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Sociedade silencia o impacto do suicídio nas pessoas

por Neury José Botega para Folha

Diariamente, 25 pessoas põem fim a suas vidas no Brasil. Foram 9.090 suicídios oficialmente registrados em 2008. Para cada óbito, no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido foram profundamente afetadas. O impacto do suicídio na vida das pessoas e da nação é silenciado pela sociedade.

Nos meios de comunicação há orientação, discutível quando adotada em termos absolutos, de não se noticiar suicídio. Silencioso, ele resta à margem das tragédias nacionais. Mas é possível evitar uma parcela dessas mortes.

Numa escala mundial, nosso coeficiente de mortalidade por suicídio é relativamente baixo: 5,4 mortes em cada 100 mil habitantes, ao longo de um ano. Esse índice cresceu 30% nos últimos 25 anos.

O coeficiente é uma média nacional e esconde importantes contrastes. Em algumas cidades, os índices equiparam-se aos de países do Leste Europeu. Ademais, como somos um país populoso, atingimos o décimo lugar mundial em número total de suicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No espectro do comportamento autoagressivo, o suicídio é a ponta de um iceberg. Estima-se que o número de tentativas supere o de mortes em pelo menos dez vezes. Um inquérito populacional elaborado pela OMS e levado a cabo por pesquisadores da Unicamp apurou que, em cada cem habitantes da cidade de Campinas, 17 já haviam pensado seriamente em pôr fim à vida e três efetivamente tentaram o suicídio.

A causa de um suicídio é invariavelmente mais complexa do que um acontecimento recente que salta à vista e que é tomado como explicação rápida para o ocorrido.

A perda do emprego ou o rompimento de um relacionamento amoroso geralmente são os fatores precipitantes. Na maioria das vezes, pessoas que põem fim à vida sofrem de um transtorno mental subjacente (fator predisponente) que aumenta a vulnerabilidade para o suicídio. Depressão e dependência de álcool são os mais frequentes.

Recentemente, nossa sociedade vem-se abrindo para discutir o tema-tabu. O suicídio passou a ser enfrentado na arena da saúde pública. Um exemplo disso é a parceria firmada entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e a Rede Globo, a partir da qual inserções de 30 segundos entram na programação da televisão.

Há, hoje, considerável informação a respeito do que, em vários países, deu certo em prevenção.

Exemplo recente foi um estudo realizado em serviços médicos de vários países, entre os quais o Hospital de Clínicas da Unicamp, que acompanhou, desde o atendimento em um pronto-socorro, 1.867 pessoas que tentaram o suicídio.

Metade delas, após sorteio, foi acompanhada por meio de telefonemas periódicos. Após 18 meses, o número de suicídios nesse grupo foi, comparativamente, dez vezes menor. Com os telefonemas, a tentativa de suicídio deixou, assim, de ser um pedaço de história a ser esquecido ou silenciado.

Em agosto de 2006, o Ministério da Saúde publicou as diretrizes que orientariam umPlano Nacional de Prevenção do Suicídio. O plano ainda não saiu. É preciso transformar as diretrizes em ações assistenciais baseadas em evidências científicas, as quais, por sua vez, poderão orientar novas políticas de prevenção e estratégias de atendimento.

Na área da saúde, isso constitui um desejado círculo virtuoso entre política, assistência e pesquisa, que não é simples de ser alcançado.

Neury José Botega é professor titular do Departamento de Psicologia Médica e psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), representante nacional na Associação Internacional de Prevenção do Suicídio e coordenador da Comissão de Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.

