uns metros de um cartaz de mais de 10 metros com o lema “Bloqueio, o genocídio mais longo da história”, que pode ser visto em outros pontos de Havana.

Com tradução de André Langer para IHU Online.






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