> ‘Tenho vontade de me matar, mas seria cruel para com minha família’
agosto de 2010


O CVV É UM SERVIÇO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.
TEL: 141. Atende também por e-mail e on-line

Comentários

Anônimo disse…
Olha,na minha opnião,quem tem sã consciencia do que faz,pode sim por fim a sua vida,por que não?
Vai chegar um ponto que você será obrigado a aguentar a sua vida?o que isso?o estado vai interferir nisso também?num pode isso,num pode aquilo,e ...morrer também não.
A favor da eutanasia,que consciente acredito ser uma forma de suicidio,desde que acompanhada por psicologos,psiquiatras e constatando- se que a pessoa não sofre de qualquer transtorno,como ocorre em algumas clinicas de suicidio assistido,em que a pessoa passa por 2 anos de acompanhamento, a pessoa deve sim poder tirar a propria vida,o que deve diferir é a pessoa com a patologia; da pessoa que faz em sã consciencia,como diria locke,a primeira propriedade privada é a vida,então o ser pode fazer dela o que bem entender...
Ilda Schoeder disse…
Todos os dados no Brasil, são manipulados.Existe um maravilhoso País,onde tudo está resolvido nas milionárias campanhas publicitárias do governo e os dados fazem parte desta mentira:o número de homicídios foi reduzido pela metade, escola para todos,até um bêbado presidente dizendo que o problema da saúde está resolvido.O número de suicidas no Brasil é máscarado só aquí em Curitiba um policial me informou que acontece uma média de de 12 por dia:enforcados com cordas,cinta,fios diversos, roupas, lençóis;com armas,com venenos,com remédios, com gás de aquecimento.
Só em minha cidade (que tem pouco mais de 50 mil habitantes) teve um ano em que aconteceram quatro suicídios de grande visibilidade (pulando do alto de um morro visível do centro da cidade). Fora os que não ficaram famosos. Essas estatísticas estão muito, mas MUITO subfaturadas.
Anônimo disse…
Quem põe fim a vida, Perdeu para as lutas da vida porque não buscou à Deus. Não dá para falar em vida sem falar em Deus. Está Escrito:" Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, enquanto está perto" Fernando
Pedro Lobo disse…
Como o Fernandinho é simplório! Reduziu a complexa questão do suicídio à falta de Deus no coração.

Será que ele já leu um pouco de Albert Camus?

Não, claro que não. O Fernadinho só leu a Bíblia, Ele é estúpido.
Anônimo disse…
Pedro lobo. O nome já diz "LOBO": já notou também que as palavras que uso são sempre para ajudar alguém. Não posso dizer o mesmo das tuas palavras. Você é tão "sábio" já leu até Albert Camus. Nossaaaaaaaaa, rs!rs!rs!
P. Lobo disse…
Demorou,Fernandinho.

Eu achava que você fosse dar uma conotação negativa ao meu nome bem antes.

Esse tipo de apelação só poderia partir de um estúpido retardado.
Anônimo disse…
Chega de meninice, não sou menino na fé. Creia voce ou não JESUS é Senhor.
ARLITON E RENATA disse…
O suicídio não tem nada a ver com religião, tem a ver com transtornos que a nossa sociedade interpreta como frescura e com muito preconceito. Por isso também acho que os números são mascarados.
Anônimo disse…
Pefeito
Anônimo disse…
O problema do suicídio é que o suicida, obviamente, já buscou soluções e nesta etapa ainda não conseguiu fugir ao problema. Nunca direi que uma pessoa não tenha esse direito, mas uma boa terapia que leve o sujeito a manipular contingências relevantes a sua vida pode, posteriormente, mudar de ideia e poupar sofrimento e prejuízos aos próximos e a si mesmo, claro.
Anônimo disse…
Deus é uma possibilidade, porém é um grande equívoco dizer que a única.
Anônimo disse…
Adorei o comentário, exceto a ultima palavra. Devemos tomar um cuidado na relação com o outro para não faltar com respeito, afinal, somos a classe menos respeitada no Brasil e não faz muito sentido agir da mesma forma escrota com eles. Lembrando que se matam em nome de um deus esta tudo certo, se fazemos uma piadinha de mal gosto, somos amorais, sem sentimentos, psicopatas e por aí vai...
Anônimo disse…
1- Correto, o suicídio é apenas o fim de uma cadeira de negligências para com o outro.

2- Até porque cristãos não cometem suicídio né... ops!
Anônimo disse…
Lógica não é o forte, há quase sempre de se esperar um discurso falacioso. O que se pode fazer é apenas ignorar, responder apenas reforça esse tipo de comportamento.

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